segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Crítica dos Clássicos: Janela Indiscreta

Hitchcock é considerado um dos grandes diretores de cinema e possui o título de mestre do suspense. Dirigiu filmes como Festim Diabólico (1948), Psicose (1960) e Pássaros (1963). Em Janela Indiscreta (1954) expõe o público ao vouyerismo já existente em todos aqueles que assistem a um filme, mas que com o uso da câmera subjetiva nos torna mais invasivos do que antes.

Na trama o fotógrafo profissional J.B. Jeffries (James Stewart) está em uma cadeira de rodas por causa de uma perna quebrada e é obrigado a ficar preso dentro do seu apartamento. Enquanto o tédio aumenta, surge a obsessão em passar o tempo bisbilhotando a vida de seus vizinhos através de sua janela. Quando começa a suspeitar que o vizinho vendedor possa ter matado a própria mulher, Jeffries conta com a ajuda de sua namorada Lisa (Grace Kelly) para desvendar esse mistério.

Podemos observar a proposta temática de Hitchcock sobre o “espetáculo da vida alheia” com a abertura inicial, com as cortinas das janelas abrindo-se como uma cortina de um teatro. O começo do filme nos coloca imediatamente no lugar de um bisbilhoteiro, com a câmera praticamente subjetiva (apesar de não estar no ponto de vista de ninguém) enquanto percorre pelo apartamento de Jeffries, olhando avidamente para as fotos do personagem, para ele mesmo e percorre o apartamento por inteiro onde descobrimos as causas de seu acidente e o seu modo de viver. Esta cena inicial é também uma das poucas cenas onde a focalização narrativa não está no protagonista.

A câmera subjetiva é o plano de câmera mais importante nessa obra. É ela que nos coloca sob a ótica do personagem principal, conferindo-nos a própria pele de um vouyer. Como um grande diretor que é Hitchcock não comete o erro de deixar apenas a visão da câmera subjetiva, ele sempre mostra a reação de “Jeff” a tudo que ele está vendo. Ou seja, há a chance para o público se identificar com o herói, não criando assim um distanciamento desnecessário que diminuiria a potência dramática do filme como aconteceu em A Dama do Lago (1938) de Robert Montgomery. É com a câmera subjetiva que testemunhamos outro ponto interessante no filme de Hitchcock: as sub-tramas perpetradas pelos vizinhos do personagem principal. Há a bailarina amadora, o casal recém-casado, a mulher solitária, o pianista, o casal com o cachorro, a velha artista plástica excêntrica e o vendedor suspeito com sua mulher enferma.

A trilha sonora é quase que completamente composta por músicas diegéticas, provenientes do piano do vizinho compositor ou de algum rádio ligado. Esse uso diegético do som profere ao filme uma verossimilhança com a realidade, tanto que o único momento que o som causa um impacto de irrealidade é na música não-diegética nos créditos iniciais, mas o mesmo está fazendo referência a abertura de um espetáculo.

Para a mentalidade cinematográfica atual graças a Hollywood, o filme pode ser considerado lento. Essa mesma perspectiva pode ser gerada pelo já desgastado uso do suspense “Hitchcockiano”, Janela Indiscreta como outros filmes do diretor já possuem remakes ou modernizações como o filme Paranóia (2007) com Shia LaBeouf no papel principal e o brasileiro O Outro Lado da Rua (2004) com Fernanda Montenegro.

Mas é necessário evidenciar a maestria com que Hitchcock trabalhava com o suspense e a surpresa, o diretor sabia diferenciar esse dois elementos da narrativa. A surpresa acontece quando o público é arrebatado por algo que não esperava que acontecesse, enquanto que o suspense é algo que o público conhece, mas que a personagem desconhece. Exemplo de surpresa nesse filme em particular é a seqüência em que todas as suspeitas pareciam infundadas e de repente um grito alerta para a morte inesperada do cachorro. O suspense bem explícito é a seqüência onde a personagem de Grace Kelly está dentro do apartamento do vizinho e apenas o público, juntamente com Jeff e sua enfermeira sabemos que o possível assassino chegou a casa. Hitchcock utiliza-se da paralepse quando mostra apenas para o público que o vendedor saiu de casa acompanhado de uma mulher, criando assim para nós a expectativa de qual vai ser a reação de Jeff ao descobrir esse novo elemento da trama.

