Antes de começar a crítica é preciso esclarecer um termo utilizado entre os cinéfilos e é muito importante que àqueles que desconhecem a palavra saibam seu significado para não serem pegos de surpresa. O termo ao qual me refiro é “SPOILER” esta palavra quando antecede algum texto sobre um filme alerta que as informações a seguir contem detalhes da trama do filme que talvez você não queira saber se ainda não o assistiu. Ou seja, caso veja esta palavra, pense duas vezes antes de continuar a ler, da mesma forma que é importante você colocar a palavra spoiler bem nítido no começo de qualquer texto que vá contar detalhes específicos dos filmes, os cinéfilos agradecem.
O filme A Origem (2010) parte da interessante ideia de um mundo onde as pessoas podem invadir os sonhos e roubarem segredos de suas vítimas. Temos a sensação de estarmos em um filme de Matrix, sem as excessivas pancadarias e de certa forma mais real. Christopher Nolan já se firmou como um diretor criativo, capaz de realizar filmes com roteiros bem amarrados e tramas envolventes.
A história acompanha Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão de sonhos que tenta desesperadamente encontrar uma forma de voltar aos EUA sem ser preso devido a uma acusação por homicídio. A oportunidade aparece quando um empresário japonês Saito (Ken Watanabe) propõe uma troca, que Cobb consiga implantar uma ideia na mente Richard Fischer (Cillian Murphy) herdeiro das empresas Fischer, caso seja bem sucedido nessa tarefa impossível para os especialistas da área, Saito irá ajudá-lo a voltar para os Estados Unidos. Cabe a Cobb reunir uma equipe talentosa para realizar esse feito.
A sensação e comparação com o filme Matrix (1999) é constante. Pois Nolan reitera no seu roteiro acerca do que é real e o que é uma ilusão. Contudo, há maior liberdade no mundo dos sonhos do que da Matrix. As modificações na geografia do mundo estão a mercê do Arquiteto, sujeito criador do sonho no qual os outros foram inseridos. Graças a essa trama, a estética do filme fica interessante com as possibilidades conferidas, a mudança de cenário, a destruição do ambiente por parte de fatores externos, a gravidade zero entre outras idéias criativas para assimilação da influencia externa nos nossos sonhos.
O que faz uma ideia dessa funcionar é com quanto de naturalidade você apresenta para o público. Christopher Nolan decide jogar o público no mundo de A Origem sem sabermos de como funciona as regras do jogo, ficamos perdidos, mas presos a tentar entender o que se passa e as conseqüências de cada ato dos personagens na trama. Porém, didaticamente Nolan insere o que podemos chamar de “aprendiz”, personagem que está entrando agora no mundo desconhecido e que vai ter a tutela do protagonista ou de outro personagem e enquanto aprende as regras o público finalmente fica ciente das regras daquele universo fílmico. Esse papel cabe a personagem de Ariadne (Ellen Page).
Em um mundo dos sonhos existem cortes rápidos que nos fazem pular de uma cena para outra, esse detalhe é alertado no filme, mas como na maioria dos longas-metragens, o filme também possui cortes de uma cena para outra, então como saber se o que está acontecendo é um sonho ou não? Essa é uma das brincadeiras feitas por Nolan para embaralhar a mente do público. As cenas de ação no filme merecem destaque, principalmente a tão falada luta em gravidade zero.
Em termos de interpretação Tom Hardy (Eames) rouba a cena, Leonardo DiCaprio não apresenta nada de novo e fica muito parecido com sua interpretação raivosa de Ilha do Medo (2010). Os demais atores trabalham com naturalidade, formando uma equipe dinâmica e carismática, o que nos faz torcer para que A Origem não seja aquele típico filme de equipe, no qual cada membro vai morrendo em um determinado ponto da trama.
A Origem é um filme de ação com trama envolvente e momentos originais. Christopher Nolan consegue criar mais um filme que fica na mente das pessoas mesmo ao final da sessão, até acabar a semana. Realizador de Amnésia (2001), O Grande Truque (2006) e Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), qual será o próximo sucesso do diretor?
- SPOILER – O tão falado final de A Origem não passa de uma brincadeira do diretor para pegar os adoradores de tramas conspiratórias. O final com o peão girando, podemos perceber uma mudança no som, nítida de um peão quando pára de girar. Podem até falar da coincidência das crianças usarem a mesmas roupas da visão de Cobbs, mas conseguir a façanha de entrar em um sonho, depois no outro e depois no outro é demais. Pode ser que ao sair do aeroporto ele foi pego pelos homens de Saito e induzido ao sono. Mas quem seria o Arquiteto a se dispor de horas de sono com ele? O pai poderia fazer isso, mas ele mesmo não queria que Cobb vivesse em uma ilusão. Bem prefiro ser da turma dos otimistas e que ele conseguiu voltar para casa. Mas a intenção de Nolan foi essa com aquele final, propagar a discussão do que é real e imaginário.
Nota: 9,5
Rafael Sanzio
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