sábado, 25 de setembro de 2010

Resident Evil 4: Recomeço - 3D


O que devemos ter consciência é que a franquia do cinema de Resident Evil não é fiel a série de jogos da Capcom. Paul W.S. Anderson criou uma personalidade própria ao filme, com alguns elementos dos jogos que podemos chamar de “homenagens” ou também uma apropriação dos personagens. Resident Evil 4: Recomeço (2010) tem mesmo a intenção de recomeçar a série de filmes, afastando da visão megalomaníaca de fim de mundo desértico abordado no terceiro filme. Muito acertadamente retoma ao clima urbano e elementos da série nos vídeo games, aliado ao 3D e ótimos efeitos especiais torna-se um filme divertido a despeito das críticas ao roteiro.

A história acompanha Alice (Milla Jovovich) na sua jornada contra a Empresa Umbrella Corporation causadora de todo caos que acontece no mundo e do seu atual presidente, Albert Wesker (Shawn Roberts). Após a batalha Alice busca os sobreviventes da devastação zumbi, em especial o grupo de amigos, entre eles Claire Redfield (Ali Larter).

O diretor e roteirista Paul W.S. Anderson investe mais em estilo do que na história. A trama é bastante simples e rasa, com a busca de Alice e os momentos de ação. Tanto é que os personagens possuem poucas falas além daquelas pré-existentes em um filme de zumbis, as cenas com longas falas são os monólogos de Alice no início, mas é tão batido o diário de bordo que torna-se cansativo e desnecessário. Retirando a seqüência de ação inicial lembrando descaradamente o filme Matrix (1999), as demais seqüências são empolgantes a exemplo da batalha entre Wesker e os irmãos Redfield. O uso do 3D não é exagerado e os efeitos especiais em sua maioria são de ótima qualidade.

O diretor diminui no roteiro o excesso de poder dado a Alice e a dimensão destrutiva causada pelo 3º filme, o que realmente adquire pontos ao estilo do longa metragem voltando aos momentos claustrofóbicos, suspense e situações típicas de filme de morto-vivos, com os dilemas de sobrevivência. Há uma nova turma de coadjuvantes que tentam conquistar o público para que não representem apenas “personagens que vão morrer”.


Os aficionados pelos jogos podem reclamar, mas o clima do novo filme remete aos jogos da série, isso quem diz é um jogador da série Residente Evil! Personagens como o monstro do machado, o próprio Wesker, Chris Redfield e Claire Redfield, são transportados apenas com o estilo visual e outros só com o nome. O grupo de sobreviventes lembra muito o jogo Left 4 Dead (XBOX 360) , é preciso perceber com calma se há a sensação de jogo de vídeo game, não apenas criticar os personagens que não foram transpostos com fidelidade para a película.

Milla Jovovich volta disposta a encarar lutas e tiroteios, já encarnando a personagem com naturalidade ou absorvendo o que tem de profundo na personalidade de Alice para transpor. Já o ator Wentworth Miller (Chris Redfield) força uma atuação caricata de machão que devemos desconfiar. Eu não sei o que acontece com Miller, mas que tipo de atuação é aquela? Ele estava brincando ou realmente o personagem não tinha nada para desenvolver? Já Shawn Roberts (Albert Wesker) atua como uma versão jovial de Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro, mas não difere tanto de sua representação nos games.  

Resident Evil 4: Recomeço tem seu ritmo definido pela ação, o filme torna-se divertido mediante o uso do 3D, sem ele o roteiro destaca-se mais e talvez a ida ao cinema não seja tão recompensadora. A franquia ganha novo fôlego e retoma o clima dos vídeo games!

Obs: Fiquem um pouco mais durante a exibição dos créditos, há uma cena extra. Quem se lembra de Resident Evil 2 vai ter um impacto maior com ela.


Nota: 7


Rafael Sanzio

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Criação



A Origem das Espécies foi um marco para a ciência, graças a Charles Darwin foi comprovado por meios científicos a evolução das espécies caracterizando-se por uma batalha pela sobrevivência onde o mais forte passava para a próxima geração. Mas criar esse livro foi uma tarefa fácil para o cientista? Será que sua força também foi testada a ponte de ver se ele teria força de vontade para concluir uma obra tão polemica? O filme Criação (2009) baseado no livro Annie’s Box de Randal Keynes retrata os momentos da vida de Charles Darwin no processo de criação de seu famoso livro A Origem das Espécies. Com uma direção cuidadosa de Jon Amiel o filme torna-se em uma obra delicada e reflexiva, transportando-se com naturalidade para aquela época e os conflitos morais que uma publicação como esta acarretaria dentro da família do cientista.

Na trama, Charles Darwin (Paul Bettany) continua em sua incessante pesquisa para o desenvolvimento de seu livro sobre a evolução das espécies, porém, sofre com a pressão exercida pelos seus colegas que buscam a vitória contra a religião e a publicação imediata do livro. Enquanto que percebe que sua família começa a se desestruturar por seu distanciamento provocado pela concentração única no trabalho. Em meio a tudo isso o cientista enfrenta uma doença que abala sua saúde física e mental, seria a causa o excesso de trabalho ou uma punição de Deus?

