terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Curtas - Metragens de Jorge Furtado: Parte 2



ILHA DAS FLORES (1989)


O início do filme mostrando o planeta terra ao som da música do programa “Voz do Brasil”, indica que ele irá abordar o nosso país, contudo, “este documentário resumirá bem em 12 minutos a realidade do planeta”, como diria Matheus Andrade.


Ilha das Flores, a princípio, parece um documentário educacional bem humorado. Furtado mostra mais uma vez a influência obtida nos filmes do grupo Monty Python. O dinamismo na montagem, uso de sons (como gritos ao colocar bandeirolas no cérebro ou o som da moto ao falar o nome do japonês Suziki) e de animações de uma forma irreverente e não usual.


O filme revela-se como uma denúncia, tanto para a situação do local/título como também na seqüência aonde explica o que é um mamífero, ser humano e no final acaba mostrando fotos de judeus durante a 2º Guerra Mundial. Um lembrete do que são seres humanos.


Ao final Furtado mostra a realidade de várias famílias brasileiras (e do mundo por tabela) que comem os restos de comida que os porcos rejeitam. Com seu estilo de montar o documentário, não de forma linear, mas interligando todas as peças e fazendo comparações, o diretor faz com que o público sinta-se parte desse processo de degradação humana. O que não deixa de ser verdade, mas que tentamos ignorar.


Não posso finalizar sem deixar os parabéns para a narração de Paulo José e a montagem de Giba Assis Brasil.



ESTA NÃO É A SUA VIDA (1991)


Este curta-metragem faz uma crítica ao nosso interesse apenas pela televisão, não a vida comum. A seqüência da rua faz referências a notícias de televisão, que na época poderia ser de nosso interesse, mas mesmo que não fosse, nossa atenção estaria voltada para a TV. Enquanto isso mostra pessoas comuns nas ruas da cidade.


O filme fala ainda da segurança que nós temos com o anonimato, pesquisas feitas pela televisão, onde somos apenas números. Além disso, indica que a televisão nunca irá saber quem você é se for uma pessoa comum, sem histórias mirabolantes para contar. A miséria apresentada na TV nos faz crer que não é nossa vida, ao menos nos convencemos disso.


O documentário é sobre uma pessoa comum, escolhida “ao acaso”, conta-se a história de vida de Noeli. Uma história bastante comum, a ponto de não prender tanto a atenção por muito tempo. Mas a verdadeira questão está na ousadia de apresentar a vida de uma pessoa, dita pelos padrões midiáticos, comum.


Ao final do filme mostra a foto da protagonista junto com dezenas de outras fotos, de pessoas anônimas, comuns, com outras histórias de vida. Esta não é sua vida... ou é?



A MATADEIRA (1994)


Jorge Furtado provou que consegue prender nossa atenção, sempre com humor ou o jeito de contar uma história. Todos os episódios descritos em A Matadeira estão descritos em “Os Sertões” de Euclides da Cunha e no poema “A Grande Máquina” de Kurt Vonnegut Jr. O curta conta a história de Canudos, com uma excelente interpretação de Pedro Cardoso, que passeia por vários personagens e estar muito bem a vontade no filme.


As cenas em canudos parecem um grande palco. Furtado usa a luz vermelha para representar a violência da batalha, usa também imagens de crianças mortas na atualidade, fazendo referência ao estrago de outras matadeiras.


Associado a atuação de um jovem Pedro Cardoso, A Matadeira dá uma aula de história sem ser chata.



VEJA BEM (1994)


Veja bem, esse curta é um tanto quanto complicado de interpretar a primeira vista. São usados dois poemas, para o lado de fora: “Jornal de Serviço” de Carlos Drumond de Andrade e para o lado de dentro “Os três Mal-Amados” de João Cabral de Melo Neto.


O que eu consegui “ler” é que a primeira parte representa o mundo todo e suas várias camadas de significados e co-relações. Como os vários tipos de doenças de um ser humano, o que compõe uma cidade, os serviços que são oferecidos em um jornal.


Quando a 2ª parte, Lado de Dentro, representa o interior do ser humano. Pode-se perceber com o uso da imagem do relógio e as repetições de imagens que o diretor que passar a idéia de rotina. Agora, são três imagens de trabalhadores, o que pode representar a rotina em que são obrigados a ter para sobreviver, perdendo assim o direito a uma identidade ou todas aquelas coisas que o poema diz que o amor “comeu”.


