sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Caminhos Perigosos


Caminhos Perigosos (Mean Streets, 1973) é um filme de Martin Scorsese que proporciona o primeiro encontro do diretor com o ator Robert DeNiro. Para Scorsese, o principal objetivo do filme era retratar com perfeição o cotidiano das pessoas que viviam na Little Italy em Nova York, local esse onde o próprio diretor viveu boa parte de sua vida.


Harvey Keitel interpreta Charlie, um jovem que segue a trilha para se tornar um chefe da máfia local, contudo, ele tem grande influência religiosa e se vê na obrigação de praticar penitências a si mesmo. Sua penitência se chama Johnny Boy (DeNiro), um malandro que vive em dívidas e Charlie coloca na cabeça que pode ajudar Johnny a sair dessa vida sem responsabilidades.


Scorsese consegue retratar com perfeição o clima da Little Italy, deve ter ajudado bastante o fato de ele próprio ter morado por muito tempo naquela região e boa parte das confusões serem baseadas em algumas que ele e seus amigos se intrometeram. Além de começar o filme com imagens caseiras, dando mais uma pequena deixa da sensação familiar que o diretor tem sobre o filme.



Os caminhos perigosos referentes do título em português, deve-se mais ao fato da escolha de Charlie em seguir no caminho de tentar ajudar o irrecuperável Johnny e se envolver com a prima do amigo do que pelo próprio fato de querer ser um chefe da máfia. E o caminho passa a ficar mais perigoso quando Johnny começa a tentar mostrar para Charlie que ele não vai conseguir salvá-lo.


Não é o melhor trabalho de Martin Scorsese, mas pode ser visto com um interesse por ser um dos primeiros trabalhos do diretor e sua força em retratar com fidelidade as “mean streets” de Nova York. Não há lugar para bons samaritanos naquelas ruas...


Nota: 7,5


Rafael Sanzio

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Críticos, críticos e críticos

Para mim há três tipos de críticos de cinema. Àqueles que escrevem as críticas para outros críticos, aqueles que escrevem as críticas para os leitores em geral e aqueles que escrevem o que realmente acharam do filme. Desde a criação deste blog, eu tinha essa discussão na minha mente, pois me pergunto em qual dos três me encaixo.

O primeiro tipo de crítico é aquele que escreve com um pedantismo irritante e desnecessário a meu ver. É óbvio que ele não escreve uma crítica só para julgar um filme, mas escreve para demonstrar para outros críticos como foi capaz de encontrar erros num filme aparentemente bom ou se julga senhor da verdade, já que possui o poder de destruir um filme. Um exemplo estereotipado, mas não longe da realidade, de um crítico como esse é o personagem do filme Oito e Meio (1963) de Federico Fellini.

Devo dizer que realmente tenho medo de me tornar um crítico como esse, eu o julgo arrogante por usar termos técnicos demais, mas eu estou no começo do aprendizado para me tornar um crítico cinematográfico. Será que ao concluir minha formação poderei vir a ser essa criatura que tanto critico?

Admito que o segundo tipo era meu objetivo inicial. Acreditava que o verdadeiro crítico de cinema tinha como dever servir a população em indicar os filmes que ela gostaria de ver. Não importava se o crítico em si gostou ou não do filme, sua crítica deveria direcionar-se mais para o público, tentando extrair e analisar que tipos de pessoas iriam gostar do filme. Mas com o tempo vim a perceber que este não é o crítico ideal. Suas críticas não seriam “puras” não estaria expondo suas idéias, seu pensamento individual. Eu não quero trabalhar sempre usando expressões como “é um filme pipoca”, que tipo de profundidade tem isso? Deve existir mais respeito para as produções cinematográficas, a crítica deve ser muito mais que meia dúzia de frases de efeito.

É assim que chegamos ao terceiro tipo. Aquele crítico que diz o que achou do filme realmente. Não tenta ir como a maioria, mesmo que o filme tenha sido um sucesso de crítica, se ele não tiver gostado ele não esconde isso. O mesmo vale para filmes massacrados por críticos, se ele gostou então lá está ele elogiando o filme sem medo de arranhar sua reputação. A crítica para esse tipo não é um meio para ficar famoso entre seus pares ou não é um simples emprego que deve ser mantido. A crítica para ele vem do coração e da vontade de ser útil para as outras pessoas.

