terça-feira, 31 de março de 2009

Watchmen


Mais um filme de super-herói com a visão sombria do mundo, como Batman - O Cavaleiros das Trevas (2008), em Watchmen (2009) não existe o bem ou o mal exatamente definidos, existe os tons de cinza que povoam a humanidade. Ninguém é perfeito, nem os super-heróis.


Baseado na Graphic Novel de Alan Moore, Watchmen segue a trajetória de um grupo de super-heróis. Não exatamente “super”, mas um grupo de pessoas mascaradass que usam de suas habilidades para combater o crime. A nostalgia do grupo é evidenciada com a quantidade de flashbacks, o que torna os momentos de conhecer a história dos personagens não-linear, deixando-nos a impressão de já conhecermos os heróis. O filme mantém a visão adulta da revista em quadrinhos, com violência e o sexo, que passa tão longe dos atuais filmes do gênero. Portanto, não foi uma surpresa desagradável saber que a censura ficou para mais de 18 anos.


O filme é uma visão inovadora dos tidos “super-heróis”, como seriam estes seres fantasiados no mundo real, com seus vícios e dificuldades em ver quem está certo ou errado. Criam criaturas psicopatas como o anti-herói Rorschach (Jackie Earle Haley), que por mais violento que seja, é um dos que imprimem maior carisma para o público. Há também o Dr. Manhattan (Billy Crudup), que pode ser uma representação degenerada do cansaço que Deus pode vir a ter com a auto-degradação da humanidade. Watchmen cria novos estereótipos de heróis para representar esse mundo de “verdade” onde nem sempre os heróis estão ali para salvar o dia.


Os perseguidores do diretor Zack Snyder podem continuar dizendo que não há mérito do diretor pela grande história do filme, mas há sim. Diferente de 300 (2006), que ao criar o arco totalmente novo da mulher de Leônidas, o filme perdeu mais pontos do que ganhou. Então, há mérito sim por ele não cometer o mesmo erro e manter-se fiel a Graphic Novel de Alan Moore. Existe as diferenças de uniformes, mas como o próprio diretor diz, no tempo da revista em quadrinhos, Alan Moore retratou o que via na época. Já o diretor do filme optou por fazer essa mesma referência com nossa época, fazendo uma analogia com os super-heróis atuais de filmes que usam roupas apertadas e brilhosas, possuindo até mamilos nas fantasias (vide Batman & Robin).


Mas nem tudo são flores, Zack Snyder exagera logo no início no uso da câmera lenta, o que já pode irritar alguns. Outro ponto que pode causar estranheza, é a performance da Espectral (Malin Akerman), com poses um tanto quanto constrangedoras para uma heroína. Além disso, ver aquela maquiagem de Nixon me lembrou dos tempos de Fofão, não sei por que...



A trilha sonora é bem eclética para retratar os anos que se passa a trama, em Watchmen quem se destaca é Rorschach, talvez por compartilhar do nosso pensamento de que não se deve perdoar aqueles criminosos que sempre querem matar o grupo e sempre são presos, mas o excesso de violência utilizado por ele muda um pouco nossa perspectiva que tínhamos ao ver outros heróis em ação.


Watchmen é um filme de super-heróis para adultos e para aqueles que queriam ver mais conteúdo, do que a velha fórmula: descobrir poderes, conhecer o vilão, derrotar o vilão e salvar o dia.



Nota: 9



Rafael Sanzio

quarta-feira, 25 de março de 2009

Os Estranhos



Os Estranhos (2008) não é um filme de horror daqueles que precisa ter uma morte em cada cena. Ele trabalha com o terror, onde tenta fazer o público sentir a tensão que os personagens estão passando sem apelar para monstros vindos de outros planetas ou psicopatas imortais. O terror vem de seres humanos doentes e imprevisíveis.

O casal Kristen (Liv Tyler) e James (Scott Speedman) pretendem passar a noite na remota casa de veraneio dos pais de James. O que eles não esperam é a visita de três estranhos mascarados, que sentem prazer em aterrorizar o casal. Presos na própria casa, os dois logo perderão a ideia de que o lar é sinônimo de segurança e paz.

Um dos produtores do filme, John Kretsehmer, alega que Os Estranhos chega com uma forma original de apresentar o terror. A ação passar-se dentro da casa, o perigo estar do lado de fora. Contudo, essa mesma abordagem aparece em Temos Vagas (2007), com seu contexto muito interessante e com uma homenagem ao diretor Hitchcock. Todavia, Os Estranhos ganha pontos extras sobre Temos Vagas por causa de seus psicopatas, enquanto que nesse último os atores demonstravam claramente que não sabiam o que fazer, parecendo com um simples psicopata saído de um dos filmes do Pânico, já no filme com Liv Tyler, o trio de assassinos perturba com seu ar calmo e ciente do que estavam fazendo. Além de o figurino ter sido mais uma forma de compor o terror proveniente dos personagens.