Sinceramente não estou feliz com essa interpretação e espero que alguém tenha visto algo melhor que eu. Alguém se habilita a dar uma opinião?


Rafael Sanzio

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Curtas - Metragens de Jorge Furtado: Parte 1


Nascido em Porto Alegre em 9 de junho de 1959, Jorge Furtado foi diretor e roteirista de vários curtas-metragens premiados no Brasil e no exterior, como O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986), Barbosa (1988), Ilha das Flores (1989), Esta Não é a Sua Vida (1991), Ângelo Anda Sumido (1997) e O Sanduíche (2000). Roteirista e diretor do episódio Estrada do longa-metragem Felicidade É... (1995). Também os longas Houve uma Vez Dois Verões e O Homem que Copiava (ambos de 2002).

Para a TV Globo, Jorge Furtado foi roteirista de programas como Dóris para Maiores, Programa Legal, A Vida ao Vivo Show e Brava Gente. Para a série Brasil Especial, adaptou doze clássicos da literatura brasileira, entre eles O Alienista, O Coronel e o Lobisomen, Lisbela e o Prisioneiro, O Homem que Falava Javanês, Suburbano Coração e Memórias de um Sargento de Milícias. Escreveu as minisséries Agosto, Memorial de Maria Moura, A Invenção do Brasil e Luna Caliente, que inclusive dirigiu. Também foi um dos idealizadores da série A Comédia da Vida Privada, da qual dirigiu o episódio Anchietanos em 1997. (Fonte: Site Casa de Cinema)

Meu professor, Matheus Andrade, conseguiu para mim uma coletânea com os curtas feitos por Jorge Furtado. No DVD há os seguintes filmes: Temporal (1984); O dia em que Dorival encarou a guarda (1986); Barbosa (1988); Ilha das Flores (1989); Esta não é a sua vida (1991); A Matadeira (1994); Veja Bem (1994); Estrada (1995); Ângelo anda sumido (1997); O Sanduíche (2000); Oscar Boz (2004). Ao longo de três ou quatro postagens irei abordar as temáticas e evidenciar certas questões que os curtas criam.



TEMPORAL (1984)


O primeiro deles demonstra logo no início a influência que Jorge Furtado teve de Monty Python (Grupo de atores britânicos com um humor crítico e non-sense, fizeram pérolas como Em Busca do Cálice Sagrado e O Sentido da Vida) , com os créditos iniciais e finais com uma animação que mistura quadrinhos e imagens que tem seus significados críticos.


O curta é baseado em uma história de Luis Fernando Veríssimo, um pai de família é membro de uma igreja secreta, ele organiza uma reunião da igreja em sua casa, mas coincide com uma festa a fantasia que suas filhas organizaram. Para completar, um temporal começa durante a noite e inevitavelmente faz com que esses dois grupos se encontrem.


É interessante os dois grupos, de um lado os membros da igreja secreta que pregam ser os remanescentes da civilização, em contrapartida há os jovens da festa que muito oportunamente estão fantasiados de animais, a antítese da civilização. Mas a oposição não está apenas nas fantasias, nos ideais também, luxúria, drogas lícitas e ilícitas, homossexualismo, lesbianismo estão representados nos jovens da festa. Quando há o confronto dessas duas alas a violência são de ambos os lados, apesar de que os membros da igreja secreta não darem o primeiro passo. Podemos até pensar em fazer uma analogia, esse grupo secreto que é minoria na história tenta impor seus ideais a sociedade como um todo, mas essa sociedade representada pelos jovens da festa é incontrolável, tem uma variedade de ideais que finalmente se revoltam contra esses controladores. No final o temporal providencia o fim dessa luta. Não podemos achar que isso seria uma comparação com a ditadura? De um lado os militares e do outro a população?


Desde o começo de sua carreira, Jorge Furtado apresenta uma qualidade de direção que impressiona.




O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA (1986)


Um dos melhores curtas-metragens de Jorge Furtado. A interpretação do ator João Acaiabe imprimi uma força a Dorival que realmente era necessária para dar crédito a trama e aos feitos do personagem. Além de ser mais uma analogia a ditadura brasileira ou qualquer sistema militar.


A história se passa numa prisão militar onde Dorival está preso, o personagem está a dez dias sem tomar banho e pede a um praça (soldado mais raso que existe) para tomar banho. Ao escutar a primeira recusa, o protagonista do curta começa sua revolução oral que vai importunar toda camada hierárquica da prisão.