Portanto, há algo para ser captado nesse texto. Isso vale para todos os tipos de críticos, literários, cinematográficos, teatrais etc. Temos (me desculpem a falta de modéstia, mas já estou me incluindo na categoria) o poder de enaltecer ou destruir carreiras. É perigoso nas mãos daqueles que se deixam levar por tal poder. A crítica deve ser feita com naturalidade, sem pressões externas ou por motivações pessoais duvidosas. É preciso que entendamos que nossas críticas não são verdades absolutas, são nossas opiniões, cabe apenas ao povo decidir se concordam ou não. Cada um tem sua própria opinião. No final das contas somos apenas ferramentas para evitar que os outros percam tempo assistindo produções horríveis que aparecem no circuito cultural.

Rafael Sanzio

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Antes que o Diabo saiba que Você está Morto

“Que você esteja no paraíso por meia hora... antes que o diabo saiba que você está morto”. Esta é a frase completa que leva o título do novo filme de Sidney Lumet, o filme segue a risca e nos proporciona poucos minutos para nos sentirmos bem antes de expor uma série de acontecimentos desastrosos na vida dos personagens.

A trama envolve dois irmãos, Andy e Hank. Ambos estão passando por uma crise financeira e resolvem assaltar a joalheria dos pais. Um plano fácil e limpo. Acontece que o assalto não sai como planejado e daí segue uma sucessão de tragédias que leva cada personagem da trama ao seu limite.

É interessante como o diretor resolveu contar a história, de forma basicamente linear, porém alternando o ponto de vista de cada personagem e a cada seqüência é acrescentado um pouco mais a história, mais uma peça vai se encaixando. O som utilizado para mudar de um ponto de vista para o outro tanto remete ao som do vidro da joalheria sendo quebrado como também a vida dos protagonistas sendo cada vez mais estilhaçada pelo destino cruel reservado para eles.

Mas além de ser um suspense bem movimentado, Antes que o Diabo Saiba que você está Morto (Before the devil knows you're dead, 2007) é um filme que retrata as relações inter-pessoais dos personagens mediante esse declínio catastrófico que a trama impõe neles. É realmente oportuno o uso dos ângulos das cenas entre o irmão inseguro Hank com o irmão centrado Andy. Lumet mostra a relação de superioridade que Andy tem sobre o irmão quando nas seqüências de Hank (Ethan Hawke) e Andy usa-se, quase sempre, o ângulo da câmera em contra-plongée (A câmera filma o objeto de baixo para cima), não é tão evidente como em Cidadão Kane (1941), mas nota-se que Hank sempre se sente inferior ao irmão.


Irmão esse interpretado magistralmente por Phillip Seymour Hoffman, a densidade do personagem Andy é triplicada graças a atuação de Hoffman. Analisar esse personagem alongaria absurdamente essa crítica, mas devo comentar dois momentos na trama, um técnico e um interpretativo que ilustram um pouco a gama de poder emocional que esse personagem detém.

O primeiro, técnico, é o momento no qual Andy vai se drogar. É então mostrado o que é o paraíso para este personagem. A mudança drástica de visual, do ambiente da sala, para o quarto aonde ele vai se drogar é nítido. Um ambiente mais claro, aconchegante, branco. O paraíso de Andy aonde pode estar com o mundo desabando, mas ali ele tem sua meia hora de paz.

O segundo momento precisa de uma explicação sobre ele. Andy é um contador, ele gosta de cálculos e gosta de ter tudo organizado com resultados práticos e certos. Em uma seqüência que ele deveria explodir de raiva e destruir tudo em volta, ele faz isso, mas na maior calma, organizado, metódico. É incrível observar estarrecido o controle (ou a falta) emocional que Andy possui enquanto tem seu momento de “explosão” de raiva (ele perde o controle apenas na seqüência do carro, mas assim que percebe o descontrole emocional retoma a racionalidade quase que instantaneamente).

O final do filme deixa em aberto o desfecho de alguns personagens, mas o mais importante é a conclusão triste que tiramos ao terminar com um dos personagens caminhar por um corredor e sumir de vista sob a luz forte, caracterizando que ele agora estava no paraíso:

O paraíso de uns, significa o inferno de outros.

Nota: 9

Rafael Sanzio

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mamma Mia!



Eu tenho um fraco por musicais. Desde Moulin Rouge (2001) à Sweeney Todd (2007), porém dispenso o já “cult” Across The Universe (2007), porque para um filme musical ele perde muitas vezes o ritmo com seqüências monótonas e psicodélicas demais, apesar de ter uma justificativa para elas por causa da época que se passa o filme, mas não preciso gostar só porque tem uma justificativa, não é?