Jimmy Stewart não possui os padrões de um galã tradicional, mesmo sendo, sua condição de impotência e gesso na perna não ajudaria em seu charme, mas sua condição de personagem comum facilita na identificação com o público. Já a atuação de Grace Kelly está bem mais “viva” do que em Disque M para Matar (1954) e Hitchcock nos confere uma cena em particular com um close no belo rosto da atriz. Os vizinhos praticamente utilizam-se de uma atuação teatralizada por causa da distância na câmera igualando-se com a própria distância de um palco de teatro, isso não ocorre nas cenas onde Jeffrie usa do binóculo ou tele-objetiva da câmera ou na seqüência da morte do cachorro na qual as personagens da bailarina e mulher solitária aparecem em primeiro plano.

Janela Indiscreta detêm muitos exemplos do estilo de direção de Hitchcock, a fotografia da seqüência onde Jeff fica finalmente próximo ao seu suspeito possui várias sombras em posições significativas. Como a sombra no rosto de Jeff, pois como era ele que invadia a privacidade dos outros ele tenta permanecer como personagem anônimo e a réstia de luz apenas nos olhos do assassino deixando-os mais penetrantes e ameaçadores.

O mestre do suspense não irá perder esse título, mas o constante uso de seus elementos narrativos na atualidade pode gerar o desgaste de suas obras. Mas não para aqueles que respeitam os clássicos e que sabem diferenciar os originais das cópias.


Nota: 9


Rafael Sanzio

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A Saga Crepúsculo: Lua Nova


Em meio a gritos histéricos e fãs descontroladas, fui conferir a seqüência do filme Crepúsculo (2008), baseado no livro de Stephenie Meyer. O novo filme da saga dos vampiros Cullen evolui no que diz respeito a trama e na própria maneira de fazer cinema. Enquanto que o primeiro tinha ares de telefilme, o segundo filme deixa a modéstia de lado caprichando nos efeitos especiais e narrativa.


Na trama, Edward (Robert Pattinson) percebe que pode estar levando Bella (Kristen Stewart) a um caminho perigoso ficando ao seu lado, decide então abandoná-la e desaparecer de sua vida. Esta é a oportunidade para que Jacob (Taylor Lautner) firme os laços de amizade com ela, mas com isso Bella descobre mais seres sobrenaturais em sua vida, membros da reserva indígena são capazes de se transfigurar em lobos gigantescos. Bella se vê então entre uma antiga luta de vampiros contra lobos.


O que primeiro tenho que comentar é o aumento da qualidade do filme. Após o sucesso de Crepúsculo, os produtores investiram mais na seqüência, caprichando nos efeitos especiais. Os lobos ficaram bem feitos e a primeiro momento não há discrepância entre o real e o digital como acontece em King Kong (2005) de Peter Jackson. Essa impressão de melhora do filme se deve ao fato da melhora da trama, com o acréscimo de elementos como os lobos e a sociedade vampiresca, deixando de ser apenas um romance entre uma humana e um vampiro. Lua Nova (2009) chegou ao nível mediano de filmes de ação e drama.


Com esse novo olhar, começa a mudar também a forma narrativa. Timidamente o diretor Chris Weitz abre espaço a novas possibilidades, digo timidamente, pois mexer em uma série com tantos fãs histéricos pode ser perigoso. Ele acerta em detalhar ou explanar visualmente momentos do livro como na seqüência em frente ao quadro com Edward narrando a história dos Volturi ao mesmo tempo em que a imagem mostra a história dos mesmos, recurso utilizado em filmes épicos o que mostra como Lua Nova é tratada com mais grandiosidade em comparação ao primeiro. Chris Weitz utiliza-se também de flashbacks, mas o que poderia ser cansativo se ele fosse didático demais, torna-se compreensível já que ele escolhe por rápidos vislumbres do passado.