O primeiro ponto, um pouco de mau-gosto, mas era a visão do guarda, são as imagens colocadas de King Kong nos rompantes de fúria de Dorival. Essa mistura de ficção com realidade é mostrada também na seqüência do cabo que lê um gibi. A princípio, não entendemos o porquê de um cowboy no meio da história, depois mostra-se que estávamos dentro do ideal do cabo da prisão, que lia a história em quadrinhos de TEX, obviamente crendo ser o mocinho que está livrando a terra dos índios selvagens.


Durante a trama aproveita-se para criticar os soldados que só sabem receber ordens, sem ao menos saber exatamente quais são. Marionetes que não tem vontade própria para abrir qualquer exceção. Em um dos momentos, corta a imagem de Dorival e vai para outra cena com o povo com a bandeira com a palavra “revolução” e é isso que ele representa naquela cela. Ao final descobrimos que realmente os soldados são bonecos que seguem ordens mesmo que elas não existem, simplesmente pelo fato de terem medo de questionar as ordens.


E de um jeito ou de outro, Dorival consegue seu banho.



BARBOSA (1988)


Um curta que fala sobre a tão famosa derrota da seleção brasileira contra o Uruguai na copa de 50. Onde todos os brasileiros estavam confiantes na vitória e que marcou a vida de tantas pessoas.


O filme pode ser encarado como um documentário a princípio, mas somos apresentados ao personagem de Antonio Fagundes. O protagonista é obcecado pela derrota de 50, principalmente por causa do goleiro da seleção Barbosa. É então que levamos um soco ao ver que o curta é mais ficcional que imaginamos, o homem havia feito uma máquina do tempo e tentaria mudar o destino da seleção e do Brasil.


Barbosa mistura uma linguagem de ficção e documentário, apesar de que a proposta do filme era mesmo evidenciar o goleiro e como ele se sente e o que sofreu por causa daquele gol e derrota.


E como não poderia deixar de ser, o protagonista do filme aprende a dura lição dos viajantes do tempo: Não se pode mudar o passado, não aquele que você queria e que lhe motivou a criação da máquina, pois se não existir aquele evento nunca criaria a máquina e não estaria ali. Ou seja, de uma maneira ou de outra vai acontecer o que você não queria.


Essa história de linha do tempo e espaço é bem complicada, não?



Rafael Sanzio

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Madagascar 2


A seqüência de um filme sempre é mal vista por todos em termos de qualidade, os produtores sempre erram em algum detalhe ou erram totalmente na mão. A Era do Gelo 2 conseguiu a proeza de manter o nível de suas piadas, mas os vilões deixaram a desejar. Já Shrek 2 aumentou o estilo aventuresco e com um bom vilão a tira-colo. Infelizmente, Madagascar 2 não consegue pisar no freio a tempo e exagera nas piadas sexuais e non-senses, tornando a animação muito adulta para meu gosto.


O quarteto do primeiro filme já está de partida de Madagascar, mas o avião que eles estão cai em algum ponto da África, lá, Alex encontra a sua família e a animação envolve a aceitação do leão no grupo. Um dos muitos pontos negativos do roteiro são as sub-tramas dos coadjuvantes, essas histórias paralelas não tem força o suficiente para darem algum tipo de lição e chegam até ser constrangedoras no caso da trama de Glória. Além disso, o grande trunfo de Madagascar era a adaptação e diferença existente dos animais de Nova York com os naturais, mas nesse segundo filme isso se perde.


Outro exemplo de erro dessa seqüência é a importância que deram a certos personagens que apenas dão certo quando tem uma participação mínima no filme. Exemplo do esquilo da Era do Gelo 1 e 2, apesar da grande veia cômica dele, os diretores sabiamente deixaram o esquilo no seu lugar, com pequenas aparições durante o longa. Mas em Madagascar 2 eles cometem o erro de aumentar a participação da velhinha que espanca o leão no primeiro filme e, sinceramente, ela perdeu toda a graça. E há uma visível imitação do lêmure Mort com o esquilo Scrat (Era do Gelo). Mas não se preocupem, os pingüins continuam os mesmos psicóticos.


O destaque continua para Alex e Rei Julian, são deles os momentos mais engraçados da trama. Como o leão e seu lenço “fufi” e Rei Julian com seu jeitão louco de sempre. Madagascar 2 continua com o seu espírito maluco e divertido, mas vocês devem perceber o aumento das piadas sexuais, antes elas eram subliminares agora passaram a ser explícitas. Outro ponto negativo é o exagero na violência, totalmente desnecessária ou esticada demais a briga de Alex e a velhinha! Ele bate numa velhinha!



