terça-feira, 21 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe


Não vou fazer parte da redundância de críticos e dizer que este Harry Potter “é o mais sombrio até agora”. Lógico que ele é! Cada vez a tendência dos filmes do bruxo de Hogwarts é da trama ficar mais sombria, com a história seguindo para o final e o último confronto com Lorde Voldemort cada vez mais perto. Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009) não é o melhor da série, tem dificuldade em amarrar os elementos da trama principal e perde força ao suavizar momentos marcantes dessa sexta aventura.


Na história, com a confirmação da volta de Voldemort (Ralph Fiennes), o mundo dos bruxos e dos trouxas está ameaçado. Alvo Dumbledore (Michael Gambon) fica mais próximo a Harry Potter (Daniel Radcliffe) começando a prepará-lo para o confronto final com o Lorde das Trevas. O diretor de Hogwarts contrata os serviços de um velho amigo, Horácio Slughorn (Jim Broadbent), como novo professor de poções que possui informações valiosas sobre o passado de Tom Riddle e que podem levar a vitória contra o bruxo do mal. Enquanto isso, Draco Malfoy (Tom Felton) está numa missão secreta para os comensais da morte que poderá acarretar em um duro golpe nas forças do bem.


Adaptar uma obra literária para o cinema é sempre uma dificuldade, conseguir decidir o que é importante para a história. O trabalho ainda fica pior se é uma obra que tem milhões de fãs que acham que todo mínimo detalhe ou futilidade é importante para a trama. Nesse sexto filme temos a impressão que são jogadas cenas retiradas de capítulos, sem ter um roteiro bem amarrado que daria liga a todos os acontecimentos. A história dá mais atenção ao desenvolvimento do personagem Horácio Slughorn, as tentativas de completar a missão por Draco Malfoy e ao relacionamento entre Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson). Deixa de lado a conquista de Snape ao cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, não constrói algo mais verossímil para acreditarmos no relacionamento entre Harry e Gina, além de deixar apenas uma participação especial para a família Weasley, Tonks (Natalia Tena) e Lupin (David Thewlis). Mas realmente é difícil agradar a todos.


Por parte da interpretação não há muitos pontos negativos. Da mesma forma que fazer uma seleção de milhares de garotas pode dar uma excelente Luna Lovegood (Evanna Lynch), mas também pode entregar uma interpretação esquisita por parte da nova personagem Lilá Brown (Jessie Cave). Quanto ao trio principal, Daniel Radcliffe está melhor e não repuxa tanto os lábios quanto antes, Rupert Grint amadureceu sua veia cômica e Emma Watson continua com sua simpatia, mas seu choro permanece forçado. A adição ao elenco com Jim Broadbent foi feliz, o ator parece confortável com o papel e o mundo bruxo. Enquanto Michael Gambon atingiu a presença serena que o personagem Alvo Dumbledore tanto precisava desde Richard Harris.



O clima sombrio da história foi retratado com fidelidade na fotografia do longa. O ponto fraco, além do roteiro, é a direção de David Yates que fez um bom trabalho em Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007), mas neste novo filme em alguns pontos cruciais a direção foi decepcionante, acontecimentos importantes perderam sua força pois o diretor não quis acrescentar mais drama a cena. Uma das seqüências foi a tão esperada cena da fonte negra, onde Harry faz Dumbledore beber uma poção das trevas, para se ter uma idéia o quão forte é a cena no livro, teve pessoas ao meu lado no cinema que estavam chorando antes mesmo de chegar na parte que acontece o ato. E uma outra seqüência que foi deixada bastante fria, foi a morte de Dumbledore. Um momento tão esperado do sexto livro é dirigido de forma fria e rápida.


Harry Potter e o Enigma do Príncipe tem suas qualidades, como mostrar o mundo de Harry Potter na tela, do cinema mas demonstra o perigo de se tentar adaptar uma obra rica em detalhes e informações em apenas um filme. O que faz ser uma boa decisão em dividir o filme do sétimo livro em dois.



