quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Noite Americana


Quando gostamos do nosso trabalho ficamos felizes por cada segundo que passamos ao realizá-lo. Com o filme A Noite Americana (1973) o diretor François Truffaut expõe de forma clara e delicada o seu amor pelo cinema.


O diretor François Truffaut interpreta Ferrand, diretor do filme “A Chegada de Pamela”, acompanhamos a produção deste filme, os bastidores, as histórias que se desenvolvem como a própria trama do filme que a equipe está realizando. Na equipe há figuras peculiares como Severine (Valentina Cortese) uma atriz que começa a sentir o peso da idade e não consegue decorar as falas, Alphonse (Jean-pierre Léaud) um jovem ator mimado e impetuoso e Julie (Jacqueline Bisset) estrela hollywoodiana que vêm de um colapso nervoso.


Uma das grandes características do filme é a metalinguagem. Com o início do filme pode-se pensar que estamos observando o início da trama, mas na verdade não passa da gravação do filme dentro do filme. Truffaut mergulha tanto nesse mecanismo que muito dos papéis de integrantes da equipe da história são preenchidos pela própria equipe de A Noite Americana. O filme não pretende ser didático, mas sim uma homenagem ao “fazer cinema” e uma declaração de amor por parte do diretor.


A música tem sua importância no filme. Nos créditos iniciais Truffaut oferece ao público a oportunidade de se inserir na trilha sonora. Escutamos a orquestra e o responsável pela trilha. Além de observarmos o gráfico digital do som da trilha. Na seqüência onde Ferrand escuta uma das trilhas para o filme que está realizando notamos uma das declarações de amor de Truffaut, enquanto a música com teor romântico insere-se na cena o personagem coloca diversos livros na mesa, cada livro sobre cinema e um diretor famoso: Rosselini, Hitchcock, Godard, Ingmar Bergman, Bunuel. Mestres do cinema que possuem o respeito por parte de François Truffaut.


O elenco possui a bela Nathalie Baye, que teve sua primeira oportunidade como atriz nesse longa metragem. Mas o destaque vai para o personagem de Truffaut. Ferrand possui uma calma e suavidade quase que inabalável, muito diferente das personalidades dos diretores da época, que costumavam ser carrascos e/ou achar que atores são meras ferramentas. Mas quem conhecia Truffaut alega que o personagem Ferrand não difere muito do próprio diretor, que dirigia seus filmes com uma delicadeza que realmente transmitia sua admiração e amor pelo cinema.



Ao término de A Noite Americana uma questão fica no ar: Os filmes são mais importantes que a vida real? Truffaut dedicava-se ao cinema, seu personagem praticamente não tinha vida pessoal, utilizava-se dos filmes para deixar um legado e uma mensagem que por outros caminhos poderia ser esquecidos facilmente. Mas no desenvolver da trama, vemos que as histórias dos integrantes da equipe têm muito mais intensidade do que o próprio longa metragem que produzem. Contudo, para nós, essa vida real também faz parte de um filme.


Com uma metalinguagem envolvente, Truffaut cria uma sincera homenagem ao cinema, testemunhamos o seu amor por filmes e nós que admiramos, amamos e respeitamos essa arte nos sentimos realizados e satisfeitos ao término do longa. Obrigado François Truffaut.


Nota: 10

Rafael Sanzio

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

UP - Altas Aventuras


Quando atingimos a velhice é comum optar por uma vida de sossego para recompensar o tempo de trabalho que realizou até ali. Contudo, há aqueles que se referem ao idoso como uma pessoa que já não pode mais ser útil, realizar grandes feitos, que deveria ser colocado de lado (em um asilo) para não atrapalhar o avanço da modernidade. Apesar de ser uma ficção e cheia de fantasia, UP – Altas Aventuras (2009) retoma essa questão. O uso da força de vontade para superar as dificuldades e seguir com seus sonhos, seja você um idoso ou uma criança, ainda será capaz de grandes feitos e de participar de grandes aventuras.


A animação acompanha a vida de Carl Fredricksen (voz de Chico Anysio), um velho vendedor de balões que se tornou amargo após a perda da companheira. Apegando-se obsessivamente à casa onde moravam, Carl atrapalha os planos de uma grande construtora de mordenizar o quarteirão. Após um incidente envolvendo uma caixa de correio e uma bengala, o velhinho é sentenciado a viver no asilo. Preocupado em perder a casa, ele enche vários balões e leva-a as alturas indo de encontro ao sonho da sua mulher.


A Pixar sempre surpreende com seus filmes de uma delicadeza ímpar. O que mais pode chamar a atenção é a sequência onde em dez minutos vemos toda uma vida passar em nossos olhos. Mas não de uma forma leviana, mas com momentos de drama e ternura entre o casal. É uma forma de entendermos protagonista e sua situação atual. A construção dos demais personagens é satisfatória, até mesmo o vilão que pode ser apenas taxado como louco tem sua profundidade, ao analisarmos como ele foi incompreendido e injustiçado pelos cientistas.



A voz de Chico Anysio não incomoda, é absorvida com facilidade pelo personagem e se torna natural em poucos minutos. É muito interessante a forma de tradução da voz do cachorro Dug, o diálogo desse personagem retrata com maestria o que realmente o amigo do homem diria em diversas situações, como por exemplo: “Eu estava escondido debaixo da varanda porque eu te amo”. Mas o personagem que divide os holofotes com o senhor Fredricksen é o escoteiro mirim Russel, sua ingenuidade e criancice arranca risadas do público.


UP – Altas Aventuras tem o selo de qualidade da Pixar, um trabalho bem feito e divertido. Não chega a ameaçar WALL-E no posto de melhor animação, mas há definitivamente momentos marcantes de drama e profundidade. Mais um acerto da Pixar e para quem gosta do gênero é obrigatório a ida ao cinema.


Nota: 9,5

Rafael Sanzio