Já falei das fãs histéricas? Bem, elas não precisam de motivos para gritar, mas o filme concede momentos para isso. É perceptível essa intenção ao colocar Edward caminhando em câmera lenta ou Jacob sem camisa na chuva ou em qualquer lugar. O diretor também acerta com a narrativa na seqüência onde Bella está deprimida e vai passando os meses com ela na mesma posição, essa elipse é bem empregada aqui, ficaria perfeito se não mostrasse a legenda dos meses fazendo com que a passagem do tempo fosse notada apenas pela paisagem na janela.



A nova safra de atores dá um novo gás a trama, principalmente nas fileiras dos Volturi. Michael Sheen (Aro) está delicado e confortável no papel, o mesmo pode-se dizer de Christopher Heyerdahl (Marcus) e Jamie Campbell Bower (Caius). Dakota Fanning (Jane) trás seu rosto inocente para uma personagem diabólica. Robert Pattinson não mudou nada, com suas expressões esquisitas que parece ter comido algo estragado, Kristen Stewart continua mordendo os lábios, Taylor Lautner oferece vitalidade e calor a trama da mesma forma que seu personagem. Billy Burke (Charlie Swan) tornou-se o alívio cômico e não desagrada dessa maneira. O núcleo que ficou realmente decepcionante foram os lobos, não passando mais do que quatro caras que só vivem sem camisa.


A fidelidade com o livro é quase total. Com algumas liberdades aqui e ali, a saga Crepúsculo agrada aos fãs e entre finalmente na categoria de filme para cinema. Agora para cinéfilo que se preze vai um conselho: se pretende mesmo assistir o filme, escolha a última sessão, caso contrário você vai apenas ver e ler o filme enquanto adolescentes histéricas gritam na fila atrás de você.



Nota: 8



Rafael Sanzio

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Os Fantasmas de Scrooge - Recomendo!


Robert Zemeckis começou com a tecnologia 3-D estereoscópico com captura de movimento com O Expresso Polar (2004), passando para A Lenda de Beowulf (2007) e finalmente chegando com Os Fantasmas de Scrooge (2009). Nota-se a evolução do trabalho de Zemeckis com esse tipo de animação, no início soava falso e os movimentos artificiais, com Beowulf o diretor trabalhou a movimentação e a textura dos personagens e com essa nova animação Robert Zemeckis chega a um novo patamar com um trabalho admirável e belo.


Um conto de Natal é uma das obras criadas por Charles Dickens em 1843, fora adaptado diversas vezes para desenhos, cinema e quadrinhos. A história acompanha o avarento senhor Scrooge, que odeia o natal e considera que devemos passar nossos dias pensando em poupar dinheiro ao invés de celebrar qualquer tipo de coisa nessa vida. Seu rancor chega até um ponto que é necessário a intervenção dos fantasmas do natal passado, presente e futuro numa tentativa de mudar o coração do velho rabugento e com isso salvar sua alma e o natal de muitas pessoas. Para quem já viu muitos natais, essa história de Dickens já é bem conhecida, Zemeckis não a atualiza, mas a renova com o estilo de sua apresentação em animação 3-D.


Animação está bem trabalhada em todas as suas cenas e há um primor em especial no personagem de Jim Carrey, Sr. Scrooge. É impressionante os traços, rugas, pequenas tremidas de lábios que apresenta a face de Jim Carrey, com tamanha atenção ao personagem principal os demais podem parecer mais caricatos e artificiais. Aqui no Brasil a dublagem do protagonista ficou ao encargo de Guilherme Briggs que consegue manter o ritmo da obra sem cometer deslizes. Mas a animação prima tanto pelo realismo que os cinemas (ao menos aqui na cidade) deveriam ter aberto uma exceção e veiculado mais cópias legendadas de Os Fantasmas de Scrooge, como conferi apenas a versão dublada, não posso testemunhar se a dublagem de Jim Carrey está exageradamente afetada nos personagens que interpreta.



