terça-feira, 23 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hollows - Part 1)



“A franquia que sobreviveu”. A série de livros de Harry Potter já chegou ao fim e a série de filmes trilha o mesmo caminho. Diferente de Eragon (2006) ou Percy Jackson e o Ladrão de Raios (2010), os filmes do bruxo de J.K. Rowling fizeram sucesso desde o começo, galgando mais e mais recordes a cada nova edição. E o interessante é a evolução que deu-se nos longas-metragens, tanto na idade dos seus protagonistas que cresceram junto ao seu público como nas próprias adaptações, com a fidelidade extremada de clima e roteiro dos primeiros filmes as licenças poéticas produzidas por cada diretor. Agora, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 (2010) inicia o fim da franquia e prepara bem, sem pressa, o final de uma era.

Na trama, Dumbledore (Michael Gambon) está morto, Voldemort (Ralph Fiennes) é uma realidade e começa seu reinado das trevas. Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) começam sua jornada para encontrar as Horcruxes, pedaços da alma de Voldemort, se eles conseguirem destruir todas há uma chance do Lorde das Trevas ser derrotado. Enquanto isso, Voldemort procura desesperadamente uma maneira de driblar a ligação entre ele e “o menino que sobreviveu”, para que finalmente ele possa destruir o escolhido.

O que percebe-se pelo filme é a tranqüilidade de David Yates em contar a história do sétimo livro, dividida em duas partes, é notável o cuidado do diretor em transmitir o que se passa na mente dos personagens, angústias, medos e desespero. Ele não tem a preocupação de colocar cada cena vista no livro, ou cada frase, ele teve a preocupação de amarrar cada cena e cada sequencia, tornando-se uma das melhores adaptações do filme do bruxo, não possuindo cortes abruptos ou qualquer sequencia que nos deixe uma lacuna no roteiro.

O sétimo filme não poderia ser diferente dos demais, há a evolução de maturidade da ambiência e estética do longa. A trilha sonora está mais sombria, as cores mais tensas e que causam desolação e desespero dos personagens. A sequencia inicial com Hermione é tocante e triste, conseguindo retirar uma carga emotiva de Emma Watson. Quanto as cenas de ação é interessante analisar a tentativa, em algumas, de torná-las mais reais. Sai os nomes dos feitiços, entra raios destruidores, o que poderia fazer com que imaginássemos pistolas nas mãos dos bruxos e achar que era um filme de policial.

Apesar da curta participação, Bill Nighy como o novo ministro da magia Rufus Scrimgeour marca sua passagem. A narrativa inicial, adicionado com sua interpretação e carisma fazem valer a contribuição do ator inglês no elenco. Outro que se destaca é Peter Mullan que interpreta o bruxo das trevas Yaxley, suas feições fortes e maldade exprimida nos olhos tornam a sequencia da invasão do Ministério da Magia ainda melhor e com o título de melhor sequencia de ação do filme. A atriz Imelda Staunton como Umbridge absorveu o papel de forma assustadora. É legal o que o roteiro proporciona, a poção polissuco que transforma o usuário em uma outra pessoa dá uma chance muito divertida a atores “figurantes” que em outros filmes não teriam a mesma chance. Como aconteceu em Harry Potter e a Câmara Secreta (2002) com o destaque para Crabbe e Goyle, aqui três personagens desconhecidos se destacam com suas expressões e trejeitos dos protagonistas. Isso poderia ter sido mudado caso o diretor escolhesse mostrar apenas os atores principais e num jogo de câmera descartar as atuações dos figurantes. Ainda bem que não fizeram isso e optaram por ensaiar bem as interpretações dos coadjuvantes.


Mas enquanto aos principais? Acredito que em relação a atuações destacam-se os papeis menores, mas é nítido a melhora dos nossos três protagonistas. Já Ralph Fiennes embarcou em uma interpretação teatral demais para Voldemort, tão teatral que fica difícil achar que seus seguidores realmente precisam ter medo dele. É mais fácil temer Yaxley ou Nagini, cobra de estimação do Lorde das Trevas.