Visualmente a animação não perdeu em nenhum ponto, seu grande erro está no roteiro. Não houve a divisão correta de conflitos, se ao menos esses conflitos fossem interessantes. Apenas os pingüins escapam desse erro. Portanto, a qualidade de Madagascar 2 é como o avião do filme, caiu drasticamente.



Nota: 6,5



Rafael Sanzio

domingo, 7 de dezembro de 2008

Promessas de um Cara de Pau


Promessas de um Cara de Pau (Swing Vote 2008) fez sua estréia no cinema aqui no Brasil, pelo que eu me lembre, quando a disputa pela Casa Branca entre Mcain e Obama já havia começado. O filme passeia pelo sistema eleitoral americano, aproveitando a temática para criticar seus políticos e os próprios votantes descompromissados.

Bud (Kevin Costner) é o estereotipado homem americano, gosta de beber, ouvir música country, curte NASCAR e é burro feito uma porta. Sua filha Molly, projeto de Juno com auto teor de dever cívico, sempre cuida do pai e nessa campanha eleitoral tenta alertá-lo ao seu dever como eleitor. O conflito se dá quando Bud, bêbado, não consegue chegar ao local de votação e sua filha resolve votar por ele, mas um problema técnico faz com que o voto dela não seja computado. E, numa rara ocasião onde a eleição está empatada, um único voto literalmente contará para que seja decidido quem será o Presidente dos Estados Unidos.

O que vemos depois é a crítica ao jogo político, marketeiros manipulando seus candidatos, fazendo com que eles esqueçam suas próprias plataformas para conseguir vencer. Vemos republicanos tornando-se protetores ambientais e democratas fazendo campanha contra o aborto. Tudo porque imaginam estar captando a mesma opinião de Bud. Único votante este que demonstra ser altamente influenciável, sempre pendendo de um lado para outro, enquanto sua filha começa a se desesperar pelo destino dos EUA.


A personagem Molly pode até parecer muito inteligente, mais que o pai, mas ela acaba por fazer o mesmo papel que os marketeiros políticos, tentando controlar o pai para que tome as decisões “certas” e não se demonstre tão descompromissado com a eleição. Mas existe uma pequena pista que demonstra que Bud nem sempre foi assim, logo no começo do filme, onde Molly prepara o café da manhã, lá está a caneca com a frase “Melhor Pai do Mundo”. Além dessa cena, uma que parece clichê, é a seqüência na qual Bud pensa estar diante do serviço social e uma única frase proferida por ele é carregada de emoção, mostrando que lá no fundo ele não é só beber, cair e levantar.

Alguns acreditariam mais em um final mais crítico e cruel, eu também não acreditei muito naquele rompante de sagacidade de um "Bud da vida" só para dar aquela lição de moral, mas Promessas de um Cara de Pau consegue em seu desenvolvimento criticar seu próprio país, alertar para o que pode estar se tornando as campanhas eleitorais sem precisar aplicar um duro golpe no público. No fim, o importante é o que se aprendeu com as lições durante o filme, saber quem venceu não é tão importante.


Nota: 8


Rafael Sanzio

domingo, 30 de novembro de 2008

A Máquina


A Máquina (2006) é uma adaptação do livro homônimo de Adriana Falcão, somos levados à pequena Nordestina, uma cidadezinha perdida no sertão. Ela tem as características de uma cidade do interior do nordeste, pessoas trabalhadoras, religiosas, mas principalmente pessoas que sonham numa vida fora do sertão. É o que fica evidenciado pela van da cidade, sempre sai lotada e sempre volta vazia. Antônio (Gustavo Falcão) é um jovem apaixonado por Karina (Mariana Ximenes), ele vive para realizar todos os sonhos da garota, que deseja sair de Nordestina para ser uma atriz, na verdade, Karina quer mesmo é conhecer o mundo. O conflito surge quando esse sonho está prestes a se realizar, então Antônio, para não perder o seu amor, decide trazer o mundo para ela, o que trás grandes conseqüências para a pequena Nordestina.