Um musical deve escolher muito bem suas músicas e aonde empregá-las. No caso de Mamma Mia! (2008) a segunda música causa certa estranheza, mas depois você se acostuma ao clima que o filme dá para si próprio. Tudo é pura diversão. Este musical tenta um tom mais realista, mas é um consenso geral que ninguém durante o dia-à-dia subitamente começa a cantar para expor o que está sentindo, não é mesmo?

O filme é baseado na peça teatral de mesmo nome que estreou em abril de 1999 em Londres, a própria diretora (Phyllida Lloyd) do musical da Broadway de Mamma Mia! dirige o filme. Na história, Sophia é filha de Donna (Merryl Streep), a garota vai se casar, mas ainda não conhece seu pai. Quando encontra o diário da mãe, descobre três possíveis pretendentes para esse título. O que ela faz? Convida os três ex-namorados da mãe para o casamento a fim de descobrir quem é seu verdadeiro pai.


O roteiro é bastante previsível, mas o que realmente importa ali são as músicas, se são divertidas ou não. Eu me diverti com o acervo de várias músicas dos anos 70, clássicos do grupo ABBA, além das interpretações engraçadas das amigas de Donna. Única ressalva é ter que agüentar Pierce Brosnan cantando.

Apesar do roteiro fraco, vale analisá-lo um pouco. A personagem de Merryl Streep vive cantando que é independente que não precisa de homens, mas no final das contas tem o desejo de se casar. Não condeno essa atitude, mas deveriam amenizar um pouco esse estereotipo de que toda mulher sonha em se casar para poder se sentir completa. Até as garotas de Sex and the City (2008) não escaparam disso. Uma das personagens mais engraçadas do musical, a amiga baixinha de Donna, deveria ter trilhado por esse caminho fora do esteriotipo, junto com o personagem Bill (Stellan Skarsgard).

Mamma Mia! é uma ótima diversão e um musical contagiante.

Nota: 7


Rafael Sanzio

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Volta dos Mort... digo, dos filmes oitentistas!

Vocês já devem ter percebido a nova onda dos filmes hollywoodianos. Voltar com os filmes famosos dos anos 80. Já fizeram Duro de Matar 4, Rocky, Rambo 4, Indiana Jones, pretendem voltar com Um Tira da Pesada e Máquina Mortífera. Os Goonies também terão uma seqüência. Mas porque essa moda pegou?

Será que os filmes de hoje já não estão dando conta do recado? Ou é só a nostalgia que bateu forte e com o relativo sucesso desse tipo de seqüência o resto das franquias tiveram sinal verde dos produtores?

São muitas teorias. A minha vai muito de um cara que pensou “O que aconteceria com o personagem herói dos anos 80 tivesse que enfrentar novos problemas nesse novo mundo de agora”. Atualmente a moda de filmes são os dos super-heróis, então alguém deve ter pensado em como seria os antigos heróis vivendo com essa nova geração. Eles dariam conta do recado? Até mesmo Indiana Jones que se passa na década de 50 possui essa mesma premissa do herói velho enfrentando a nova geração (nesse caso tecnicamente também, com efeitos especiais que não tinham na época dos três primeiros longas).

Agora fica aqui essa nova questão para vocês, já que gostam de polêmicas, a volta dos filmes dos anos 80 não passa de caça-níqueis ou eles são um grito de revolta contra a nova geração cheia de efeitos especiais sem um herói realmente marcante como eles foram? Essas seqüências dos clássicos para o mundo atual possuem alguma qualidade ou se sustentam apenas pelo poder nostálgico como Indiana Jones?

Está aberta a nova discussão!


Rafael Sanzio

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal - DVD



Cinco anos depois do terceiro Indiana Jones, começaram as perguntas sobre o quarto filme. Das três peças fundamentais, Harrison Ford, George Lucas e Steven Spielberg o último era o que mais resistia à idéia.

Somando mais 14 anos chega Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008). Sai os anos 30 no estilo de filmes de ação e aventura, entra os anos 50, época de filmes B com apelo de ficção científica com temas metafóricos evidenciando a Guerra Fria, a “ameaça vermelha”, paranóia e armas atômicas. A disputa entre americanos e soviéticos é demonstrada logo no início do filme com um racha aparentemente inocente.