Mas nem tudo são flores no sétimo filme. Apesar dos efeitos especiais estarem bons, o filme peca em exagerar nas cenas do acampamento. No livro, os personagens sofrem com a falta de ação que é esperar o momento para agir e David Yates conseguiu passar essa sensação para nós. As cenas emotivas ou solução de enigmas são artificiais demais ou não fortes o suficiente para que compensassem a falta de ação e extensão da sequencia do acampamento. Essa extensão poderia ser reduzida para mostrar cenas que não estão no livro, como mortes de personagens que foram apenas citadas na trama, perdeu-se a oportunidade de mostrar o que houve, sob o aval da autora e assim apresentar algo de novo ao público.

Contudo, poucos contras afetam o desempenho de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1. A primeira parte do desfecho da séria capta vários momentos interessantes do livro, possui uma direção envolvente e caprichada. Um ótimo preparador para o final da série, que aposto em uma coisa: o duelo de Voldemort e Harry Potter vai ser bem melhor do que o do livro.


Nota: 8


Rafael Sanzio  


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Origem (Inception)


Antes de começar a crítica é preciso esclarecer um termo utilizado entre os cinéfilos e é muito importante que àqueles que desconhecem a palavra saibam seu significado para não serem pegos de surpresa. O termo ao qual me refiro é “SPOILER” esta palavra quando antecede algum texto sobre um filme alerta que as informações a seguir contem detalhes da trama do filme que talvez você não queira saber se ainda não o assistiu. Ou seja, caso veja esta palavra, pense duas vezes antes de continuar a ler, da mesma forma que é importante você colocar a palavra spoiler bem nítido no começo de qualquer texto que vá contar detalhes específicos dos filmes, os cinéfilos agradecem.

O filme A Origem (2010) parte da interessante ideia de um mundo onde as pessoas podem invadir os sonhos e roubarem segredos de suas vítimas. Temos a sensação de estarmos em um filme de Matrix, sem as excessivas pancadarias e de certa forma mais real. Christopher Nolan já se firmou como um diretor criativo, capaz de realizar filmes com roteiros bem amarrados e tramas envolventes.

A história acompanha Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão de sonhos que tenta desesperadamente encontrar uma forma de voltar aos EUA sem ser preso devido a uma acusação por homicídio. A oportunidade aparece quando um empresário japonês Saito (Ken Watanabe) propõe uma troca, que Cobb consiga implantar uma ideia na mente Richard Fischer (Cillian Murphy) herdeiro das empresas Fischer, caso seja bem sucedido nessa tarefa impossível para os especialistas da área, Saito irá ajudá-lo a voltar para os Estados Unidos. Cabe a Cobb reunir uma equipe talentosa para realizar esse feito.

A sensação e comparação com o filme Matrix (1999) é constante. Pois Nolan reitera no seu roteiro acerca do que é real e o que é uma ilusão. Contudo, há maior liberdade no mundo dos sonhos do que da Matrix. As modificações na geografia do mundo estão a mercê do Arquiteto, sujeito criador do sonho no qual os outros foram inseridos. Graças a essa trama, a estética do filme fica interessante com as possibilidades conferidas, a mudança de cenário, a destruição do ambiente por parte de fatores externos, a gravidade zero entre outras idéias criativas para assimilação da influencia externa nos nossos sonhos.

O que faz uma ideia dessa funcionar é com quanto de naturalidade você apresenta para o público. Christopher Nolan decide jogar o público no mundo de A Origem sem sabermos de como funciona as regras do jogo, ficamos perdidos, mas presos a tentar entender o que se passa e as conseqüências de cada ato dos personagens na trama. Porém, didaticamente Nolan insere o que podemos chamar de “aprendiz”, personagem que está entrando agora no mundo desconhecido e que vai ter a tutela do protagonista ou de outro personagem e enquanto aprende as regras o público finalmente fica ciente das regras daquele universo fílmico. Esse papel cabe a personagem de Ariadne (Ellen Page).

