sábado, 27 de setembro de 2008

Roman Polanski: Curtas Metragens


Curta metragem é onde se aprende o B + A = BA do cinema. A maioria dos diretores de cinema deve ter começado com um curta. É onde você experimenta, cria e define (talvez) qual o seu estilo antes de encarar (ou ter a oportunidade) a produção de um longa metragem.

Roman Polanski nasceu em Paris, mas tem sangue polonês nas veias. Fez filmes como O bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1979) e O pianista (2002). Antes, estudou na Escola de Cinema de Lodz onde realizou alguns curtas.

Tive a oportunidade de assistir essa série de curtas que Polanski fez. São eles: Murder (1957); Teeth Smile (1957); Break up the dance (1957); Two Men and a Wardrobe (1958); Lampa (1959); When Angels Falls (1959); The Fat and the Lean (1961); Mammals (1962).

Teeth Smile (tradução literal: Sorriso de dentes) é a história de um homem que espreita a janela de um banheiro. Interessante analisar que antes da ação o personagem parece até uma pessoa decente. Quando ele olha a mulher no banheiro surge então aquele sorriso cheio de luxúria onde apenas aparecem os dentes. Vou até fazer uma comparação meio grotesca, o sorriso do homem parece o “sorriso” que os gatos dão ao cheirar uma fêmea.

O curta Lampa foi produzido durante o último ano de Polanski na Escola de Cinema de Lodz. Esse curta tem ares de uma história de terror, onde coisas estranhas acontecem durante uma noite dentro da loja de um homem que conserta bonecas. Agora não deixo de pensar um pouco além (ou no caso “viajar”), no começo da história o homem se utiliza de uma lamparina, depois chega a luz elétrica. Creio que a lâmpada representa a modernidade e o incêndio que ela provoca na loja seja uma metáfora da modernidade acabando com algumas profissões. Outro ponto é o relógio cuco que toca para dar idéia de tempo, passando da época da lamparina para a época da lâmpada.

Um curta que gostei muito foi When Angels Falls. A idéia para realizar esse curta surgiu de um artigo onde uma atendente de banheiro público (seria no caso aquelas pessoas que ficam sentadas no banheiro, cuidando da higiene, entregando toalhas etc) disse ter visões. Polanski em sua autobiografia revelou que achava essa profissão monótona, penosa, que ninguém prestava atenção numa velha atendente. A história mostra uma velha atendente que, apesar do olhar vago e da falta de importância que as pessoas dão para ela, a personagem possui uma extensa e dolorosa vida. Polanski usa uma maquete no começo do curta para mostrar a cidade onde acontece a história. Em seguida vemos o quão monótono é a profissão e os momentos solitários da mulher idosa passa naquele local. Surpreendeu-me a primeira retomada das lembranças da mulher, deixando o curta colorido para mostrar a juventude da anciã e sua época mais feliz. Enquanto ela continua alheia aos acontecimentos no lavatório, em suas lembranças a história mostra o crescimento de seu filho e a separação dos dois. Nos momentos finais da película o anjo do título cai dentro do banheiro público, revelando-se como o filho dela morto na guerra. Deixando claro que ele veio buscar a mãe.

Mammals pode ser considerado apenas um curta de homenagem aos clássicos mudos com várias gags (situações de piadas físicas). Mas creio que há uma crítica para nós mamíferos. O curta retrata dois homens que viajam pela neve em um trenó, sempre revezando para ver quem leva um e quem fica sentado no trenó. A crítica está no fato que cada um tenta arranjar uma desculpa para não mais puxar o trenó, invertendo as posições. Mostra então que os homens sempre estão querendo tirar proveito uns dos outros, no curta os dois acabam perdendo o trenó e quando parece que vão seguir viajem sem brigas, eis que um deles inventa mais uma desculpa para ser agora carregado pelo outro! A música nesse curta dita o ritmo da história ou seria o contrário? Mas a trilha sonora acompanha os momentos de aceleração e desaceleração da trama. E o curta em si é hilário.

Ufa! E pensar que ainda tem outro dvd com mais curtas para assistir.


Rafael Sanzio

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