domingo, 30 de novembro de 2008

A Máquina


A Máquina (2006) é uma adaptação do livro homônimo de Adriana Falcão, somos levados à pequena Nordestina, uma cidadezinha perdida no sertão. Ela tem as características de uma cidade do interior do nordeste, pessoas trabalhadoras, religiosas, mas principalmente pessoas que sonham numa vida fora do sertão. É o que fica evidenciado pela van da cidade, sempre sai lotada e sempre volta vazia. Antônio (Gustavo Falcão) é um jovem apaixonado por Karina (Mariana Ximenes), ele vive para realizar todos os sonhos da garota, que deseja sair de Nordestina para ser uma atriz, na verdade, Karina quer mesmo é conhecer o mundo. O conflito surge quando esse sonho está prestes a se realizar, então Antônio, para não perder o seu amor, decide trazer o mundo para ela, o que trás grandes conseqüências para a pequena Nordestina.


O filme é uma deliciosa viagem na imaginação e de um texto rico de originalidade. Ele mesmo tem um “o quê” de experimental, com a cidade de Nordestina feita todo em estúdio e também com a fotografia nos momentos em que “A Máquina” vai fazer o seu show. Creio que essa escolha da Nordestina ser feita em estúdio e não em locações reais, tenha sido feita por causa da temática que o filme tem envolvendo os elementos da cultura midiática. Em contrapartida, existe uma forte presença teatral no filme, tanto nas atuações como na própria luz que incide e que sai, forçando um confronto com a presença importante da televisão na trama.



Eu não sou especialista em sotaques, portanto, não posso dizer se o filme pecou na atuação. Mas é de praxe existir um sotaque forçado quando os atores não são da região. Mas os atores dão um show de carisma e diversão pelo trabalho que fazem. Paulo Autran é um exemplo de narrador carismático e que prende a atenção, diferente da narração monótona de Carlos Vereza em Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008).


Quanto aos elementos midiáticos brasileiros no filme, aponto para a presença da TV sensacionalista que no filme é representado pelo programa do apresentador de TV (Wagner Moura). O filme critica essa banalização da vida, onde a desgraçada dos outros significa o aumento da audiência. Tanto, que na seqüência onde Antônio tenta convencer o público que está falando a verdade, o ibope aumenta quando ele começa a se emocionar, contudo, os picos máximos provêm do momento em que o personagem começa a descrever detalhadamente como será sua morte caso não consiga viajar no tempo. A globalização está presente no filme, para trazer o mundo até Karina, Antônio trás a televisão com ele, a mídia.


O filme pode parecer estranho no começo ou forçar em alguns momentos da trama, como Mariana Ximenes cantando (talvez resquícios dos filmes da Xuxa que Diler Trindade produziu), mas o conjunto da obra é algo que não poderia ser deixado de lado, deve ser conferido e apreciado!



Nota: 8,5



Rafael Sanzio

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Sonho de Cassandra

Faz um bom tempo que Woody Allen deixou para trás o favoritismo de Nova York para as locações de seus filmes, além de que ele vez ou outra produz um filme diferente das suas usuais produções cômicas. Como em Ponto Final - Match Point (2005), que aborda um tema mais denso de suspense, traições e assassinato. O Sonho de Cassandra (Cassandra's Dream, 2007) é o terceiro longa rodado em Londres e é um suspense dramático.

Ewan McGregor e Colin Farrel interpretam dois irmãos que passam por um momento da vida onde precisam de dinheiro para resolver seus problemas. O rico tio Howard (Tom Wilkinson), aparece para uma visita à irmã e, de uma salvação milagrosa, ele passa a ser o pivô de uma seqüência trágica de acontecimentos. Como em Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto (2008), veremos como tudo pode dar errado num plano “infalível”.

É interessante analisar a diferença entre os dois irmãos. Ian (Ewan McGregor) está sempre pedindo carros emprestados da oficina do irmão, nós percebemos como ele é aproveitador e ganancioso. Enquanto isso, Terry (Colin Farrel) é um rapaz humilde que infelizmente é viciado em jogos. Quando a trama se desenvolve, percebemos o quanto Ian manipula o irmão e este sofre com sua consciência pesada por ter feito o servicinho para o Tio Howard. Há detalhes a acrescentar para a personalidade dos dois irmãos, como as definições dos pais para cada, colocando Ian como o cérebro dos dois. E no filme vemos que cérebro não é sinônimo de boa índole. Tanto que os motivos que levam Terry a aceitar a proposta do tio são completamente diferentes dos motivos de Ian, que ao meu ver, não precisariam de uma decisão tão drástica.