O silêncio e os pequenos barulhos são os grandes protagonistas desse filme. Cada som estranho deixa em alerta tanto os protagonistas como o público que assiste. E um destaque adicional para a seqüência onde o disco arranhado toca, aquele trecho da música tocando repetidas vezes exprime que algo ali está errado, que algo está perturbando o ambiente e que precisa ser parado, antes que enlouqueça alguém.

O filme é baseado em fatos reais, o que pode deixar alguns decepcionados quando em seu desfecho não há nenhuma menção de que fim levou cada personagem. O que deixa mais uma incógnita sobre o final, aquilo foi um final típico de filme de terror ou realmente terminou daquele jeito?

Para os mais céticos, o filme talvez não consiga prender a atenção quanto ao terror, já que estarão preocupados demais em xingar os personagens de Liv Tyler e Scott Speedman, torcendo para que eles deixem de tomar atitudes estúpidas. Mas para os fãs do gênero e que entendem que numa situação dessas não há como parar para pensar, Os Estranhos é algo interessante de se ver.


Nota: 7,5




Rafael Sanzio

sábado, 21 de março de 2009

[REC]


Eu gosto de filmes com mortos-vivos. A adrenalina, os poucos segundos que o personagem tem para agir ou pensar. É bem verdade que muitos filmes desse gênero possuem uma mesma estrutura, como sempre ter o personagem arrogante ou aquele que sempre deixa todos na mão. Mas se você quer um bom filme de horror, para aumentar sua pressão em alguns momentos, um filme com os mortos-vivos (ou seres da mesma linha, como em Extermínio) sempre é uma boa pedida. E em se tratando de [REC] (2007), esse gênero vem com uma direção já utilizada por George A. Romero, mas que ainda assim, difere dos demais.


A repórter Ángela Vidal (Manuela Velasco) e seu câmera estão produzindo um programa que dessa vez irá acompanhar a rotina noturna do Corpo de Bombeiros. Atendendo um caso aparentemente normal, de uma senhora presa dentro do apartamento, a equipe de tv, os bombeiros e todos os moradores logo se vêem em uma situação extremamente perigosa.


O estilo de direção é a mesma utilizada em A Bruxa de Blair (1999), Cloverfield –Monstro (2008) e Diário dos Mortos (2008). Contudo, os dois primeiros não apresentavam uma explicação plausível para os câmeras continuarem filmando toda a tragédia. Diferente de [REC], que há sim motivos reais. Além do mais, para um gênero que exige reações rápidas, a utilização desse modo de filmar proporciona muito mais sustos do que uma direção mais livre.


Quando o filme realmente começa com o seu conflito, a angústia e ansiedade são intensas, apesar de ocorrer certos exageros por parte da interpretação de , Manuela Velasco. O filme é rápido, 75 minutos, mas para a proposta é ideal, sem qualquer tipo de exagero para encher lingüiça.



Único problema de [REC] são os “eternos” clichês de filmes de horror. Por que os personagens insistem em olhar para trás ou ficarem distraídos conversando enquanto uma ameaça em potencial está a poucos centímetros de você? Ou por que conversar ao lado de janelas ou portas de vidro numa situação dessas? São esses clichês que acontecem que poderiam ser evitados com um pouco mais de criatividade.


O desfecho do filme é mais do que satisfatório. [REC] é um ótimo trabalho dos diretores Jaume Balagueró e Paco Plaza. Não é a toa que Hollywood fez em pouco tempo um remake dessa obra para repartir os lucros desse filme singular entre os seus.


Nota: 8



Rafael Sanzio

segunda-feira, 16 de março de 2009

Jogos Mortais V


Quando chegou ao terceiro filme, muitos já se perguntaram: “Já não devia ter acabado?!”. Mas Jogos Mortais V (2008) veio e mostra que a série vai continuar enquanto o público tiver estômago para ver torturas cada vez mais violentas.


Jigsaw (Tobin Bell) permanece (nunca se sabe...) morto, mas seu legado continua com o Detetive Hoffman (Costas Mandylor) que segue os passos do louco e seus testes de valorização da vida. O agente Strahm (Scott Patterson) continua no encalço do maníaco e nessa trilha de sangue muitas partes do quebra-cabeça serão encaixadas.


Apesar da crítica especializada alegar que este filme apenas se preocupa em mostrar novas maneiras de tortura, ao contrário, os jogos aqui ficam em um plano secundário e a parte investigativa aflora. Todos os filmes da série são interligados para explicar a participação deste novo maníaco, na tentativa descarada de dar um novo gás à série.


