A Origem das Espécies foi um marco para a ciência, graças a Charles Darwin foi comprovado por meios científicos a evolução das espécies caracterizando-se por uma batalha pela sobrevivência onde o mais forte passava para a próxima geração. Mas criar esse livro foi uma tarefa fácil para o cientista? Será que sua força também foi testada a ponte de ver se ele teria força de vontade para concluir uma obra tão polemica? O filme Criação (2009) baseado no livro Annie’s Box de Randal Keynes retrata os momentos da vida de Charles Darwin no processo de criação de seu famoso livro A Origem das Espécies. Com uma direção cuidadosa de Jon Amiel o filme torna-se em uma obra delicada e reflexiva, transportando-se com naturalidade para aquela época e os conflitos morais que uma publicação como esta acarretaria dentro da família do cientista.
Na trama, Charles Darwin (Paul Bettany) continua em sua incessante pesquisa para o desenvolvimento de seu livro sobre a evolução das espécies, porém, sofre com a pressão exercida pelos seus colegas que buscam a vitória contra a religião e a publicação imediata do livro. Enquanto que percebe que sua família começa a se desestruturar por seu distanciamento provocado pela concentração única no trabalho. Em meio a tudo isso o cientista enfrenta uma doença que abala sua saúde física e mental, seria a causa o excesso de trabalho ou uma punição de Deus?
O que percebemos logo de início é o objetivo de separar a ciência da religião. Como em uma guerra onde Darwin está no meio, de um lado o cético Thomas Huxley (Toby Jones) agressivo em suas afirmações pelo fato de Darwin ter matado Deus e do outro lado Emma Darwin (Jennifer Connelly) a religiosa esposa de Charles Darwin que teme a separação eterna entre ela e o marido caso ele publique o profano livro. O que naquela época era preciso separar por causa do forte preconceito, hoje a religião e a ciência podem ser interligadas, ao menos na conceituação de “fé”. Mas o que podemos interpretar pelo roteiro é que o ódio dos céticos está muito mais nos dogmas da Igreja do que em Deus, apesar deles enfatizarem o nome Dele.
O longa metragem possui 108 minutos de duração, mas parece ter mais mediante a quantidade de detalhes e a história envolvente. O uso de flashbacks e simulações durante as narrações de Darwin produzem uma dinâmica que torna o filme menos cansativo em comparação se tivessem usado apenas a trama principal focada no momento presente do cientista. O que vale parabenizar o diretor Jon Amiel pelas seqüências dos delírios e sonhos de Charles Darwin, que possuem muitos símbolos que são difíceis de reconhecê-los assistindo a obra apenas uma vez. É criada essa contradição em estar falando sobre um homem racional e ser desenvolvida essas seqüências tão poéticas, como também vista na cena do ciclo da vida onde mostra o pássaro alimentando-se do verme, mas no final o filhote do pássaro alimentará outros vermes.
Desconheço o orçamento da produção, mas o trabalho de figurino de Louise Stjernsward e a cenografia de Laurence Dorman estão excelentes, somos transportados para o século XVIII com naturalidade. Esta naturalidade também provém da trilha sonora de Christopher Young, filmes de época quase sempre conseguem transmitir o requinte e aparente civilidade com sua trilha sonora.
O elenco de Criação merece destaque, Paul Bettany transfere bem para si o dilema de Charles Darwin em estar do lado da ciência e perceber que vai contra a sociedade com a fé cega que obedece sem questionar. No trailer podemos interpretar a personagem de Jennifer Connelly como a beata incurável, mas não, a interpretação de Connelly nos faz questionar os verdadeiros motivos de Emma por estar contra as ações do marido. Não é a religião, mas sim o amor dela pelo marido e a tentativa de manter a família unida que a fez ter a religião como suporte a tentar manter Darwin ao lado da Igreja. A atriz Martha West (Annie) demonstra com facilidade a maturidade que sua personagem tem para a idade, apesar de se render ao seu lado infantil em certos momentos.
Com momentos tenros e reflexivos, Criação é um filme produzido com todo respeito a obra e vida do cientista Charles Darwin. Seus conflitos são mostrados sem exageros com a interpretação dedicada de Paul Bettany, sem realmente demonstrar em que lado Darwin ficou. Com interseções de tramas paralelas, histórias contadas por Darwin para explanar o ciclo da vida, o longa metragem ganha em drama e sensibilidade, não dá para não ficar emocionado com o final da história de Jenny.
Errado em sua teoria ou não, Charles Darwin marcou a história científica do mundo com seu livro e o filme Criação respeita a representação deste homem mostrando suas qualidades e defeitos. Uma biografia humanizada que deve ser apreciada pelos interessados no assunto.
Nota: 9
Rafael Sanzio
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