Nota: 7,5



Rafael Sanzio

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Mulher Invisível


O que fazer quando levamos um pé na bunda da namorada? Se a amamos muito, vamos chorar muito e depois dar a volta por cima. No caso do filme A Mulher Invisível (2009) vale também criar uma mulher gostosa que tem os mesmos gostos que você, não reclame quando você chega bêbado ou fica com outras mulheres. Tudo muito bom, não?


Pedro (Selton Mello) acredita no conceito de casamento, enquanto que Carlos (Vladimir Brichta) não aceita a possibilidade que um homem viva com a mesma mulher por toda vida. O perdidamente apaixonado Pedro recebe um duro golpe quando é abandonado por sua mulher, Marina (Maria Luísa Mendonça), que está grávida de outro homem. O que se segue é um longo período de depressão na vida de Pedro, que passa por todos os estágios de uma pessoa com coração partido. Até que um dia, uma linda mulher (Luana Piovani) bate a sua porta pedindo por uma xícara de açúcar. Pedro está amando novamente e descobre que essa é a mulher ideal. O único problema é que ela não existe.


A trama desenvolve situações engraçadas envolvendo esse tipo de problemática, o famoso beijo de Selton Mello é hilariante. O interessante é que o filme não fica só nisso, quando chega na metade da história, ela toma um novo fôlego e rumo graças aos personagens coadjuvantes. O problema que o roteiro não possui uma temática profunda, há menção sobre ter amor-próprio, mas é tão superficial e ofuscado pelas cenas de comédia ou pela própria Luana Piovani que passa despercebido. É um filme de entretenimento.



Filme este que brilha com a atuação de Selton Mello, sua veia humorística continua pulsando energicamente. O time de coadjuvantes também se destaca, com Vladimir Brichta e Fernanda Torres como a irmã de Vitória (Maria Manoella) verdadeira vizinha de Pedro e que escuta as alegrias e desilusões amorosas do vizinho através da parede fina entre os apartamentos. E ainda temos Luana Piovani... que cria o paradoxo por dificilmente ser invisível com um corpo daqueles.


A Mulher Invisível é uma comédia romântica sem pretensões, que se apóia na atuação de Selton Mello que consegue garantir ao filme momentos divertidos. O ator está em ótima fase, com dois filmes em cartaz, com o filme Jean Charles (2009). Após Meu Nome não é Johnny (2008) o ator Selton Mello virou o queridinho dos produtores e sinônimo de boas bilheterias e de bons filmes. A Mulher Invisível agrada e é um ótimo passatempo.



Nota: 7,5


Rafael Sanzio

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Era do Gelo 3


É muito bom saber que uma produção tão divertida e de ótima qualidade está nas mãos de um brasileiro. Carlos Saldanha volta a dirigir mais esse capítulo da série, o anterior foi A Era do Gelo 2 (2006), mantendo o equilíbrio dos dois primeiros e criando um sucesso de bilheteria. Animações como Shrek e Madagascar não conseguiram manter a qualidade de seus filmes, mas a série A Era do Gelo é um show de diversão e bom gosto para toda a família.


A nova aventura começa com uma maior ainda, a formação de uma família! Os mamutes Manny (Diogo Vilela) e Ellie (Cláudia Jimenez) vão ter um filhote, o futuro pai eleva ainda mais seu grau de responsabilidade, enquanto que a vida em família faz com que o tigre dentes-de-sabre Diego (Márcio Garcia) comece a achar que está perdendo seus instintos de caçador. A preguiça Sid (Tadeu Mello), por sua vez, fica se sentindo cada vez mais solitário e procura formar uma nova família. O acaso o faz encontrar ovos de dinossauros e não dura muito até que Manny, Ellie, Diego e os gambás se juntem para uma jornada até um vale perdido dos dinossauros para salvar a preguiça de uma mamãe dinossauro furiosa.