O arqueólogo Henry Jones Jr. se vê em mais uma caçada à um tesouro perdido, depois que é obrigado a encontrar pistas da caveira de cristal, um artefato que seu amigo Prof. Oxley (John Hurt) procurava e acabou louco na tentativa. Enquanto parte na caça ao tesouro junto com um jovem metido a Marlon Brando em O Selvagem (1954), Jones é perseguido pelos soviéticos que buscam o poder que a caveira oferece ao seu usuário.

Como um bom filme B nada mais relevante tirar os nazistas para colocar como grande vilão os comunistas. Esses filmes americanos da década de 50 alardeavam o perigo do comunismo com filmes como Invasores de Marte (1953) (advinha quem os invasores representavam na realidade). Colocar os soviéticos como inimigos no filme acarretou no protesto do Partido Comunista da atual Rússia, que tentaram banir o filme das salas de cinema do país por distorcer a história e fazer propaganda anti-soviética.

Mas voltando ao filme, para um Harrison Ford de 65 anos, esse avanço no tempo foi necessário. E por falar em idade o ator não deixa tão à desejar em suas seqüências de ação, apesar de que eu achei que exageraram na quantidade de golpes e lutas só para mostrar que o velho Indy continua bom de briga. A atmosfera dos três primeiros filmes continua aqui. O barulho dos socos, a ação e o humor que acontece entre uma briga e outra. Há dois momentos que realmente retratam o clima dos filmes do arqueólogo, a seqüência da fuga absurda da cidade-teste e uma morte bizarra com formigas saúvas.




A proposta do filme e o enredo foram bem realizados (para um filme de Indiana Jones), contudo, Steven Spielberg erra feio em toda seqüência de perseguição na floresta amazônica. Tanto pelo nível dos efeitos especiais, nitidamente falsos, como a cena da luta de espadas que não tem nenhuma graça. E outra! Os macacos! Que cena ridícula e dispensável ver Shia LaBeouf dar uma de Tarzan.

Dizem que Oxley foi um personagem fora dos eixos, mas para mim um personagem que não contribuiu em nada foi Mac (Ray Winstone), amigo de Jones. Suas motivações, seu desfecho na trama ficaram sem sentido apesar de previsíveis. E o final do filme foi interessante para um filme B, mas a caveira de cristal foi o tesouro mais sem graça dos quatros Indiana Jones. E quanto a possível substituição de Harrison Ford por um ator mais jovem, a seqüência final deixa bem claro que ele está pronto para mais aventuras.

O sucesso da nova aventura do arqueólogo deve-se mais ao seu poder nostálgico do que pela qualidade em si. Mas não dispenso um quinto filme. George Lucas também não, quem sabe não vemos algo com relação a Atlantis agora?



Nota: 7

Rafael Sanzio

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dublado ou Legendado? Eis a questão!

Depois do acontecido na sessão do filme A Caçada, com alguns jovens abominando o filme única e exclusivamente por não conseguirem ler a legenda (falta de prática), chegou a hora de abordar um tema que é polêmico, ao menos em minha cidade, onde uma grande parcela da população prefere assistir filmes dublados. Tanto que na época que ainda não existia DVD as locadoras passaram apenas a locar filmes dublados para atender a demanda, enquanto àqueles que preferiam filmes legendados ficavam a mercê de tal prática.
Quando me refiro a filme legendado estou falando de priorizar a lingua original do filme e assistir com legenda. O que na minha opinião é o certo.
É bem verdade que assistir filmes dublados tem a vantagem de que possamos aproveitar mais as imagens. Outro fator para escolher assistir um filme dublado é a idade já avançada, que deixa a vista cansada e que realmente perder tempo lendo a legenda dá até dor de cabeça.
Mas mesmo com essa "desculpa" da saúde não apaga o fato de que perde-se boa parte da interpretação do ator. Há dubladores excelentes, mas o som original ninguém pode substituir com perfeição. Você perde grande parte da atuação de Heath Ledger como o Coringa em Batman - O Cavaleiro das Trevas, por exemplo. Eu não escutei a risada dublada, mas com certeza não deve ser a mesma coisa.
Contudo, qual a desculpa dos jovens que escolhem deliberadamente assistir o filme dublado? Não passam de preguiçosos mentais. O que esperar deles que não querem ter o esforço de ler legendas? Pode ser difícil no começo, mas nada como um período de prática para conseguir ler as legendas e ver o filme sem problemas. É um excercício mental muito válido. Decepciona ouvir comentários como aqueles, depreciando o filme só porque é legendado. Façam um esforço! E garanto que o aprendizado de vocês será maior, como gradativamente começarão a aprender inglês (exemplo) por tabela durante essas leituras, pois com o excercício você terá que associar certas palavras em inglês com a legenda para poder ler mais rápido.
Essa dissertação sobre o assunto refere-se a filmes live-action (com atores reais) porque minha opinião muda quando é relacionado a filmes de animação. Nesse caso eu dispenso os dubladores originais, para mim o tempo das piadas se perde quando o filme de animação é legendado. Contudo, há exceções, quando inventam de colocar a equipe de dubladores "seres" como a turma do Pânico na Tv. Dói o coração ouvir a Sabrina Sato matar uma personagem feminina com o seu "é verrrrrrrrrrrrrrrrrrdade!".
Enfim, gostaria de ler a opinião de vocês. Alguém se habilita a concordar ou discordar de mim? Quem não quiser falar ao menos participe da enquete!
Rafael Sanzio