E como o termo “animação” é erroneamente ligado a crianças, definitivamente vale o aviso, Os Fantasmas de Scrooge não tem como público alvo crianças. O ambiente é sombrio e taciturno, até mais que A Lenda de Beowulf pois este prima pela ação ininterrupta, a animação de Zemeckis confere ao espectador momentos de sustos e morbidez, ligados ao realismo da fotografia e animação o filme proporciona momentos de terror psicológico em seu começo e cenas de uma crueza horripilante, como na seqüência do fim do espírito do natal presente e a apresentação dos seus dois filhos.


Uma desvantagem maior é apresentada para aqueles que não assistem a versão 3-D, há diversas seqüências que favorecem esse tipo de formato, que se tornam longas demais para aqueles que não estão na mesma sintonia 3-D. Exemplo disso é a seqüência com o espírito do natal presente em seu passeio com Scrooge em sua casa flutuante sem chão.


Apesar disso Os Fantasmas de Scrooge não deve ser deixado de ser visto na tela grande do cinema. O esmero com que Zemeckis trabalhou nessa obra é evidente em cada ruga de Scrooge. Uma história clássica de natal que vale a ida ao cinema por sua estética impressionante e realista.



Nota: 9


Rafael Sanzio

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Animação em Dose Dupla

Tive a oportunidade de conferir duas animações: Tá Chovendo Hamburguer (2009) dos diretores Chris Miller e Phil Lord e Os Fantasmas de Scrooge (2009) de Robert Zemeckis. O interessante desta oportunidade foi de analisar a diferença da forma dos filmes e da semelhança que existe entre eles.

De um lado um filme despretensioso e simples, que mostra sua falta de pretensão nos traços de seus personagens e na preocupação de fazer rir com boas gags e tiradas cômicas. Já o novo filme de animação de Robert Zemeckis prima pela perfeição dos traços dos personagens, dando-lhes uma verossimilhança com a textura humana cada vez mais real.


A semelhança entre essas duas animações é o fato de disporem da versão em 3D e que já está virando uma regra para as animações futuras, o que deixa para trás os cinemas que não possuem suporte para esse tipo de sala. Os diretores já montam longas seqüências que fazem o público de animação 3D saltar da poltrona, enquanto que para os demais usuários normais torna-se enfadonha por não estarem sentindo a mesma emoção que teriam em 3D.


Se é por esse caminho que segue o futuro das animações, é necessário maior empenho dos cinemas para garantir ao menos uma sala que suporte a tecnologia 3D para o bem dos cinéfilos que querem sentir toda emoção que o diretor propôs ao criar seu filme.



Rafael Sanzio

domingo, 18 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

Quentin Tarantino volta ao circuito cinematográfico com o filme Bastardos Inglórios (2009). O diretor é conhecido por abordar temáticas violentas e originais, mas ao escolher um enredo envolvendo a 2ª guerra mundial e a luta contra os nazistas arriscou-se a entrar na roda da rotina, oferecendo ao público mais do mesmo em relação a velha história da perseguição dos judeus e dos horrores da guerra. Contudo, Quentin Tarantino conseguiu imprimir sua marca nesse filme de tema “controlado” e ainda foi mais além, justificando o porque de ser considerado um diretor apaixonado por cinema e sem medo de quebrar barreiras.


A história acompanha um grupo de soldados americanos judeus que lutam de forma selvagem nos campos da frança para impor medo às tropas de Hitler, eles se auto- intitulam Bastardos Inglórios. Enquanto tentam escalpelar o maior número de nazistas que podem, uma judia encontra uma oportunidade para vingar a morte de toda sua família pelos soldados alemães.