A Interpretação de Colin Farrel se destaca, nos deixa angustiados também, esperando ansiosamente pelo final do filme. O filme começa um pouco devagar, deixando seu grande trunfo para o suspense que impera da metade do filme para o final.


O Sonho de Cassandra tem início na compra do barco que fora batizado com o título do filme, nome este que era do cachorro de corrida que proporcionou o dinheiro para a compra do barco. E poeticamente o filme termina com o barco também, o local onde a união e a discórdia entre dois irmãos selaram seu destino.

O problema do filme é que sua proposição fala sobre escolhas certas e erradas. E o filme peca ao construir um desfecho, além de óbvio, incoerente por ter terminado não por uma escolha (certa ou errada), mas por uma finalização que foi deixada nas mãos do puro acaso. Um final que deixa muito a desejar.


Nota: 8


Rafael Sanzio

sábado, 22 de novembro de 2008

The Rolling Stones - Shine a Light: DVD


The Rolling Stones - Shine a Light (2008) não deve ser considerado um documentário e sim um show com escassas informações. Além disso, é a comprovação da tietagem de Scrosese pela banda inglesa. O filme é só para fãs e explico o por quê.


Eu gosto das musicas do Rolling Stones, mas não sou fã incondicional, o filme seria válido para mim pelas informações obtidas durante o “documentário”. O mesmo começa com os bastidores dos preparativos do show no Beacon Theater. Para mim, a edição desses preparativos me deram um ar de artificialidade, Scorsese demonstra as dificuldades de comunicação entre sua produção e a banda inglesa. Mas tudo soa como algo interpretado para dar aquele ar de rebeldia de uma banda de rock.


Para quem esperava um documentário decente, você se vê diante de um show dos Rolling Stones e algumas cenas antigas da banda e casos que aconteceram. Uma delas sendo a prisão de Keith Richards, mas a falha é que não se aprofunda o fato, como aconteceu, por quê, com certeza os fãs da banda sabem os motivos, mas nós não.


Eu assisti ao DVD original brasileiro e este comete o pecado de não ter legendas durante as músicas. Alguns diriam “aprenda inglês”, mas tente entender o que eles cantam se os cantores praticamente resmungam e arfam para conseguir cantar. Além do mais, fiquei sem saber se as letras dariam alguma informação adicional condizente com as partes documentais do filme.



Os momentos mais interessantes são os com Keith Richards, Scrosese coloca entrevistas durante os momentos que o guitarrista canta "You Got the Silver" e "Connection". Essa dinâmica não acontece nas musicas de Mick Jagger, por que? Porque Keith é mais legal. Creio que ele não se importou de ter na edição outras imagens intercaladas durante sua performance no show.


O que temos que admitir é que os velhinhos tem energia. Mas o filme em si não acrescenta muita coisa para nossos arquivos da banda, é um show e um show só para fãs.


Nota: 7

Provável nota dos fãs (e com gritinhos ao fundo): 10



Rafael Sanzio

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

007 - Quantum of Solace

Possuindo a marca de melhor abertura entre as séries de James Bond, 007 – Quantum of Solace (2008) mantém a essência de Cassino Royale, um Bond mais violento, bruto, sem tempo para dar explicações aos chefes.

O novo filme é uma continuação direta de Cassino Royale, tanto que temos a impressão que estamos vendo o “meio’ de um filme, muita ação e sem perder o ritmo. James Bond (Daniel Craig) está atrás de vingança, procura pelos responsáveis pela morte de Vesper Lynd (Eva Green). No caminho une forças com Camille (Olga Kurylenko), para derrotar Dominic Greene (Mathieu Amalric), homem que faz parte de uma misteriosa organização que possui braços poderosos em todos os lugares do mundo.

Acho interessante falar sobre as comparações entre o novo James Bond e Jason Bourne. É evidente o fato de que a nova onda dos agentes violentos deve-se aos filmes do agente Bourne. Contudo, 007 mantêm o fôlego enquanto o terceiro longa de Bourne diminuiu a qualidade e peca em ainda tentar se manter com o enredo “lembrei de mais uma coisa!”. Além de que o pakour de 007 é bem melhor que o do agente desmemoriado.

Sobre o filme, tem muitas cenas de ação, destaque para as duas primeiras que deixam sem fôlego. Sai a questão do pedido da bebida (que afinal, ele não está com cabeça para isso), volta os créditos iniciais com silhuetas de mulheres. O roteiro é aquela história de vilão com plano maligno e tal. Há também o infeliz enredo que diz: “quem anda com James Bond corre sempre perigo” e por causa disso testemunhamos a morte óbvia de um personagem interessante da trama.