O filme é uma deliciosa viagem na imaginação e de um texto rico de originalidade. Ele mesmo tem um “o quê” de experimental, com a cidade de Nordestina feita todo em estúdio e também com a fotografia nos momentos em que “A Máquina” vai fazer o seu show. Creio que essa escolha da Nordestina ser feita em estúdio e não em locações reais, tenha sido feita por causa da temática que o filme tem envolvendo os elementos da cultura midiática. Em contrapartida, existe uma forte presença teatral no filme, tanto nas atuações como na própria luz que incide e que sai, forçando um confronto com a presença importante da televisão na trama.



Eu não sou especialista em sotaques, portanto, não posso dizer se o filme pecou na atuação. Mas é de praxe existir um sotaque forçado quando os atores não são da região. Mas os atores dão um show de carisma e diversão pelo trabalho que fazem. Paulo Autran é um exemplo de narrador carismático e que prende a atenção, diferente da narração monótona de Carlos Vereza em Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008).


Quanto aos elementos midiáticos brasileiros no filme, aponto para a presença da TV sensacionalista que no filme é representado pelo programa do apresentador de TV (Wagner Moura). O filme critica essa banalização da vida, onde a desgraçada dos outros significa o aumento da audiência. Tanto, que na seqüência onde Antônio tenta convencer o público que está falando a verdade, o ibope aumenta quando ele começa a se emocionar, contudo, os picos máximos provêm do momento em que o personagem começa a descrever detalhadamente como será sua morte caso não consiga viajar no tempo. A globalização está presente no filme, para trazer o mundo até Karina, Antônio trás a televisão com ele, a mídia.


O filme pode parecer estranho no começo ou forçar em alguns momentos da trama, como Mariana Ximenes cantando (talvez resquícios dos filmes da Xuxa que Diler Trindade produziu), mas o conjunto da obra é algo que não poderia ser deixado de lado, deve ser conferido e apreciado!



Nota: 8,5



Rafael Sanzio

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Sonho de Cassandra

Faz um bom tempo que Woody Allen deixou para trás o favoritismo de Nova York para as locações de seus filmes, além de que ele vez ou outra produz um filme diferente das suas usuais produções cômicas. Como em Ponto Final - Match Point (2005), que aborda um tema mais denso de suspense, traições e assassinato. O Sonho de Cassandra (Cassandra's Dream, 2007) é o terceiro longa rodado em Londres e é um suspense dramático.

Ewan McGregor e Colin Farrel interpretam dois irmãos que passam por um momento da vida onde precisam de dinheiro para resolver seus problemas. O rico tio Howard (Tom Wilkinson), aparece para uma visita à irmã e, de uma salvação milagrosa, ele passa a ser o pivô de uma seqüência trágica de acontecimentos. Como em Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto (2008), veremos como tudo pode dar errado num plano “infalível”.

É interessante analisar a diferença entre os dois irmãos. Ian (Ewan McGregor) está sempre pedindo carros emprestados da oficina do irmão, nós percebemos como ele é aproveitador e ganancioso. Enquanto isso, Terry (Colin Farrel) é um rapaz humilde que infelizmente é viciado em jogos. Quando a trama se desenvolve, percebemos o quanto Ian manipula o irmão e este sofre com sua consciência pesada por ter feito o servicinho para o Tio Howard. Há detalhes a acrescentar para a personalidade dos dois irmãos, como as definições dos pais para cada, colocando Ian como o cérebro dos dois. E no filme vemos que cérebro não é sinônimo de boa índole. Tanto que os motivos que levam Terry a aceitar a proposta do tio são completamente diferentes dos motivos de Ian, que ao meu ver, não precisariam de uma decisão tão drástica.

A Interpretação de Colin Farrel se destaca, nos deixa angustiados também, esperando ansiosamente pelo final do filme. O filme começa um pouco devagar, deixando seu grande trunfo para o suspense que impera da metade do filme para o final.


O Sonho de Cassandra tem início na compra do barco que fora batizado com o título do filme, nome este que era do cachorro de corrida que proporcionou o dinheiro para a compra do barco. E poeticamente o filme termina com o barco também, o local onde a união e a discórdia entre dois irmãos selaram seu destino.

O problema do filme é que sua proposição fala sobre escolhas certas e erradas. E o filme peca ao construir um desfecho, além de óbvio, incoerente por ter terminado não por uma escolha (certa ou errada), mas por uma finalização que foi deixada nas mãos do puro acaso. Um final que deixa muito a desejar.