Em um mundo dos sonhos existem cortes rápidos que nos fazem pular de uma cena para outra, esse detalhe é alertado no filme, mas como na maioria dos longas-metragens, o filme também possui cortes de uma cena para outra, então como saber se o que está acontecendo é um sonho ou não? Essa é uma das brincadeiras feitas por Nolan para embaralhar a mente do público. As cenas de ação no filme merecem destaque, principalmente a tão falada luta em gravidade zero.


Em termos de interpretação Tom Hardy (Eames) rouba a cena, Leonardo DiCaprio não apresenta nada de novo e fica muito parecido com sua interpretação raivosa de Ilha do Medo (2010). Os demais atores trabalham com naturalidade, formando uma equipe dinâmica e carismática, o que nos faz torcer para que A Origem não seja aquele típico filme de equipe, no qual cada membro vai morrendo em um determinado ponto da trama.

A Origem é um filme de ação com trama envolvente e momentos originais. Christopher Nolan consegue criar mais um filme que fica na mente das pessoas mesmo ao final da sessão, até acabar a semana. Realizador de Amnésia (2001), O Grande Truque (2006) e Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), qual será o próximo sucesso do diretor?



- SPOILER – O tão falado final de A Origem não passa de uma brincadeira do diretor para pegar os adoradores de tramas conspiratórias. O final com o peão girando, podemos perceber uma mudança no som, nítida de um peão quando pára de girar. Podem até falar da coincidência das crianças usarem a mesmas roupas da visão de Cobbs, mas conseguir a façanha de entrar em um sonho, depois no outro e depois no outro é demais. Pode ser que ao sair do aeroporto ele foi pego pelos homens de Saito e induzido ao sono. Mas quem seria o Arquiteto a se dispor de horas de sono com ele? O pai poderia fazer isso, mas ele mesmo não queria que Cobb vivesse em uma ilusão. Bem prefiro ser da turma dos otimistas e que ele conseguiu voltar para casa. Mas a intenção de Nolan foi essa com aquele final, propagar a discussão do que é real e imaginário.


Nota: 9,5


Rafael Sanzio

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Ilha dos Mortos (Survival of the Dead)



Eu era fã de George A. Romero, mais conhecido como o mestre dos filmes de mortos-vivos, desde minha infância eu possuía um medo dos filmes com os famigerados zumbis. O que hoje tornou-se um apreço em assistir filmes desse tipo, mesmo com situações similares, com os personagens tentando sobreviver a calamidade apocalíptica. Mas parece que George perdeu o jeito e nos concedeu não um filme de terror, mas uma comédia de terror.

Na trama duas famílias rivais disputam o poder na Ilha Plum, de um lado os O’Flynn que acreditam que um zumbi bom é um zumbi morto, enquanto que os Muldoon optam por querer reeducar os mortos-vivos para mantê-los “vivos” até que surja uma cura. No embate, Patrick O’Flynn (Kenneth  Welsh) é  expulso da ilha e tenta sobreviver fora dela, até que surge a oportunidade de voltar com o encontro com mercenários dispostos a expulsar os Muldoon da ilha.

A interessante premissa dava indícios que poderiam surgir uma boa história, com esse conflito novo de querer manter os entes queridos e outros querendo estourar os seus miolos. Mas o problema do filme é a falta de seriedade que ele se trata, jogando no lixo qualquer pretensão de susto, terror ou crítica social. 


Romero investe nos efeitos especiais que realmente são trash nesse filme, utilizando-os para mostrar “novas maneiras de se matar um zumbi”, mas visualmente ficaram de má qualidade. A trilha sonora é infantil e não induz em nenhum momento ao medo ou a tensão, apenas a comédia. Que nem isso é engraçado.

Infelizmente George A. Romero tentou ser engraçado, rendeu-se aos efeitos especiais digitais ruins e pensou estar competindo com filmes como Zumbilândia (2009). Se o diretor clássico de zumbis não voltar para suas origens, ou ao menos manter-se fiel a concepção dramática de Terra dos Mortos (2005) e Diário dos Mortos (2007), a Era Romero terá um fim. E um viva para The Walking Dead na Fox!



Rafael Sanzio


Nota: 3