Sobre a dublagem brasileira apenas pode-se estranhar um pouco a voz de Manny no início, Diogo Vilela usa um tom diferente dos outros dois filmes, mas com o decorrer da história ou ele volta ao normal ou nós nos acostumamos. Infelizmente a tecnologia 3-D não está disponível na minha cidade, mas são notáveis os momentos criados por Saldanha onde a utilização do 3-D é aproveitada ao máximo da diversão.


Outro ponto interessante da produção é a aquisição do novo personagem, a doninha Buck. Aos moldes do capitão do livro de Moby Dick (fica bem perceptível essa comparação na seqüência onde o personagem conta como conheceu a criatura que arrancou seu olho), Buck vive no vale perdido, obcecado por um grande dinossauro e ficou louco nesse período. Ele vira o guia do bando de Manny. Este novo personagem é cativante, possuindo características próprias que diferem dos demais personagens do grupo, extremamente heróico e louco. Além de ter um rosto parecido com de um gremlin. Quanto ao vilão da trama, podemos perceber a predileção de Saldanha por vilões sem qualquer personalidade aparente, é só ver o vilão do primeiro filme para o segundo que foram dois dinossauros aquáticos muito caladões, para esse terceiro que segue a mesma linha. Talvez uma manobra para escapar do típico “vilão falador” e se manter na boa e velha ação e não se preocupar em formar um caráter de qualidade para mais esse personagem.


Diferente de Madagascar 2 (2008), que se excedeu em criar sub-tramas demais e esqueceu de torná-las atraentes. A Era do Gelo 3 (2009) acerta na simplicidade e coerência, com a comodidade de Diego, a carência de Sid e como não poderia deixar de ser, a nova aventura de Scrat e como o assunto é família, nada mais correto em colocar na vida do esquilo uma companheira nas fórmulas de uma femme fatale. Mas como eu mencionei em outra crítica, Saldanha não tenta dar mais visualidade ao esquilo, deixa-o com sua simplicidade e só acrescentando aos poucos mais e mais história.


A Era do Gelo 3 mantém seu estilo, seu dinamismo e qualidade. Sendo a franquia de animação mais bem sucedida até aqui, não apenas em bilheteria mas em roteiro, dublagem e direção. Ponto para Carlos Saldanha e para todos nós, brasileiros e estrangeiros que curtem A Era do Gelo!



Nota: 9,5



Rafael Sanzio

sábado, 4 de julho de 2009

Crítica dos Clássicos: Laranja Mecânica



Após 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), Stanley Kubrick segue com a temática futurista em Laranja Mecânica (1971). O Filme, adaptado do romance de Anthony Burgess, chocou a sua época com a violência que apresenta em todas as formas, físicas, políticas e sociais de uma Inglaterra do futuro de 1995.

A história do filme é contada na visão de Alex (Malcom McDowell), líder de uma gangue de delinqüentes juvenis que praticam nas noites de Londres o que eles chamam de “ultraviolência”, isto é, noites regadas de espancamentos, roubos e estupros. A trama apresenta uma reviravolta quando o jovem líder mata uma de suas vítimas e logo em seguida é traído pelos membros de sua gangue ocasionando em sua prisão. No instituto penitenciário, o anti-herói torna-se voluntário de um experimento patrocinado pelo governo onde o indivíduo tem seus impulsos violentos controlados. Contudo, o tratamento que o “condicionará ao bem” demonstra ser tão violento quanto às delinqüências cometidas por Alex no começo do filme. Ao ser solto, percebemos que o jovem não consegue adaptar-se, pois fica indefeso diante das brutalidades que a sociedade comete contra ele.

Jorge Ghiorzi (on line) explica esses dois momentos do filme: “Laranja Mecânica expõe duas formas distintas de violência, cada qual com suas origens e conseqüências. Existe a violência do indivíduo, ancestral e intrínseca no ser humano quando não reprimida pela convivência social, e existe a violência do Estado, institucionalizada, amparada pela Lei e justificada pela manutenção do status quo e controle do coletivo. O filme de Kubrick trata destas duas formas dedicando a cada uma delas metade do filme”. É nessa segunda metade do filme que há uma clara crítica à hipocrisia social, pois a sociedade que taxa Alex como violento o recebe de volta com a mesma violência.