Dedico uma parte dessa crítica para analisar se teremos outro vilão marcante como Jaws (aquele dos dentes metálicos) ou aquele cientista que tinha um gato branco. Le Chiffre (Mads Mikkelsen) de Cassino Royale contribuiu com sua forte presença e cicatriz. Nesse novo filme temos um baixinho e mirrado vilão junto com um caricato ditador boliviano. Eu entendo que pode ter sido proposital, a mente diabólica partir de alguém aparentemente inofensivo, mas escutar Mathieu Amalric dar gritinhos enquanto tentava lutar com 007 foi bem constrangedor.

Para ter um total aproveitamento do vigésimo segundo filme da série 007 você precisa assistir o 21°. Agora vou esperar o terceiro filme do agente com Daniel Craig para ver se realmente mudaram o personagem ou James Bond vai voltar a ter suas frases de efeito, frivolidades e quem sabe conhecer os cientistas que lhe darão novas e intrigantes engenhocas mortais. Eu estou gostando desse novo Bond e cá entre nós, ele dá uma surra nesse tal de Jason Bourne...


Nota: 8


Rafael Sanzio

domingo, 16 de novembro de 2008

Romance


Como é dirigido por Guel Arraes (Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro) fui assistir ao filme Romance (2008) achando que veria mais uma comédia do diretor. Contudo, logo nas primeiras cenas, percebemos a densidade do tema abordado que é o amor entre os dois personagens principais da trama.


A história gira em torno do amor de Pedro e Ana, um casal que se apaixonou no teatro durante os ensaios da peça Tristão e Isolda. O conflito se dá quando Ana consegue um papel na novela das 7 e logo tenta conciliar o teatro com a televisão. Pedro não consegue dividi-la com a televisão, já que possui igual amor pelo teatro. O casal se separa para se reunir três anos depois, com Pedro como diretor de um especial de TV, onde Ana é a atriz principal, em uma adaptação da história de Tristão e Isolda para o nordeste brasileiro.


O longa serve também para mostrar o embate entre o teatro e a televisão. Tanto que a escolha de São Paulo e Rio de Janeiro foram porque o primeiro é um grande produtor e consumidor de teatro e o segundo há um foco maior de TV.


Depois dessa primeira parte do filme que choca quem esperava uma comédia, começam a surgir os toques de humor na trama graças a Andréa Beltrão, Vladimir Brichta e outras participações especiais. Mas não estou condenando o teor do filme por não ser uma comédia, o diretor Guel Arraes agiu bem em não entrar em um estereótipo apesar de deixar sua eterna marca com as gravações no sertão da Paraíba.



A atuação de Wagner Moura e Letícia Sabatella está convincente, ao representarem atores numa peça de teatro e atores da vida real, a vida imita a arte e a arte imita a vida. O filme passa essa idéia, somos protagonistas de nossas próprias tragédias, romances impossíveis e por aí vai. O ator Wagner Moura deve ter adorado encenar várias peças teatrais num mesmo filme.


Romance é ótimo, vale ressaltar apenas que não se explica a formação do triângulo amoroso, não é convincente a paixão arrebatadora que surge entre Ana e Orlando (Vladimir Brichta). Fora isso, devo apenas avisar que você não vai ver mais um Lisbela e o Prisioneiro e sim um romance, eu devia ter desconfiado quando vi o título, não é mesmo?



Nota: 9


Rafael Sanzio

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Umberto D.


O Neo-realismo italiano tem como principais preceitos: utilização de atores não-profissionais, filmagens fora de estúdio, temas cotidianos e, principalmente, um enfoque humanista. Humberto D. (1951) é um trabalho do diretor Vittorio De Sica, participante ativo do movimento neo-realista, com outros filmes como Milagre em Milão (1950) e o aclamado Ladrões de Bicicleta (1948).


O filme é mais uma obra da parceria entre o roteirista Cesare Zavattini e Vittorio De Sica. Umberto D. surgiu pelo interesse de Zavattini em escrever uma história sobre um idoso de mesmo nome. O interessante é que o nome do pai do diretor é Umberto De Sica. Espero que esta homenagem seja apenas no nome, pois a história é um tanto quanto melancólica.


Acompanhamos a velhice do protagonista de nome Umberto que tenta sobreviver com uma aposentadoria muito baixa, segundo ele. A vida desse senhor é agüentar a senhoria que tenta expulsá-lo do seu quarto, enquanto ele busca formas de arranjar dinheiro para evitar isso. Mesmo com problemas financeiros, o velho insiste em cuidar de seu cachorro de nome Flike.


Logo é perceptível para nós que o protagonista não é simpático, o que deveria ser para facilitar o apreço do público para com ele. Mas não, Umberto é um velho chato que só é agradável com aqueles que o ajudam, além de ser orgulhoso, no que demonstra na seqüência aonde é incapaz de pedir esmola, mesmo precisando.