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Caçada




(Antes de começar a crítica, deixem-me falar sobre em que circunstancias assiste à esse filme. Lembram que eu disse aqui que o humor era importante no dia que assistir um filme? Pois então. Vou logo dizendo que por motivos que não vem ao caso não pude assistir ao filme no meu cinema predileto, fui assistir em um cinema no shopping no centro da cidade. Tudo bem. Logo vi que a salinha era pequena. Tudo bem. Mas aí entrou aquele grupo de adolescentes que duvido muito vão para essas sessões para apreciar o filme. E logo previ como seria a sessão quando nos primeiros minutos de filme um deles falou: “O quê?! Legendado?! Que filme bosta!”. Isso mesmo pessoal, o resto da sessão foi cheio de piadinhas e risadinhas idiotas. Mas eu consegui me concentrar apenas no filme o problema é que os “ruídos” não eram apenas externos, mas na própria técnica do cinema. De vez em quando o filme desfocava e focava (e sei que era erro por causa da legenda que também ficava desfocada), além de que a imagem da tela não era das melhores. E por fim, no final do filme que ainda não era final, pois apresentava textos interessantes, ascenderam as luzes e a maioria das pessoas começou a se levantar ficando na frente. Ah! As fileiras de cadeira eram todas juntas, portanto era um bater de joelhos infernal. Apesar disso tudo, acho que não fui influenciado na hora de julgar o filme, mas devo admitir que não pude contemplá-lo 100%).

“Apenas as partes mais ridículas dessa história são verdadeiras”. Inovando com essa frase de efeito, ao invés do tradicional “Baseado em fatos reais”, A Caçada (The Hunting Party, 2007) mostra para que veio, apresentando um humor ácido e cativante.

Somos apresentados a Duck (Terrence Howard) um câmera man que trabalhou durante anos com o famoso repórter Simon Hunt (Richard Gere), juntos cobriram várias conflitos de guerra. Só que um dia, Simon teve uma crise nervosa ao vivo e por falar algumas verdades indevidas foi demitido. Desapareceu e só depois se reencontra com Duck na Bósnia, o velho amigo repórter volta com um suposto furo de reportagem envolvendo a localização de um famoso criminoso responsável por várias mortes e torturas de mulçumanos na região.



Antes eu não gostava muito de Terrence Howard, contudo cada vez mais esse ator ganha minha simpatia. Seu trabalho está melhorando a cada filme e seu carisma como co-protagonista está crescendo. Não duvido que ele possa ser o próximo Denzel Washington. Quanto a Richard Gere sua atuação me lembrou um pouco seu personagem em O Vigarista do Ano (2006), mas só lembrou, ele não está tão canastrão.

Sobre o filme, o humor atrelado com o teor de investigação deixa o longa divertido e dinâmico. Perde-se o ritmo apenas quando o diretor Richard Shepard (O Matador) tenta pôr algum drama na história, acrescentando muitos flashbacks desnecessários e discursos politicamente corretos que parecem forçados. Mas o roteiro nos entrega conflitos internos no grupo formados pelo inexperiente jovem que entra na jogada para provar seu valor, a responsabilidade de Duck e o tratamento quase obsessivo de Simon sobre o sua grande reportagem, que está muito mais além que uma simples entrevista exclusiva com o criminoso.