Uma das principais características dos filmes de Quentin Tarantino são seus personagens marcantes, cada um tem uma personalidade bem definida e o diretor fez um belo trabalho na escolha dos atores que vão interpretá-los. Destaque para o personagem Hans Lander (Cristoph Waltz) que consegue passar carisma e terror ao mesmo tempo, ele protagoniza a maioria das melhores cenas do filme, dando vida ao aos diálogos bem montados por Tarantino. O próprio grupo dos Bastardos Inglórios também se destaca, com personagens singulares e divertidos, como o tenente Aldo Raine (Brad Pitt) e o sargento Hugo Stiglitz (Til Schweiger). Todavia, agradeço por não ter tido mais cenas com Mike Myers, que estava completamente esquisito no participação especial como o general Ed Fenech.


Um detalhe interessante da produção é a seriedade com a verossimilhança da língua da região onde se passa o filme. Tarantino respeita a língua usada em cada cena, ou seja, se o personagem é francês fala francês, se é alemão fala alemão e sempre justificando com coerência o uso do inglês em algumas cenas. Diferente do trabalho em Operação Valkyria (2008) que apesar dos personagens serem alemães, continuavam falando em inglês, o que a falta de coragem ou de liberdade em relação aos produtores não faz com um filme.


A trama de Bastardos Inglórios divide-se entre a vida de Shosanna (Mélanie Laurent) e a missão dos Bastardos. No meio das duas tramas são inseridos diversos personagens que enriquecem cada vez mais o filme. Como se é de se esperar nos filmes de Tarantino, diálogos bem amarrados e carregados de uma tensão onde aparentemente tudo pode explodir em um banho de sangue. Único momento monótono são as seqüências do relacionamento criado entre Shosanna e um herói de guerra alemão, mas mesmo nessa monotonia há situações onde carrega-se no suspense, graças ao personagem Hans Lander.



Mesmo que Tarantino tenha escolhido a liberdade poética para a realização de muitas cenas, não podemos deixar escapar alguns momentos difíceis de engolir. Como bêbados subitamente possuírem reflexos rápidos e boa pontaria ou personagens correrem sem prudência com bananas de dinamite presas nos tornozelos. Mas tudo em nome das reviravoltas e momentos memoráveis típicos de um filme de Quentin Tarantino.


Samuel Jackson empresta sua voz para fazer a narração que em alguns momentos faz alusão às propagandas produzidas pelo ministério da propaganda de Hitler. Quentin Tarantino volta a usar músicas da trilha de Kill Bill (2003). A violência do filme ganha maior qualidade com o trabalho realista dos efeitos especiais, para aqueles mais sensíveis vale o aviso de que o espancamento com um taco de baseball e os escalpes de cabeça são bastante explícitos.


Quem achava que faria uma viagem tranqüila assistindo um filme do já manjado tema Segunda Guerra Mundial, vai se surpreender com a coragem de Quentin Tarantino, deixando sua assinatura e ousando até mesmo ir contra a História para poder fazer o seu faroeste de guerra com todos os elementos e desejos que tinha em sua mente.


Rafael Sanzio


Nota: 9,5

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Noite Americana


Quando gostamos do nosso trabalho ficamos felizes por cada segundo que passamos ao realizá-lo. Com o filme A Noite Americana (1973) o diretor François Truffaut expõe de forma clara e delicada o seu amor pelo cinema.


O diretor François Truffaut interpreta Ferrand, diretor do filme “A Chegada de Pamela”, acompanhamos a produção deste filme, os bastidores, as histórias que se desenvolvem como a própria trama do filme que a equipe está realizando. Na equipe há figuras peculiares como Severine (Valentina Cortese) uma atriz que começa a sentir o peso da idade e não consegue decorar as falas, Alphonse (Jean-pierre Léaud) um jovem ator mimado e impetuoso e Julie (Jacqueline Bisset) estrela hollywoodiana que vêm de um colapso nervoso.


Uma das grandes características do filme é a metalinguagem. Com o início do filme pode-se pensar que estamos observando o início da trama, mas na verdade não passa da gravação do filme dentro do filme. Truffaut mergulha tanto nesse mecanismo que muito dos papéis de integrantes da equipe da história são preenchidos pela própria equipe de A Noite Americana. O filme não pretende ser didático, mas sim uma homenagem ao “fazer cinema” e uma declaração de amor por parte do diretor.