Mesmo assim é evidente a decadência que os filmes da série vêm tendo. O único que se salva é o primeiro, original em seu desenvolvimento da trama e com revelações surpreendentes. Depois disso, cada vez mais ficava mais previsível e seus finais deixavam de ter um significado espetacular como foi o primeiro, sua trilha sonora de desfecho ia sendo usada em vão em cada filme posterior ao primeiro. Tanto que neste último o marketing dizia: “Você não vai acreditar como isso termina” e a nossa resposta seria: “Tão previsível assim?! Sério?! Não acredito mesmo!”.



Infelizmente Hollywood não tem a ética necessária para saber quando parar, pois tem consciência que os fãs vão sempre encher as bilheterias com a esperança de ver um filme tão bom quanto o primeiro. Jogos Mortais V deveria ser o último da série, mas o estrago já está feito, a qualidade que o filme havia criado já foi manchada desde o 2º filme.


Nota: 5



Rafael Sanzio

Semana do Terror


Passado a Sexta-Feira 13, ainda estou no clima de terror. Enquanto não assisto a todos os filmes “oscarizados” resolvi promover um combo de filmes de terror/horror. Uns bem melhores que outros, mas os três dividem-se em três estilos distintos. Essas críticas serão postadas ao longo da semana, especialmente para os fãs do gênero.


Jogos Mortais V: Filme de terror/horror que caminha para o mesmo molde de Freddy Krueger e Jason, torna-se uma série sem previsão para acabar.


REC: Mais um filme de horror do tipo “mortos-vivos” ou algo mais original? Produção espanhola de qualidade para o gênero e que já virou alvo de remake por parte de Hollywood.


Os Estranhos: Liv Tyler estrela esse filme de terror que presa pelo suspense e tensão. O fato de ser baseado em acontecimentos reais aumenta o interesse pelo filme.


Escolham seu estilo e divirtam-se ou assustam-se... Sei lá, esse povo que gosta de filme de horror é meio doido...



Rafael Sanzio

sábado, 14 de março de 2009

O Lutador - Recomendo!


Quando começaram as críticas sobre o filme O Lutador (The Wrestler, 2008) comparando a história de redenção do filme com a própria vida de Mickey Rourke, lembrei que os críticos falaram a mesma coisa do filme Rocky Balboa (2006). E como ambos retratam a vida de um lutador, comecei a achar que seguiriam o mesmo estilo, pensamento totalmente equivocado. Enquanto que Rocky vinha de uma série de filmes heróicos e finalizou sua carreira em glória e com a fama intacta, O Lutador é bem mais cruel e realista para um velho lutador de wrestler. Rocky lembra-se do seu passado com uma nostalgia sadia, enquanto Randy “The Ram” vive desesperadamente em função dele.


O novo filme do diretor Darren Aronofsky age quase como um documentário desse mundo dos lutadores de wrestler, enquanto acompanha o famoso lutador dos anos 80 Randy “The Ram” Robinson (Mickey Rourke) tentando sobreviver com os problemas de saúde e de dinheiro. Até que, ao sofrer um infarto, precisa encerrar a carreira e arranjar um emprego menos desafiador.


A trilha sonora define muito bem o que se passa na mente de Randy. Desde a abertura, com a música Bang Your Head (Metal Health) de Quiet Riot, para ilustrar que o período de fama de “The Ram” foi os anos 80, além de todas as músicas que ele escuta são desse mesmo período, ou seja, o velho campeão não quer esquecer seu passado de glória, cercando-se de lembranças daquele tempo. E ele não é o único em fim de carreira, a idade alcança Cassidy (Marisa Tomei) e os dois se encontram nesse mesmo dilema de tentar descobrir quando é a hora certa de parar.



O diretor usa um recurso muito simples mas extremamente eficaz para nos dar a verdadeira impressão de acompanhar a vida de Randy, muitas cenas são feitas apenas mostrando as costas do personagem, esse estilo de filmagem provoca uma interação muito maior por parte do público para com a história. Há uma seqüência também muito interessante, quando Randy vai começar seu novo trabalho, em off segue o som da torcida e com essa comparação com os momentos antes de iniciar uma luta, sabemos que Randy está nervoso e encara aquele trabalho simples como uma batalha que ele fica ansioso, mas logo começa a gostar e agradar ao público como fazia durante suas lutas.


Mickey Rourke realmente está ótimo no papel, os momentos de sentir dores e quase perder o fôlego deixam com dúvida se o ator não estava mesmo quase morrendo no set. Além disso, ver um homenzarrão chorar de vergonha e de redenção também é muito emocionante. O Lutador deveria ter sido tão bem reconhecido (com uma indicação a melhor filme) como o ator foi na premiação do Oscar, um filme bem dirigido e produzido.