Vittorio De Sica falou que o importante no filme é o drama da inabilidade do homem de se comunicar com seus iguais. A sociedade, hostil a ele, e a humanidade, que o despreza, são representados no filme pela dona da pensão onde ele vive há anos. Ainda segundo o diretor, o filme fala sobre o egoísmo, aonde a dona da pensão tenta expulsar Umberto para fazer a reforma e assim melhorar sua vida. Isso é bem característico dos tempos atuais, o capitalismo exigindo a individualidade do ser humano, que deve esquecer os outros e buscar apenas o melhoramento pessoal. Sobre a inabilidade de comunicação, temos exemplos disso nas seqüências que Umberto tenta a ajuda de seus velhos conhecidos e acaba escutando várias desculpas ou testemunha fugas estratégicas.



Mas o próprio Umberto participa dessa inabilidade, na cena que Maria (empregada da dona da pensão), sofre pela terrível situação que se encontra, grávida e sem um pai para assumir o filho, o velho Umberto tem a insensibilidade de ameaçá-la e brigar com ela por ela ter perdido o cachorro dele. A garota está com um problema bem maior, a meu ver, e nosso protagonista preocupado com o cachorro. Realmente o animal tem o significado sentimental para ele, mas Umberto também é incapaz de se colocar no lugar de Maria.


Quanto as interpretações, fica aquela preocupação por ser um filme neo-realista. Contudo, apenas a atriz que faz Maria deixa a desejar, mas mesmo assim o carisma dela põe de lado essa questão. Há também pequenos erros de continuidade no filme e que não irão me convencer que são propositais, a exemplo da seqüência do restaurante popular, o segundo prato some por mágica ou o velho ao lado de Umberto que come (ou melhor engole) a comida em poucos segundos.


O filme desenrola sua trama até o final que todos esperam por causa de tanta desgraça que acontece. Mas acaba ao que parece em um final alegre, mas só para aqueles que são otimistas, pois os problemas não acabaram, o dinheiro é pouco e Umberto ficou sem um lugar para morar, quanto tempo irá levar para que ele fique novamente numa linha de trem?



Nota: 9,5


Rafael Sanzio

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Agente 86


Steve Carell usa da “seriedade” para praticar o humor. Seus personagens são tão convictos de suas ações ou ideais que é engraçado vê-los encarar situações absurdas ou vergonhosas com a mesma expressão de que tudo está normal ou sob controle.

Agente 86 (Get Smart, 2008) é uma versão moderna da série da década de 60 do mesmo nome. Maxwell Smart (Steve Carell) é analista de sistemas da agência CONTROLE. Sai a temática da Guerra Fria e entra a questão do terrorismo personalizado pela KAOS, agência de espiões que é arquiinimiga da CONTROLE. A história envolve a primeira missão de Maxwell como agente de campo, após a sede de sua agência ser atacada, todos os espiões da CONTROLE tem suas identidades reveladas. É aí que Maxwell tem sua chance de se tornar um agente e forma parceria com a sensual agente 99.

O filme consegue restituir a personalidade da série clássica. Steve Carell dá sua contribuição ao protagonista, dando seu toque “Carelliano”. O filme também segue as linhas dos filmes do ator, colocando seqüências de humor físico ao estilo da depilação de O Virgem de 40 anos (2005) e as marteladas no dedo de A Volta do Todo-Poderoso (2007).

Quanto as interpretações, Anne Hathaway está deliciosa como a Agente 99 (acho que essa definição não está tão longe da verdade), seu jeito sensual e durona ao mesmo tempo dá uma personalidade forte à personagem. Alan Arkin divertiu-se interpretando o Chefe, tanto que muitas vezes você o vê com um sorriso no rosto em momentos um tanto quanto sérios. Agora a dupla de inventores Bruce e Lloyd não é tão engraçada quanto gostariam de ser, contudo, ganharam um filme só deles.


O roteiro tem suas sacadas e distribui uma quantidade de críticas a algumas instituições e personalidades. A mais óbvia é a figura do presidente dos Estados Unidos, claramente feita à imagem do atual presidente. As cenas de ação durante o filme são boas, com coreografias de luta bem aplicadas. O filme deixa apenas à desejar nos efeitos especiais e na seqüência de ação final.

Agente 86 é uma sátira aos filmes de espionagem, mas com direito ao humor do novo ícone da comédia, Steve Carell. O DVD do filme ainda se sobressai com os erros de gravação e cenas deletadas. Algumas extremamente hilárias.


Nota: 7,5


Rafael Sanzio