A música tem sua importância no filme. Nos créditos iniciais Truffaut oferece ao público a oportunidade de se inserir na trilha sonora. Escutamos a orquestra e o responsável pela trilha. Além de observarmos o gráfico digital do som da trilha. Na seqüência onde Ferrand escuta uma das trilhas para o filme que está realizando notamos uma das declarações de amor de Truffaut, enquanto a música com teor romântico insere-se na cena o personagem coloca diversos livros na mesa, cada livro sobre cinema e um diretor famoso: Rosselini, Hitchcock, Godard, Ingmar Bergman, Bunuel. Mestres do cinema que possuem o respeito por parte de François Truffaut.


O elenco possui a bela Nathalie Baye, que teve sua primeira oportunidade como atriz nesse longa metragem. Mas o destaque vai para o personagem de Truffaut. Ferrand possui uma calma e suavidade quase que inabalável, muito diferente das personalidades dos diretores da época, que costumavam ser carrascos e/ou achar que atores são meras ferramentas. Mas quem conhecia Truffaut alega que o personagem Ferrand não difere muito do próprio diretor, que dirigia seus filmes com uma delicadeza que realmente transmitia sua admiração e amor pelo cinema.



Ao término de A Noite Americana uma questão fica no ar: Os filmes são mais importantes que a vida real? Truffaut dedicava-se ao cinema, seu personagem praticamente não tinha vida pessoal, utilizava-se dos filmes para deixar um legado e uma mensagem que por outros caminhos poderia ser esquecidos facilmente. Mas no desenvolver da trama, vemos que as histórias dos integrantes da equipe têm muito mais intensidade do que o próprio longa metragem que produzem. Contudo, para nós, essa vida real também faz parte de um filme.


Com uma metalinguagem envolvente, Truffaut cria uma sincera homenagem ao cinema, testemunhamos o seu amor por filmes e nós que admiramos, amamos e respeitamos essa arte nos sentimos realizados e satisfeitos ao término do longa. Obrigado François Truffaut.


Nota: 10

Rafael Sanzio

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

UP - Altas Aventuras


Quando atingimos a velhice é comum optar por uma vida de sossego para recompensar o tempo de trabalho que realizou até ali. Contudo, há aqueles que se referem ao idoso como uma pessoa que já não pode mais ser útil, realizar grandes feitos, que deveria ser colocado de lado (em um asilo) para não atrapalhar o avanço da modernidade. Apesar de ser uma ficção e cheia de fantasia, UP – Altas Aventuras (2009) retoma essa questão. O uso da força de vontade para superar as dificuldades e seguir com seus sonhos, seja você um idoso ou uma criança, ainda será capaz de grandes feitos e de participar de grandes aventuras.


A animação acompanha a vida de Carl Fredricksen (voz de Chico Anysio), um velho vendedor de balões que se tornou amargo após a perda da companheira. Apegando-se obsessivamente à casa onde moravam, Carl atrapalha os planos de uma grande construtora de mordenizar o quarteirão. Após um incidente envolvendo uma caixa de correio e uma bengala, o velhinho é sentenciado a viver no asilo. Preocupado em perder a casa, ele enche vários balões e leva-a as alturas indo de encontro ao sonho da sua mulher.


A Pixar sempre surpreende com seus filmes de uma delicadeza ímpar. O que mais pode chamar a atenção é a sequência onde em dez minutos vemos toda uma vida passar em nossos olhos. Mas não de uma forma leviana, mas com momentos de drama e ternura entre o casal. É uma forma de entendermos protagonista e sua situação atual. A construção dos demais personagens é satisfatória, até mesmo o vilão que pode ser apenas taxado como louco tem sua profundidade, ao analisarmos como ele foi incompreendido e injustiçado pelos cientistas.



A voz de Chico Anysio não incomoda, é absorvida com facilidade pelo personagem e se torna natural em poucos minutos. É muito interessante a forma de tradução da voz do cachorro Dug, o diálogo desse personagem retrata com maestria o que realmente o amigo do homem diria em diversas situações, como por exemplo: “Eu estava escondido debaixo da varanda porque eu te amo”. Mas o personagem que divide os holofotes com o senhor Fredricksen é o escoteiro mirim Russel, sua ingenuidade e criancice arranca risadas do público.


