quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Enrolados

 

Seguindo a tradição de levar às telas as histórias das mais famosas princesas, a Disney finalmente traz a história de Rapunzel, escolhendo acertadamente agradar o século em que está e fazer uma versão animada por computador. Além disso, retira a nobreza do príncipe tornando-o em um ladrão.

Na trama, Flynn Ryder (Luciano Huck) um egoísta ladrão, rouba a tiara da “princesa perdida” e foge dos soldados do rei. Ele consegue escapar subindo no alto de uma torre escondida no meio da floresta. Lá, tem um encontro com Rapunzel (Sylvia Salustti), uma garota de longos (e bota longos nisso!) cabelos loiros que vive presa dentro da torre por causa de sua falsa mãe, Gothel, que a raptou quando criança e utiliza os poderes mágicos do cabelo da princesa para rejuvenescer. Com esse encontro Rapunzel vai aprender a viver e Flynn a amar.

Como é um filme de computação gráfica, às vezes esqueço que a Disney está envolvida e não a Pixar. Aqui o projeto é da gigante do Mickey e por ser assim, sua trilha sonora é recheada por músicas originais e personagens cantando e dançando por 1/3 do filme. No começo é assustador, acostumado com a Pixar e sua trilha sonora instrumental ou indiferente se os personagens estão cantando ou não, mas Enrolados (2010) consegue o que quer e agrada: transformar cada canção em um show e é por isso que a Disney é conhecida.

A distribuidora brasileira aproveitou-se do fato de Luciano Huck fez o papel de marido de Rapunzel em Xuxa em Mistério o Feiurinha (2009). Esse deve ter sido o único motivo, pois a atuação do apresentador é fraca e não combina com o personagem. Ainda bem que não inventaram de colocá-lo para cantar.


Rapunzel tem personagens marcantes. Entre eles Max, um inusitado vilão cavalo caçador?! E a própria Rapunzel, que tem um carisma apaixonante e uma poderosa frigideira. Não posso deixar de comparar com a última produção da Disney com temática princesas: A Princesa e o Sapo (2009). Rapunzel consegue ser bem mais divertido, dinâmico e com um humor sensacional que coloca a princesa de Nova Orleans no chinelo.

Enrolados é previsível, mas encantador. Nós sabemos o que vai acontecer, podemos adivinhar como vai acontecer, mas a jornada até lá é gratificante. Um ótimo filme da Disney. Se não fosse a voz de Luciano Huck eu recomendaria.


Nota: 9


Rafael Sanzio

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Crítica dos Clássicos – Festim Diabólico de Hitchcock (Rope)



Que Hitchcock é o mestre do suspense todos sabem ou conhecem a fama. O filme Festim Diabólico (1948) é conhecido por seu longo plano sequencia sem cortes, que na verdade existem. O filme não fez sucesso na época, devido a vários fatores, mas o que podemos perceber é o fato de mesmo que um longa-metragem possua um famoso diretor, se sua trama e personagens estiverem aquém da tolerância moral da sociedade, o filme é fardado ao fracasso.

Na trama, Brandon (John Dall) e Philip (Farley Granger) matam um antigo colega de turma pelo prazer de matar e logo depois escondem o corpo em um baú. No mesmo dia organizam uma festa com a família da vítima como convidados. Para transformar o assassinato em um crime perfeito, chamam o antigo professora da turma, Rupert Cadell (James Stewart) para participar da festa, ele é o único capaz de suspeitar do que aconteceu.


O filme é a adaptação da peça inglesa de Patrick Hamilton, Rope’s End. Que por sua vez é inspirada em um caso verídico. O roteiro do filme se dispõe em conversas, sem muita ação, para demonstrar a casualidade dos fatos para os dois assassinos. Que por sinal, possuem características relevantes. Ambos são homossexuais. Para um filme de 1948, isso é ousado. No roteiro original da peça, a linguagem inglesa transposta para a americana transformava as palavras em termos de duplo sentido, escancarando a opção sexual dos dois, o que a censura não permitia. Mas, mesmo com o polimento dos roteiristas Hume Cronyn e Arthur Laurents é perceptível o relacionamento dos dois personagens.

Infelizmente para quem assiste agora, a cena inicial não passa de café-com-leite em comparação as carnificinas que existem nos filmes atuais. O rapaz sendo morto não há emoção, movimento e tensão, apenas o grito. Sem graça.  Mas, tecnicamente, Hitchcock sobrepõe-se aos erros. Sua intenção foi fazer um filme como uma peça, ou seja, era preciso dar essa impressão de continuidade para o público. Fazer um único plano sequencia seria o ideal, mas cada rolo de filme possuía apenas 10 minutos. Concluindo, foi preciso fazer 9 cortes durante o filme e para que não fossem tão bruscos Hitchcock utilizou-se das costas dos atores ou de pilares para seguir com seu filme e com a naturalidade de uma peça.


A técnica ensaiava as cenas um dia antes, para sair tudo perfeito para a equipe de filmagem. Friso a parte técnica porque o diretor não se importava muito com os atores nesse filme em particular, era um show de fios de câmeras pelo chão que Farley Granger tinha que fazer acrobacias imperceptíveis para chegar na sua marcação. O sincronismo das cenas está perfeito, principalmente na cena no qual Brandon vai guardar a corda. E a melhor sequencia do filme, com as qualidades do diretor Hitchcock, é a cena na qual Sra. Wilson (Edith Evanson) vai retirando os alimentos de cima do baú e gradativamente vai chegando o momento de abri-lo.


Com nenhuma segurança partindo do diretor, que estava ocupado demais com a parte técnica, Festim Diabólico perde em interpretação em um dos seus protagonistas. James Stewart, o ator perde-se numa interpretação vaga e que me deixou na dúvida se ele queria mesmo fazer um personagem velho ou era má interpretação. Mas, o crédito de boa interpretação vai para John Dall, seu charme e elegância transpareceram na personagem que ficou admirável, mas com sua nítida malevolência disfarçada em gracejos.

Festim Diabólico não fez sucesso. Se imaginarmos que o motivo fora a mentalidade da época, podemos fazer uma leitura conveniente do próprio tema do filme para o filme em si. Brandon e Philip são homossexuais que escondem seus desejos dentro de um baú, o professor representa a moral da sociedade que irá descobrir tal opção dos dois e ao abrir o baú revelará seu ato criminoso. Como o Rupert Cadell disse “Deixe que a sociedade julgue vocês”, ela julgou o filme e o condicionou a morte. Ao menos nos Estados Unidos.


Nota: 8

Rafael Sanzio