Graças a Laranja Mecânica, podemos fazer uma comparação desse abusivo tratamento de condicionamento humano com o poder utilizado hoje em dia pelas mídias de alguns países, sublimando doutrinas e tirando o livre arbítrio das pessoas.

A atuação de Malcom McDowell como Alex DeLarge é brilhante, separando bem as duas fases do personagem, antes e depois do tratamento. A fase final apresenta um cinismo e aparente recuperação que põe em xeque se é realmente verdadeira a reabilitação do jovem delinqüente. Mas analisando todo o decorrer da história podemos julgar que Alex continua o mesmo de sempre, apenas com seus impulsos violentos controlados pelo tratamento. Stanley Kubrick, que raramente fala sobre seus filmes, revelou que se não contasse com McDowell para o papel principal, não teria rodado nenhuma das cenas.

Quanto à trilha sonora, o diretor ousa e brinca com a música. Além da presença marcante da música eletrônica composta por Walter Carlos, o filme apresenta músicas clássicas que, na época, seriam difíceis de imaginá-las como cúmplices durante um ato de violência. Como Alex, fã de Beethoven e adorador da 9ª Sinfonia, que reclama (na seqüência onde ele está sobre tratamento) o fato de ser obrigado a escutar a 9º Sinfonia como trilha de barbaridades no filme que assiste. É o que o próprio Kubrick faz e o que o próprio jovem comete na seqüência no qual estupra a mulher do escritor Frank Alexander enquanto canta Singin’ in the Rain, do clássico Cantando na Chuva (1952) de Gene Kelly.

A combinação de direção de arte, figurino e fotografia constroem uma interessante Inglaterra futurista, mas que ainda possui certa influência dos anos 70. Destaque para seqüência onde a gangue está reunida no pub preferido deles, onde parecem estar posando para uma foto que representa a delinqüência fazendo planos para seus atos de “ultraviolência”.

Em relação à direção de Kubrick, é inegável o fato de ser um inovador do cinema e sempre ousado em suas temáticas. Na seqüência onde a mulher é morta por Alex com um pênis gigante, o diretor opta por uma animação para demonstrar o quanto o golpe foi violento. O jornalista Carlos Gerbase (on line) define o diretor: “Kubrick era, enfim, um rebelde. Fazia o filme que queria, do jeito que queria. Preferia não filmar a filmar o que não lhe agradava, Preferia ser chamado de imoral a ser chamado de omisso. Kubrick nunca fez um filme que não dissesse alguma coisa. Kubrick era um discurso, que às vezes até podia soar ambíguo, mas era sempre coerente”.

Ao final do filme, Alex se diz curado. Mas não porque se tornou um homem do bem, mas porque voltou a ser o “velho” Alex onde os impulsos do tratamento não mais dominavam e agora estava protegido pelo Estado. O desfecho do filme é uma das duras críticas à hipocrisia social, pois o mesmo Estado que condenou Alex, ao fim o beatifica, pois é do seu interesse que o anti-herói esteja do lado do governo.

Laranja Mecânica recebeu 4 indicações ao Oscar por Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Além de 3 indicações ao Globo de Ouro por Melhor Filme em Drama, Melhor Diretor e Melhor Ator em Drama (Malcom McDowell). Foi proibido de circular pelo Brasil, sendo liberado em 1978, com as inesquecíveis bolinhas pretas sobre as genitálias dos atores. Mas acima de tudo, Laranja Mecânica ganhou o respeito de diversos críticos de cinema e o apreço do público durante sua trajetória cinematográfica. Tornou-se um filme cult e inovador, por sua temática polêmica e direção primorosa. Kubrick criou um clássico.

Nota: 9

Rafael Sanzio