“A franquia que sobreviveu”. A série de livros de Harry Potter já chegou ao fim e a série de filmes trilha o mesmo caminho. Diferente de Eragon (2006) ou Percy Jackson e o Ladrão de Raios (2010), os filmes do bruxo de J.K. Rowling fizeram sucesso desde o começo, galgando mais e mais recordes a cada nova edição. E o interessante é a evolução que deu-se nos longas-metragens, tanto na idade dos seus protagonistas que cresceram junto ao seu público como nas próprias adaptações, com a fidelidade extremada de clima e roteiro dos primeiros filmes as licenças poéticas produzidas por cada diretor. Agora, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 (2010) inicia o fim da franquia e prepara bem, sem pressa, o final de uma era.
Na trama, Dumbledore (Michael Gambon) está morto, Voldemort (Ralph Fiennes) é uma realidade e começa seu reinado das trevas. Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) começam sua jornada para encontrar as Horcruxes, pedaços da alma de Voldemort, se eles conseguirem destruir todas há uma chance do Lorde das Trevas ser derrotado. Enquanto isso, Voldemort procura desesperadamente uma maneira de driblar a ligação entre ele e “o menino que sobreviveu”, para que finalmente ele possa destruir o escolhido.
O que percebe-se pelo filme é a tranqüilidade de David Yates em contar a história do sétimo livro, dividida em duas partes, é notável o cuidado do diretor em transmitir o que se passa na mente dos personagens, angústias, medos e desespero. Ele não tem a preocupação de colocar cada cena vista no livro, ou cada frase, ele teve a preocupação de amarrar cada cena e cada sequencia, tornando-se uma das melhores adaptações do filme do bruxo, não possuindo cortes abruptos ou qualquer sequencia que nos deixe uma lacuna no roteiro.
O sétimo filme não poderia ser diferente dos demais, há a evolução de maturidade da ambiência e estética do longa. A trilha sonora está mais sombria, as cores mais tensas e que causam desolação e desespero dos personagens. A sequencia inicial com Hermione é tocante e triste, conseguindo retirar uma carga emotiva de Emma Watson. Quanto as cenas de ação é interessante analisar a tentativa, em algumas, de torná-las mais reais. Sai os nomes dos feitiços, entra raios destruidores, o que poderia fazer com que imaginássemos pistolas nas mãos dos bruxos e achar que era um filme de policial.
Apesar da curta participação, Bill Nighy como o novo ministro da magia Rufus Scrimgeour marca sua passagem. A narrativa inicial, adicionado com sua interpretação e carisma fazem valer a contribuição do ator inglês no elenco. Outro que se destaca é Peter Mullan que interpreta o bruxo das trevas Yaxley, suas feições fortes e maldade exprimida nos olhos tornam a sequencia da invasão do Ministério da Magia ainda melhor e com o título de melhor sequencia de ação do filme. A atriz Imelda Staunton como Umbridge absorveu o papel de forma assustadora. É legal o que o roteiro proporciona, a poção polissuco que transforma o usuário em uma outra pessoa dá uma chance muito divertida a atores “figurantes” que em outros filmes não teriam a mesma chance. Como aconteceu em Harry Potter e a Câmara Secreta (2002) com o destaque para Crabbe e Goyle, aqui três personagens desconhecidos se destacam com suas expressões e trejeitos dos protagonistas. Isso poderia ter sido mudado caso o diretor escolhesse mostrar apenas os atores principais e num jogo de câmera descartar as atuações dos figurantes. Ainda bem que não fizeram isso e optaram por ensaiar bem as interpretações dos coadjuvantes.
Mas enquanto aos principais? Acredito que em relação a atuações destacam-se os papeis menores, mas é nítido a melhora dos nossos três protagonistas. Já Ralph Fiennes embarcou em uma interpretação teatral demais para Voldemort, tão teatral que fica difícil achar que seus seguidores realmente precisam ter medo dele. É mais fácil temer Yaxley ou Nagini, cobra de estimação do Lorde das Trevas.
Mas nem tudo são flores no sétimo filme. Apesar dos efeitos especiais estarem bons, o filme peca em exagerar nas cenas do acampamento. No livro, os personagens sofrem com a falta de ação que é esperar o momento para agir e David Yates conseguiu passar essa sensação para nós. As cenas emotivas ou solução de enigmas são artificiais demais ou não fortes o suficiente para que compensassem a falta de ação e extensão da sequencia do acampamento. Essa extensão poderia ser reduzida para mostrar cenas que não estão no livro, como mortes de personagens que foram apenas citadas na trama, perdeu-se a oportunidade de mostrar o que houve, sob o aval da autora e assim apresentar algo de novo ao público.
Contudo, poucos contras afetam o desempenho de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1. A primeira parte do desfecho da séria capta vários momentos interessantes do livro, possui uma direção envolvente e caprichada. Um ótimo preparador para o final da série, que aposto em uma coisa: o duelo de Voldemort e Harry Potter vai ser bem melhor do que o do livro.
Nota: 8
Rafael Sanzio
Nenhum comentário:
Postar um comentário