UP – Altas Aventuras tem o selo de qualidade da Pixar, um trabalho bem feito e divertido. Não chega a ameaçar WALL-E no posto de melhor animação, mas há definitivamente momentos marcantes de drama e profundidade. Mais um acerto da Pixar e para quem gosta do gênero é obrigatório a ida ao cinema.


Nota: 9,5

Rafael Sanzio

domingo, 30 de agosto de 2009

Dragonball Evolution


De uma adaptação para outra. Dragonball Evolution (2009) é levemente baseado na série criada por Akira Toriyama, Dragon Ball. Com certeza este filme não deve agradar aos fãs do anime , muitas características foram deixadas de lado para poder agradar um público-alvo mais infantil. O longa-metragem tornou-se uma aventura quase genérica com algumas idéias de Dragon Ball inseridas.


A história de Dragonball Evolution segue os passos de Goku (Justin Chatwin), um jovem de 17 anos que é maltratado por valentões da escola que mal sabem que o garoto é mestre em artes marciais. Goku mora com o avô desde pequeno, aprendendo a lutar e conhecer as lendas do mundo. Em uma delas conta que o planeta quase foi destruído por Piccolo (James Masters) e seu parceiro Oozaru, mas o vilão foi aprisionado por milhares de anos. Ao completar 18 anos Goku recebe de presente uma esfera do dragão, ao mesmo tempo que misteriosamente Piccolo é libertado. Cabe a Goku e seus companheiros reunir as sete esferas do dragão para realizar um desejo perfeito e salvar o planeta.


A trama desenvolve-se sem muitas complicações, de um jeito genérico de encontrar aliados e reunir itens para um objetivo maior. É interessante analisar como o início da história lembra o início de Homem-Aranha (2002), do fato de ter um mentor idoso que quase chega a dizer “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades” ou a luta de redenção contra os valentões da escola. Que por sinal é uma das seqüências que mais empolga no filme.


As atuações são aqueles de se esperar de um filme desse nível mediano para baixo. Justin Chatwin não lembra nada o Goku da série original, mas desde o começo essa não era a concepção do personagem para os produtores e diretor, portanto sua interpretação ficou naquela categoria de herói em busca de treinamento. Emmy Rossum e Jamie Chung, a Bulma e Chi Chi respectivamente, são aquelas que demonstram mais empenho e empolgação em suas personagens. James Masters está deformado com a maquiagem de Piccolo, além de ser limitado a grunhidos e ações megalomaníacas (se bem que isso é típico dos vilões de Dragon Ball). Chow Yun-Fat (Mestre Kami) perceptivelmente brinca na atuação, proporcionando uma estranha mistura de humor e seriedade desequilibrada ao personagem, que mais uma vez difere do anime e para o filme não funciona por falta de empenho do ator em levar-se a sério. Talvez seja a melhor atitude para quando for explicar a participação neste tipo de filme.



Os efeitos especiais são um problema, principalmente nas seqüências da larva e de Oozaru. O Dragão das esferas perdeu grande parte de sua magnitude e presença que tinha no anime, o dragão chinês do filme D-War (2007) foi bem melhor apresentado e produzido do que este aqui. E Oozaru teve seus efeitos tão ruim quanto o lobisomem do filme brasileiro O Coronel e o Lobisomem (2005).


A 20th Century Fox foi um dos estúdios utilizados e também distribuiu o filme. Com exceção de X-Men, a Fox continua sua jornada de péssimas adaptações. As modificações feitas em Dragon Ball foram nítidas em suas intenções comerciais. Será preguiça ou o estúdio deveria parar de adaptar quadrinhos, animes e jogos? Os ventos não são favoráveis já que a série X-men também está caindo de nível. Dragonball Evolution só tem evolução no título.


Nota: 5,5


Rafael Sanzio