Nota: 8


Rafael Sanzio

sábado, 22 de novembro de 2008

The Rolling Stones - Shine a Light: DVD


The Rolling Stones - Shine a Light (2008) não deve ser considerado um documentário e sim um show com escassas informações. Além disso, é a comprovação da tietagem de Scrosese pela banda inglesa. O filme é só para fãs e explico o por quê.


Eu gosto das musicas do Rolling Stones, mas não sou fã incondicional, o filme seria válido para mim pelas informações obtidas durante o “documentário”. O mesmo começa com os bastidores dos preparativos do show no Beacon Theater. Para mim, a edição desses preparativos me deram um ar de artificialidade, Scorsese demonstra as dificuldades de comunicação entre sua produção e a banda inglesa. Mas tudo soa como algo interpretado para dar aquele ar de rebeldia de uma banda de rock.


Para quem esperava um documentário decente, você se vê diante de um show dos Rolling Stones e algumas cenas antigas da banda e casos que aconteceram. Uma delas sendo a prisão de Keith Richards, mas a falha é que não se aprofunda o fato, como aconteceu, por quê, com certeza os fãs da banda sabem os motivos, mas nós não.


Eu assisti ao DVD original brasileiro e este comete o pecado de não ter legendas durante as músicas. Alguns diriam “aprenda inglês”, mas tente entender o que eles cantam se os cantores praticamente resmungam e arfam para conseguir cantar. Além do mais, fiquei sem saber se as letras dariam alguma informação adicional condizente com as partes documentais do filme.



Os momentos mais interessantes são os com Keith Richards, Scrosese coloca entrevistas durante os momentos que o guitarrista canta "You Got the Silver" e "Connection". Essa dinâmica não acontece nas musicas de Mick Jagger, por que? Porque Keith é mais legal. Creio que ele não se importou de ter na edição outras imagens intercaladas durante sua performance no show.


O que temos que admitir é que os velhinhos tem energia. Mas o filme em si não acrescenta muita coisa para nossos arquivos da banda, é um show e um show só para fãs.


Nota: 7

Provável nota dos fãs (e com gritinhos ao fundo): 10



Rafael Sanzio

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

007 - Quantum of Solace

Possuindo a marca de melhor abertura entre as séries de James Bond, 007 – Quantum of Solace (2008) mantém a essência de Cassino Royale, um Bond mais violento, bruto, sem tempo para dar explicações aos chefes.

O novo filme é uma continuação direta de Cassino Royale, tanto que temos a impressão que estamos vendo o “meio’ de um filme, muita ação e sem perder o ritmo. James Bond (Daniel Craig) está atrás de vingança, procura pelos responsáveis pela morte de Vesper Lynd (Eva Green). No caminho une forças com Camille (Olga Kurylenko), para derrotar Dominic Greene (Mathieu Amalric), homem que faz parte de uma misteriosa organização que possui braços poderosos em todos os lugares do mundo.

Acho interessante falar sobre as comparações entre o novo James Bond e Jason Bourne. É evidente o fato de que a nova onda dos agentes violentos deve-se aos filmes do agente Bourne. Contudo, 007 mantêm o fôlego enquanto o terceiro longa de Bourne diminuiu a qualidade e peca em ainda tentar se manter com o enredo “lembrei de mais uma coisa!”. Além de que o pakour de 007 é bem melhor que o do agente desmemoriado.

Sobre o filme, tem muitas cenas de ação, destaque para as duas primeiras que deixam sem fôlego. Sai a questão do pedido da bebida (que afinal, ele não está com cabeça para isso), volta os créditos iniciais com silhuetas de mulheres. O roteiro é aquela história de vilão com plano maligno e tal. Há também o infeliz enredo que diz: “quem anda com James Bond corre sempre perigo” e por causa disso testemunhamos a morte óbvia de um personagem interessante da trama.


Dedico uma parte dessa crítica para analisar se teremos outro vilão marcante como Jaws (aquele dos dentes metálicos) ou aquele cientista que tinha um gato branco. Le Chiffre (Mads Mikkelsen) de Cassino Royale contribuiu com sua forte presença e cicatriz. Nesse novo filme temos um baixinho e mirrado vilão junto com um caricato ditador boliviano. Eu entendo que pode ter sido proposital, a mente diabólica partir de alguém aparentemente inofensivo, mas escutar Mathieu Amalric dar gritinhos enquanto tentava lutar com 007 foi bem constrangedor.