A Caçada seria um excelente filme se mantivesse apenas seu foco na caçada em si e no humor negro que ela produz. Incluindo também mais das críticas mordazes às instituições que dizem caçar criminosos nas regiões de guerras. Mas o sentimentalismo acaba com o clima as vezes.

(Voltar ao cinema do centro só em último caso!)

Nota: 7,5


Rafael Sanzio

sábado, 4 de outubro de 2008

Homem de Ferro – DVD

Até a chegada de Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), Homem de Ferro era o melhor filme de super-herói do ano. Mas não pelos efeitos especiais, mas única e exclusivamente por causa de seu protagonista.

Tony Stark não é um garoto inseguro como Peter Paker, muito menos pretende ser um mártir como faz Bruce Wayne, ele é simplesmente um escroto. Ele quer os holofotes. Capitão Nascimento o definiria como um fanfarrão e Tony não discordaria.

O bilionário comanda as indústrias Stark, famosas por desenvolverem armas de guerra. Ele não se interessa para quem são destinadas as armas, apenas desfruta da fama e do dinheiro que elas proporcionam. Seu descaso é evidenciado na cena aonde brinda à paz, momentos depois de ter mostrado ao exército uma arma devastadora que pode acabar com centenas de vidas em um instante.

Porém, seu mundinho é abalado quando o comboio militar onde estava é atacado por uma célula terrorista, seqüestrado, com estilhaços perigosamente perto de seu coração, Stark vê com os próprios olhos que armas de sua indústria estão no covil dos terroristas. Obrigado a construir uma arma para seus seqüestradores, Stark resolve construir algo muito maior, uma armadura que o auxilia na fuga. A partir daí o bilionário deixa de ser uma mera marionete do dinheiro, ele pretende agora corrigir seus erros e não mais deixará que suas indústrias financiem paralelamente essas organizações terroristas.

O filme é sustentado principalmente pelo carisma de Robert Downey Jr. Assistir a interpretação confortável do ator como o magnata cínico Tony Stark já vale o preço da locação do filme. Interpretação essa que deu o retorno de Robert Downey Jr às graças de Hollywood. No elenco também há a presença de Gwyneth Paltrow como a secretária do bilionário, Terrence Howard como o coronel Rhodes amigo de Tony e futuro “piloto” do Máquina de Combate e Jeff Bridges como Obadiah Stane.

O enredo possui um caráter humanista. Geralmente filmes do gênero escolhem uma proposição existencialista, abordando o tema como o medo, o embate entre LUZ x TREVAS ou as dúvidas do protagonista se quer mesmo ser um super-herói. Homem de Ferro pontua com mais esse diferencial, deixando que sua história critique as indústrias bélicas dos EUA que ao proteger o país acaba fornecendo armas também para seus inimigos.

Os efeitos especiais estão ótimos e o visual das três fases da armadura do Homem de Ferro ficaram muito realistas, proposta inicial do diretor John Fraveau. Mas nem tudo são flores, Homem de Ferro sofre do que chamo da “Síndrome da Batalha Final” aonde os heróis precisam retirar, ou perder suas máscaras revelando suas identidades. É o que sempre acontece com Homem Aranha ou com o Motoqueiro Fantasma, com Demolidor etc. Talvez isso envolva o ego dos atores envolvidos ou o roteirista ou diretor acha que fica mais dramático ver as expressões no rosto do herói. Mas Batman não precisou disso, precisou?

É injusto comparar Homem de Ferro com Batman – O Cavaleiro das Trevas, dizendo que esse último foi bem melhor. Homem de Ferro é o início da franquia, portanto precisou de 50% do filme para mostrar a origem, as motivações do herói. Enquanto o segundo Batman pôde se concentrar numa história mais densa, longe da história de “começo da jornada”.

Com um final digno de Tony Stark, Homem de Ferro mostra que sua seqüência poderá ser um páreo duro ao segundo filme do morcegão da DC. E quem sabe Tony Stark terá novamente os holofotes sobre ele. Com certeza ele iria adorar. Um brinde à paz!

Nota: 8,5

Rafael Sanzio

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Abbas Kiarostami: Curtas Metragens

O diretor iraniano Abbas Kiarostami “faz um cinema pós-revolucionário que buscou raízes em uma estética neorealista, trabalhando com atores não-profissionais, crianças e locações naturais, exalando auto-reflexão sobre dilemas humanos sem contudo explicá-los” (Francesca Azzi, on-line).

