Ganhar alguém pelo estômago. Nada mais correto nesse filme dirigido por Marcos Jorge (primeiro longa-metragem do diretor). Estômago (2007) é uma iguaria nacional, que se utilizou de um acordo de co-produção Brasil-Itália existente desde 1974, com um bom enredo e elementos da culinária e suas relações com a arte, poder e sexo.
A história acompanha a jornada de Raimundo Nonato (João Miguel), um dos vários imigrantes que buscam uma vida melhor, arriscando-se na cidade grande. Logo Raimundo consegue uma oportunidade numa cozinha de um boteco e desperta seu talento nato pela culinária. Esse é o início da escalada de Raimundo no mundo da cozinha, mas também do poder e da degeneração moral a que se submete.
O humor é um dos fortes do filme, é ele que mantém o ritmo do longa, pois mesmo nas seqüência tidas como lentas, há uma pitada de humor para acalmar os ânimos de quem assiste. Uma jogada interessante também foi o próprio personagem, sempre é engraçado ver alguém do interior aprendendo coisas novas. É a fórmula do matuto com sua simplicidade conhecendo a modernidade. Que nesse caso substitui para os valores modernos e a gradativa destruição da inocência para a realidade crua: Aqueles que não devoram, são devorados.
No filme há essa transição de momentos da história, mostrando essa máxima acima nesses dois ambientes da sociedade. O fora e dentro da cadeia. O que mostra outro ponto positivo, mas já existente na história do cinema, que são os personagens típicos de uma cela de cadeia. Cada um tem sua peculiaridade e razões para que o público deposite momentos de interesse sobre eles.
A direção de Fotografia de Toca Seabra (O Invasor, 2002) merece elogios. Como na seqüência inicial dos créditos, ou toda a composição e enquadramento das imagens. Junto com a direção de Marcos Jorge eles formam cenas impagáveis, com o uso do timing do humor como na seqüência onde ele revela para sues companheiros de cela que sabe cozinhar, a câmera passa por cada um com suas expressões de incredulidade.
A música do filme ficou ao encargo de Giovanni Venosta, compositor de trilhas sonoras premiadas de filmes italianos (Pane e Tulipani, 1999 – Brucio nel Vento, 2001). A um detalhe a se analisar quanto a trilha, há uma música em especial que toca quando Nonato está cozinhando, mostrando o amor que ele sente ao cozinhar e percebam que esta mesma música começa a tocar quando Nonato passa a sentir este mesmo amor para com a prostituta Íria (Fabiula Nascimento).
Mas o bom filme não estaria bem composto se não tivesse boas atuações. João Miguel capta essa inocência de alguém que não conhece os valores pervertidos da sociedade obscura de uma cidade grande e sutilmente transforma essa inocência em uma falsa submissão, para pouco a pouco adquirir mais e mais poder. Carlo Briani está muito bem como Giovanni a naturalidade dele me faz acreditar que ele mesmo deve ser do ramo da culinária.
A cena aonde Nonato aprende a fazer pastel me lembrou muito a animação Ratatouille (2007), mas como a própria sinopse do filme Estômago alerta, servindo para fechar essa crítica e descrevendo bem esse delicioso filme: “Uma fábula nada infantil, sobre poder, o sexo e a culinária”.
Nota: 9,5
Rafael Sanzio
4 comentários:
porra era pra ter recebido 10
9,5 pow?? filme da porra!!!
é um dos poucos filmes que realmente me transmitiu emoções, angustia e outros sentimentos. o protagonista é muito cativante velho! ele seduz o público, e muito fantastico a forma como o autor mostra a degeneração da inocência. O final é simplesmente magnifíco, mostra que o Giovani não ensinou apenas a cozinhar, ele ensinou a viver na cidade grande! eh muito bom o filme
Tem que parar com essa mania que nota boa só é 10.
9,5 é uma boa nota. Mas da mesma forma que os roteiristas merecem parabéns por colocar elementos tidos como certos para uma boa aceitação do filme, não deixam de ser elementos esteriotipados.
E por mais certo que seja o ritmo e que nas horas lentas é recheado de piadas para manter o interesse do público, há sim quedas de ritmo.
Como me falaram em scrap que deveria maneirar por ele ser baixa renda, ao contrário, merece parabéns por ter tamanha qualidade e seria uma ofensa aliviar na análise só por causa disso.
Apesar de tecnicamente não ter falhas, que seria o local onde vai a maior parte do dinehiro...
Pois é… Nonato sabia da profissão de Irian… sempre soube. E mesmo quando passou a se relacionar com ela de forma mais intensa, Irian não deixou seu trabalho. Inclusive na noite do crime Nonato vai tentar encontra-la no ponto de trabalho dela.
Irian não respondeu sim nem não ao pedido de casamento de Nonato. Ela se afogou com as azeitonas quando Nonato fez o pedido. O relacionamento deles não tinha nada sério.
Irian não traiu ninguém.
O problema foi o beijo que Irian se negava a dar em Nonato e este a viu beijando outro. A furia se acendeu neste momento.
O que justifica Nonato ter assassinado Irian?
Nonato pediu a Zulmiro para que fosse padrinho de seu noivado.
Zulmiro, aquele que o tratou como escravo.
Nonato não preferiu Giovani, aquele que o tratou como um bom cozinheiro e lhe pagando salario e beneficios.
Porque Nonato preferiu Zulmiro?
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