Para ter um total aproveitamento do vigésimo segundo filme da série 007 você precisa assistir o 21°. Agora vou esperar o terceiro filme do agente com Daniel Craig para ver se realmente mudaram o personagem ou James Bond vai voltar a ter suas frases de efeito, frivolidades e quem sabe conhecer os cientistas que lhe darão novas e intrigantes engenhocas mortais. Eu estou gostando desse novo Bond e cá entre nós, ele dá uma surra nesse tal de Jason Bourne...


Nota: 8


Rafael Sanzio

domingo, 16 de novembro de 2008

Romance


Como é dirigido por Guel Arraes (Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro) fui assistir ao filme Romance (2008) achando que veria mais uma comédia do diretor. Contudo, logo nas primeiras cenas, percebemos a densidade do tema abordado que é o amor entre os dois personagens principais da trama.


A história gira em torno do amor de Pedro e Ana, um casal que se apaixonou no teatro durante os ensaios da peça Tristão e Isolda. O conflito se dá quando Ana consegue um papel na novela das 7 e logo tenta conciliar o teatro com a televisão. Pedro não consegue dividi-la com a televisão, já que possui igual amor pelo teatro. O casal se separa para se reunir três anos depois, com Pedro como diretor de um especial de TV, onde Ana é a atriz principal, em uma adaptação da história de Tristão e Isolda para o nordeste brasileiro.


O longa serve também para mostrar o embate entre o teatro e a televisão. Tanto que a escolha de São Paulo e Rio de Janeiro foram porque o primeiro é um grande produtor e consumidor de teatro e o segundo há um foco maior de TV.


Depois dessa primeira parte do filme que choca quem esperava uma comédia, começam a surgir os toques de humor na trama graças a Andréa Beltrão, Vladimir Brichta e outras participações especiais. Mas não estou condenando o teor do filme por não ser uma comédia, o diretor Guel Arraes agiu bem em não entrar em um estereótipo apesar de deixar sua eterna marca com as gravações no sertão da Paraíba.



A atuação de Wagner Moura e Letícia Sabatella está convincente, ao representarem atores numa peça de teatro e atores da vida real, a vida imita a arte e a arte imita a vida. O filme passa essa idéia, somos protagonistas de nossas próprias tragédias, romances impossíveis e por aí vai. O ator Wagner Moura deve ter adorado encenar várias peças teatrais num mesmo filme.


Romance é ótimo, vale ressaltar apenas que não se explica a formação do triângulo amoroso, não é convincente a paixão arrebatadora que surge entre Ana e Orlando (Vladimir Brichta). Fora isso, devo apenas avisar que você não vai ver mais um Lisbela e o Prisioneiro e sim um romance, eu devia ter desconfiado quando vi o título, não é mesmo?



Nota: 9


Rafael Sanzio

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Umberto D.


O Neo-realismo italiano tem como principais preceitos: utilização de atores não-profissionais, filmagens fora de estúdio, temas cotidianos e, principalmente, um enfoque humanista. Humberto D. (1951) é um trabalho do diretor Vittorio De Sica, participante ativo do movimento neo-realista, com outros filmes como Milagre em Milão (1950) e o aclamado Ladrões de Bicicleta (1948).


O filme é mais uma obra da parceria entre o roteirista Cesare Zavattini e Vittorio De Sica. Umberto D. surgiu pelo interesse de Zavattini em escrever uma história sobre um idoso de mesmo nome. O interessante é que o nome do pai do diretor é Umberto De Sica. Espero que esta homenagem seja apenas no nome, pois a história é um tanto quanto melancólica.


Acompanhamos a velhice do protagonista de nome Umberto que tenta sobreviver com uma aposentadoria muito baixa, segundo ele. A vida desse senhor é agüentar a senhoria que tenta expulsá-lo do seu quarto, enquanto ele busca formas de arranjar dinheiro para evitar isso. Mesmo com problemas financeiros, o velho insiste em cuidar de seu cachorro de nome Flike.


Logo é perceptível para nós que o protagonista não é simpático, o que deveria ser para facilitar o apreço do público para com ele. Mas não, Umberto é um velho chato que só é agradável com aqueles que o ajudam, além de ser orgulhoso, no que demonstra na seqüência aonde é incapaz de pedir esmola, mesmo precisando.