Nota: 10



Rafael Sanzio

sexta-feira, 6 de março de 2009

Filmes Brasileiros vs Hollywood

Porque a maioria dos brasileiros preferem filmes estrangeiros, grande parte deles Hollywoodianos, ao invés de prestigiar os filmes nacionais? Na comunidade “Cinéfilos de João Pessoa” percebemos esta questão quando promovemos uma eleição do melhor filme de 2008. O resultado mostrou que a maioria vai para o cinema assistir produções de Hollywood, ou seja, preferem se arriscar com filmes que garantem a diversão do que a realidade em si. Mas os filmes brasileiros são ruins? A maioria do povo vê o cinema apenas como entretenimento e não como arte? Por que os filmes brasileiros perdem feio para Hollywood em seu próprio país? É o que vamos discutir aqui.

Os filmes brasileiros não são ruins. Há produções dispensáveis, como há também longas realmente brilhantes. Mas vamos especular, tentando achar um motivo plausível para essa derrota para as produções americanas. Lembrando que não tiro o mérito dos filmes de Hollywood, mas que apenas defendo o fim do preconceito para com os filmes brasileiros.

Uma das possibilidades é que grande parte do povo brasileiro se rendeu aos filmes de entretenimento. Mas esta condição pode até ser defendida pelo ponto de vista de que passamos por muitas tribulações e trabalho duro que queremos relaxar. Fazer pensar na mensagem de um filme brasileiro e rever nossa condição é deprimente. Os filmes brasileiros estão mais próximos de nossa realidade, mas não queremos isso, não a grande maioria. Querem fantasiar e se for para ver problemas, que sejam os dos outros, não os nossos. Como diria Cypher, do filme Matrix (1999) “A ignorância é uma dádiva”.

Marcelo Lyra, durante sua oficina de crítica cinematográfica no Fest Aruanda, abordou essa questão e apresentou outro motivo para este repúdio brasileiro pelos seus próprios filmes. Muitas pessoas os rejeitam por apresentarem muitos palavrões, xingamentos pesados. Um exemplo é Linha de Passe (2008), quase nenhum personagem escapa de dizer um palavrão bem vulgar. Mas o que essas pessoas talvez não saibam é que os filmes americanos também são recheados de palavrões pesados, as legendas deixam tudo mais leve, parecendo que o único xingamento que eles conhecem é “merda”. Mas senhores, “fuck” tem outro significado. A frase de Cypher seria bem usada aqui também.

Desviando-se para uma visão mais complexa, ouso comparar essa problemática com a visão de McLuhan. Os brasileiros também se preocupam mais com o meio que a mensagem. Vão para o cinema mais atraídos pelos seus atores, diretores do que a própria temática em si. “Tom Cruise está no filme, vamos assistir!”, “É de Steven Spielberg? Tô dentro!” e quantos atores brasileiros ou diretores brasileiros podem cativar as massas dessa maneira? O que me leva a uma possível solução para este problema.

O que não falta é propaganda para os filmes de Hollywood. Mesmo aqueles que não teriam cativado o público de primeiro momento, o fazem ir ao cinema, pois determinado filme ganhou o Oscar. É o caso de Onde os Fracos não tem Vez (2007). Tropa de Elite (2007) ganhou boa parte de sua fama através da pirataria, alguns amigos meus garantem que a maioria do público foi para o cinema graças ao marketing do “final diferente” propagado pelos produtores. Eu discordo, se o filme fosse ruim não teria levado tanta gente ao cinema. Mas sucessos como esse Tropa de Elite e Se Eu Fosse Você (2006) tem algo em comum, ambos possuem o molde americano de cinema. O primeiro por ser um filme decente de ação e o segundo por usar-se da velha história de trocas de corpos. O que falta para os outros filmes brasileiros, que possuem mensagens mais sérias, é justamente a propaganda. Falta esta propaganda que cative o público e o faça preterir os filmes americanos para assistir a um bom filme nacional.

Há outras soluções criadas, como o “mês do filme nacional” barateando o custo dos ingressos para assistir filmes brasileiros. Mas muitos não concordam com esse “desmerecimento”, mas fica a minha questão para essas pessoas (no caso diretores e produtores que defendem esse ponto de vista), vocês estão se importando mais com o orgulho ou estão comprometidos com a mensagem que querem passar para o público?

Enfim, especulações à parte, eu mesmo não gostava de assistir filmes brasileiros. Mas estou me reeducando e agora prestigio nossos filmes, claro que ainda dou prioridade aos estrangeiros, mas com o tempo quem sabe... E vocês? O que acham dessa história toda?


Rafael Sanzio