O que percebemos logo de início é o objetivo de separar a ciência da religião. Como em uma guerra onde Darwin está no meio, de um lado o cético Thomas Huxley (Toby Jones) agressivo em suas afirmações pelo fato de Darwin ter matado Deus e do outro lado Emma Darwin (Jennifer Connelly) a religiosa esposa de Charles Darwin que teme a separação eterna entre ela e o marido caso ele publique o profano livro. O que naquela época era preciso separar por causa do forte preconceito, hoje a religião e a ciência podem ser interligadas, ao menos na conceituação de “fé”. Mas o que podemos interpretar pelo roteiro é que o ódio dos céticos está muito mais nos dogmas da Igreja do que em Deus, apesar deles enfatizarem o nome Dele.

O longa metragem possui 108 minutos de duração, mas parece ter mais mediante a quantidade de detalhes e a história envolvente. O uso de flashbacks e simulações durante as narrações de Darwin produzem uma dinâmica que torna o filme menos cansativo em comparação se tivessem usado apenas a trama principal focada no momento presente do cientista. O que vale parabenizar o diretor Jon Amiel pelas seqüências dos delírios e sonhos de Charles Darwin, que possuem muitos símbolos que são difíceis de reconhecê-los assistindo a obra apenas uma vez. É criada essa contradição em estar falando sobre um homem racional e ser desenvolvida essas seqüências tão poéticas, como também vista na cena do ciclo da vida onde mostra o pássaro alimentando-se do verme, mas no final o filhote do pássaro alimentará outros vermes.

Desconheço o orçamento da produção, mas o trabalho de figurino de Louise Stjernsward e a cenografia de Laurence Dorman estão excelentes, somos transportados para o século XVIII com naturalidade. Esta naturalidade também provém da trilha sonora de Christopher Young, filmes de época quase sempre conseguem transmitir o requinte e aparente civilidade com sua trilha sonora.


O elenco de Criação merece destaque, Paul Bettany transfere bem para si o dilema de Charles Darwin em estar do lado da ciência e perceber que vai contra a sociedade com a fé cega que obedece sem questionar. No trailer podemos interpretar a personagem de Jennifer Connelly como a beata incurável, mas não, a interpretação de Connelly nos faz questionar os verdadeiros motivos de Emma por estar contra as ações do marido. Não é a religião, mas sim o amor dela pelo marido e a tentativa de manter a família unida que a fez ter a religião como suporte a tentar manter Darwin ao lado da Igreja. A atriz Martha West (Annie) demonstra com facilidade a maturidade que sua personagem tem para a idade, apesar de se render ao seu lado infantil em certos momentos.

Com momentos tenros e reflexivos, Criação é um filme produzido com todo respeito a obra e vida do cientista Charles Darwin. Seus conflitos são mostrados sem exageros com a interpretação dedicada de Paul Bettany, sem realmente demonstrar em que lado Darwin ficou. Com interseções de tramas paralelas, histórias contadas por Darwin para explanar o ciclo da vida, o longa metragem ganha em drama e sensibilidade, não dá para não ficar emocionado com o final da história de Jenny.

Errado em sua teoria ou não, Charles Darwin marcou a história científica do mundo com seu livro e o filme Criação respeita a representação deste homem mostrando suas qualidades e defeitos. Uma biografia humanizada que deve ser apreciada pelos interessados no assunto.

Nota: 9

Rafael Sanzio

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Psicólogo



Existem filmes que vão direto para DVD não tendo forças suficientes para embarcar em uma temporada nas salas de cinema. Isso acontece porque a distribuidora acha que o filme em questão não vai atrair o grande público. Esse fato define o filme como uma obra ruim? Não. É o caso do filme O Psicólogo (2009), apesar de concordar que o longa-metragem não faria uma boa bilheteria ele é um bom filme para se assistir em casa com a família oferecendo-nos Kevin Spacey como protagonista.

O filme mostra a vida de Henry Carter (Kevin Spacey) psicólogo de estrelas de Hollywood que precisa enfrentar a perda da esposa. Como um tipo de terapia, o pai de Henry (Robert Loggia) resolve passar uma paciente “normal” para o psicólogo. Com esse novo tipo de paciente Carter vai perceber se ainda pode curar pessoas ou não.

Seguindo a mesma estrutura narrativa de filmes como Crash (2004), Simplesmente Amor (2003) e Banquete do Amor (2008), o longa-metragem do diretor Jonas Pate nos fornece uma quantidade considerável de personagens que estão ligados de uma maneira ou de outra ao psicólogo do título. O fato de ter vários personagens propõe uma dinâmica na narrativa, mas sofre na superficialidade com que é tratada cada história individual.

Graças a atuação de Kevin Spacey seu personagem não sofre com a superficialidade narrativa, o ator de Beleza Americana consegue transmitir o vazio que o psicólogo sente com a perda da mulher, mesmo que talvez seja considerado fácil interpretar um “chapado”. Robin Williams faz uma participação na filme e continua na sua tentativa de interpretar personagens adultos e verossímeis.


O tom do filme é melancólico e letárgico, entrando em sintonia com a tristeza e torpor ao qual Henry Carter está, podemos perceber isso com os ângulos de câmera quase nunca fixos. O que surpreende no filme é seu otimismo no desfecho da trama, talvez para paralelizar com as histórias tristes que descambam para a tragédia, mas acreditar na bondade geral de astros de Hollywood problemáticos, só em um filme sobre um psicólogo.

O longa mostra que psicólogos são tão problemáticos quanto seus pacientes, afinal, são humanos como nós. O que difere um bom psicólogo de um ruim é que ele tenta enfrentar seus problemas ao invés de construir a ilusão de que nada pode atingi-lo.


Nota: 8,5


Rafael Sanzio