Novamente tive oportunidade de assistir mais curtas (Obrigado Torquato!). Kiarostami já demonstrava em seus curtas o interesse no neorealismo, em todos os quatros curtas há a presença de crianças. Mas ao final de cada película aparece o nome de uma entidade que busca o desenvolvimento da criança e do adolescente, talvez seja o motivo pelo qual esses curtas possuírem um teor bem didático para os jovens. São eles: O Pão e o Beco (1970); O Recreio (1972); Duas soluções para um problema (1975) e O Coro (1982).

O Pão e o Beco apresenta a história de um garoto que caminha alegre levando o pão para a casa. A música acompanha a alegria até o menino chegar nessa viela onde se encontra um cão que late imediatamente contra ele, é engraçado ouvir a música “brochar” diante da paz que foi perturbada. O garoto então fica no dilema de como passar por aquele local, a princípio fica com medo de enfrentar o problema. Ele poderia muito bem pegar outro caminho, mas não o faz. Chega um momento que ele decide passar pelo cachorro, mas este vai atrás dele, rapidamente o menino joga um pedaço de pão e o cachorro come, ficando amigo rapidamente e seguindo o garoto pelo trajeto até em casa. Chegando dentro de casa o menino espertamente deixa o cachorro do lado de fora, este que fica triste e deita em frente da casa. Passa algum tempo e eis que surge outro garoto carregando comida para casa e o cão late, terminando o curta. É interessante a mensagem de que se pode passar pelos problemas alimentando ou agradando o obstáculo para depois deixá-lo para trás. Pela posição do cachorro no final deu a entender que aquilo deve ter acontecido mais de uma vez. Não é à toa que o cachorro estava com raiva. Mas assim que eu terminei de digitar isso, pensei em outra leitura. De como o cachorro pode ser esperto e conseguir assim seu alimento do dia. Latindo para jovens desavisados que para escaparem jogam um pedaço de comida e assim o cachorro sempre está de barriga cheia. Que cachorro malandro...

O Recreio já começa com o jovem Dara de castigo. Um texto e uma voz em off narra o que aconteceu com o menino, de castigo por quebrar uma vidraça. O plano que mostra o garoto a princípio não dá para ver a janela quebrada, mas quando a imagem fica mais perto pode ver o rosto do menino pelo buraco do vidro. Quando este vai apanhar por ter feito isso, Abbas decide então desfocalizar o garoto e deixar a atenção na janela quebrada. Reafirmando que o motivo do castigo é aquela janela quebrada. Em seguida o menino sai do colégio na hora da saída e se mete em uma confusão com um garoto e o curta mostra a partir daí o percurso gigantesco que o menino faz para escapar de seu agressor. Não consegui ler muita coisa nesse curta. É como dizem sobre as obras de Kiarostami “filmes onde tudo e nada acontece”.

O Recreio (1972)

Duas soluções para um problema (1975) é o que apresenta mais explicitamente o teor didático da escola e de ensinamento moral para quem assiste. O personagem Dara está de volta nesse curta. O narrador da história é bem didático, apresentando Dara e seu amigo. Logo mostra o que aconteceu num dia na aula, Dara entrega o caderno que pegou emprestado do amigo, só que o caderno está rasgado. Então é apresentado para nós a primeira solução: o amigo vai até Dara e rasga seu caderno. Logo Dara quebra o lápis do amigo e assim por diante. No final estão os dois brigando no chão da sala. Como um bom professor, influenciado pelo ambiente escolar, lista no quadro o que foi destruído por Dara e pelo amigo, concluindo com feridas para os dois e o fim da amizade. Em seguida repete-se o acontecido e é mostrado a segunda solução. O amigo de Dara vai até ele e mostra o que ele fez com o caderno, Dara então cola a parte rasgada e os dois continuam amigos. Bem didático não?

