quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Umberto D.


O Neo-realismo italiano tem como principais preceitos: utilização de atores não-profissionais, filmagens fora de estúdio, temas cotidianos e, principalmente, um enfoque humanista. Humberto D. (1951) é um trabalho do diretor Vittorio De Sica, participante ativo do movimento neo-realista, com outros filmes como Milagre em Milão (1950) e o aclamado Ladrões de Bicicleta (1948).


O filme é mais uma obra da parceria entre o roteirista Cesare Zavattini e Vittorio De Sica. Umberto D. surgiu pelo interesse de Zavattini em escrever uma história sobre um idoso de mesmo nome. O interessante é que o nome do pai do diretor é Umberto De Sica. Espero que esta homenagem seja apenas no nome, pois a história é um tanto quanto melancólica.


Acompanhamos a velhice do protagonista de nome Umberto que tenta sobreviver com uma aposentadoria muito baixa, segundo ele. A vida desse senhor é agüentar a senhoria que tenta expulsá-lo do seu quarto, enquanto ele busca formas de arranjar dinheiro para evitar isso. Mesmo com problemas financeiros, o velho insiste em cuidar de seu cachorro de nome Flike.


Logo é perceptível para nós que o protagonista não é simpático, o que deveria ser para facilitar o apreço do público para com ele. Mas não, Umberto é um velho chato que só é agradável com aqueles que o ajudam, além de ser orgulhoso, no que demonstra na seqüência aonde é incapaz de pedir esmola, mesmo precisando.


Vittorio De Sica falou que o importante no filme é o drama da inabilidade do homem de se comunicar com seus iguais. A sociedade, hostil a ele, e a humanidade, que o despreza, são representados no filme pela dona da pensão onde ele vive há anos. Ainda segundo o diretor, o filme fala sobre o egoísmo, aonde a dona da pensão tenta expulsar Umberto para fazer a reforma e assim melhorar sua vida. Isso é bem característico dos tempos atuais, o capitalismo exigindo a individualidade do ser humano, que deve esquecer os outros e buscar apenas o melhoramento pessoal. Sobre a inabilidade de comunicação, temos exemplos disso nas seqüências que Umberto tenta a ajuda de seus velhos conhecidos e acaba escutando várias desculpas ou testemunha fugas estratégicas.



Mas o próprio Umberto participa dessa inabilidade, na cena que Maria (empregada da dona da pensão), sofre pela terrível situação que se encontra, grávida e sem um pai para assumir o filho, o velho Umberto tem a insensibilidade de ameaçá-la e brigar com ela por ela ter perdido o cachorro dele. A garota está com um problema bem maior, a meu ver, e nosso protagonista preocupado com o cachorro. Realmente o animal tem o significado sentimental para ele, mas Umberto também é incapaz de se colocar no lugar de Maria.


Quanto as interpretações, fica aquela preocupação por ser um filme neo-realista. Contudo, apenas a atriz que faz Maria deixa a desejar, mas mesmo assim o carisma dela põe de lado essa questão. Há também pequenos erros de continuidade no filme e que não irão me convencer que são propositais, a exemplo da seqüência do restaurante popular, o segundo prato some por mágica ou o velho ao lado de Umberto que come (ou melhor engole) a comida em poucos segundos.


O filme desenrola sua trama até o final que todos esperam por causa de tanta desgraça que acontece. Mas acaba ao que parece em um final alegre, mas só para aqueles que são otimistas, pois os problemas não acabaram, o dinheiro é pouco e Umberto ficou sem um lugar para morar, quanto tempo irá levar para que ele fique novamente numa linha de trem?



Nota: 9,5


Rafael Sanzio

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