O Coro (1982) é o muito interessante. O enredo segue o cotidiano de um velho que tem problemas de audição e usa um aparelho que o faz escutar. Os sons desse curta são bem nítidos e logo percebemos como a cidade em que o velho vive é barulhenta. Por isso imaginei que o coro estivesse relacionado com o coro da cidade. Com um ambiente tão barulhento, homens conversando alto por causa dos trabalhadores de rua martelando ferro entre outras coisas, o velho usa seu aparelho como "cano de escape", retira-o para viver em paz e o silêncio impera no curta nos momentos que o protagonista escolhe viver em paz consigo mesmo. Engraçado imaginar que atualmente as pessoas usam o mesmo sistema para relaxar ou se ver livre do mundo, mas esse relaxamento vem com mais barulho! Graças aos ipods e mp3 (4,5,6). Ainda acompanhamos o senhor caminhando pela cidade até chegar em casa, que por sinal, na rua perto está um homem usando uma britadeira. Em casa para relaxar o velho retira mais uma vez o aparelho, nota-se a luz na casa nesse momento, dando uma aparência quase divina com a paz que reina agora que não existem mais sons. O problema é que suas netas voltam da escola, passando pelo homem da britadeira e outros conversando (o que me faz crer que é um aviso de onde a surdez poderia ter começado no velho), mas como o avô delas está sem aparelho, não escuta as meninas. E logo começa o coro das netas para que o avô abra a porta. E a cada cena vai aumentando a quantidade de crianças, ajudando as garotas. Até que chega o momento que dezenas de criancinhas estão gritando para o avô que ouve mesmo sem aparelho. Ele coloca o aparelho, vai até a janela e sorri. Mais uma lição para os jovens: “unidos, vocês podem ser ouvidos”.

Ótimos curtas. Agora é hora de ir atrás de filmes clássicos que ainda não assisti!


Rafael Sanzio

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira - Recomendo!


Quem ainda não assistiu corra para o cinema mais próximo! Não só para prestigiar o trabalho do diretor brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus), mas para conferir um excepcional filme.

Ensaio sobre a Cegueira (Blindness, 2008) é o filme adaptado da obra literária de mesmo nome do autor português José Saramago. A trama envolve uma misteriosa epidemia de cegueira branca, fazendo com que os infectados sejam colocados dentro de um antigo sanatório.

O ditado “Em terra de cego quem tem um olho é rei” é questionado nessa história, a personagem de Julianne Moore é a única que pode enxergar. Mas ao invés de se sentir aliviada, cada vez mais se sente condenada a ser a única a ver a imundice que todos começam a se sujeitar e viver. Em uma cena ela ameaça contar para todos que pode enxergar, nesse ponto eu não pude deixar de fazer uma ponte a outro filme, Dogville (2003). Fiquei um tanto quanto preocupado em ver mais uma vez uma protagonista torna-se escrava de pessoas que teoricamente ajudava. Mas ainda bem que o filme não segue, mais ou menos, por esse caminho.

A cegueira branca para mim pode ter caráter divino, como um teste aos valores humanos. Posso estar arriscando ser maniqueísta demais, embora ajam situações que comprovem minha opinião. Como a diferença existente entre as alas principais do local de confinamento, de um lado a Ala 1, clara e iluminada (mesmo que digam que seja por causa da personagem que enxerga, mas o contraste é óbvio) ainda com resquícios de moral. Enquanto a Ala 3, dominada por um cínico personagem de Gael Garcia Bernal, perdera toda moral humana esta queda nos conceitos é representada com a ambientação escura que a mulher do médico (Moore) evidência em uma das seqüências mais “sujas”.

Ainda na questão da cegueira, Meirelles brinca um pouco nas imagens. Em uma das cenas de sexo, que começa com carícias e beijos, ela fica completamente branca, participamos da cegueira dos personagens. E por um momento achamos que aquela não é uma cena de sexo, mas de amor, por causa da imagem branca e suave. Mas corta a cena novamente para o sexo sujo e agressivo, tirando-os rapidamente do conceito suave de antes. O diretor mostra que ali dentro a suavidade está cada vez mais distante e que os instintos prevalecem.

Após o confinamento o grande motivo para a cegueira é mostrado, a meu ver, sutilmente. Sob o comando da mulher do médico, o pequeno grupo tenta sobreviver ao caos que se espalhou no mundo, surge então a solidariedade em um grupo de estranhos, uns ajudando aos outros. A cegueira começa a fazer parte da vida deles, de cada um. Não pretendo dizer se a epidemia é controlada ou não, mas após chegar a um nível de relacionamento solidário, causa até medo para alguns que todos voltem a enxergar, pois fica a dúvida se a humanidade aprendera a sua lição.

Ensaio sobre a Cegueira mostra os limites físicos e mentais do ser humano quando perde algo que sustentava seu conforto. É preciso “ver” para entender as questões que o filme aborda. Um ótimo trabalho de Fernando Meirelles.

Nota: 9,5

Rafael Sanzio