Vittorio De Sica falou que o importante no filme é o drama da inabilidade do homem de se comunicar com seus iguais. A sociedade, hostil a ele, e a humanidade, que o despreza, são representados no filme pela dona da pensão onde ele vive há anos. Ainda segundo o diretor, o filme fala sobre o egoísmo, aonde a dona da pensão tenta expulsar Umberto para fazer a reforma e assim melhorar sua vida. Isso é bem característico dos tempos atuais, o capitalismo exigindo a individualidade do ser humano, que deve esquecer os outros e buscar apenas o melhoramento pessoal. Sobre a inabilidade de comunicação, temos exemplos disso nas seqüências que Umberto tenta a ajuda de seus velhos conhecidos e acaba escutando várias desculpas ou testemunha fugas estratégicas.



Mas o próprio Umberto participa dessa inabilidade, na cena que Maria (empregada da dona da pensão), sofre pela terrível situação que se encontra, grávida e sem um pai para assumir o filho, o velho Umberto tem a insensibilidade de ameaçá-la e brigar com ela por ela ter perdido o cachorro dele. A garota está com um problema bem maior, a meu ver, e nosso protagonista preocupado com o cachorro. Realmente o animal tem o significado sentimental para ele, mas Umberto também é incapaz de se colocar no lugar de Maria.


Quanto as interpretações, fica aquela preocupação por ser um filme neo-realista. Contudo, apenas a atriz que faz Maria deixa a desejar, mas mesmo assim o carisma dela põe de lado essa questão. Há também pequenos erros de continuidade no filme e que não irão me convencer que são propositais, a exemplo da seqüência do restaurante popular, o segundo prato some por mágica ou o velho ao lado de Umberto que come (ou melhor engole) a comida em poucos segundos.


O filme desenrola sua trama até o final que todos esperam por causa de tanta desgraça que acontece. Mas acaba ao que parece em um final alegre, mas só para aqueles que são otimistas, pois os problemas não acabaram, o dinheiro é pouco e Umberto ficou sem um lugar para morar, quanto tempo irá levar para que ele fique novamente numa linha de trem?



Nota: 9,5


Rafael Sanzio

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Agente 86


Steve Carell usa da “seriedade” para praticar o humor. Seus personagens são tão convictos de suas ações ou ideais que é engraçado vê-los encarar situações absurdas ou vergonhosas com a mesma expressão de que tudo está normal ou sob controle.

Agente 86 (Get Smart, 2008) é uma versão moderna da série da década de 60 do mesmo nome. Maxwell Smart (Steve Carell) é analista de sistemas da agência CONTROLE. Sai a temática da Guerra Fria e entra a questão do terrorismo personalizado pela KAOS, agência de espiões que é arquiinimiga da CONTROLE. A história envolve a primeira missão de Maxwell como agente de campo, após a sede de sua agência ser atacada, todos os espiões da CONTROLE tem suas identidades reveladas. É aí que Maxwell tem sua chance de se tornar um agente e forma parceria com a sensual agente 99.

O filme consegue restituir a personalidade da série clássica. Steve Carell dá sua contribuição ao protagonista, dando seu toque “Carelliano”. O filme também segue as linhas dos filmes do ator, colocando seqüências de humor físico ao estilo da depilação de O Virgem de 40 anos (2005) e as marteladas no dedo de A Volta do Todo-Poderoso (2007).

Quanto as interpretações, Anne Hathaway está deliciosa como a Agente 99 (acho que essa definição não está tão longe da verdade), seu jeito sensual e durona ao mesmo tempo dá uma personalidade forte à personagem. Alan Arkin divertiu-se interpretando o Chefe, tanto que muitas vezes você o vê com um sorriso no rosto em momentos um tanto quanto sérios. Agora a dupla de inventores Bruce e Lloyd não é tão engraçada quanto gostariam de ser, contudo, ganharam um filme só deles.


O roteiro tem suas sacadas e distribui uma quantidade de críticas a algumas instituições e personalidades. A mais óbvia é a figura do presidente dos Estados Unidos, claramente feita à imagem do atual presidente. As cenas de ação durante o filme são boas, com coreografias de luta bem aplicadas. O filme deixa apenas à desejar nos efeitos especiais e na seqüência de ação final.

Agente 86 é uma sátira aos filmes de espionagem, mas com direito ao humor do novo ícone da comédia, Steve Carell. O DVD do filme ainda se sobressai com os erros de gravação e cenas deletadas. Algumas extremamente hilárias.


Nota: 7,5


Rafael Sanzio

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Caminhos Perigosos


Caminhos Perigosos (Mean Streets, 1973) é um filme de Martin Scorsese que proporciona o primeiro encontro do diretor com o ator Robert DeNiro. Para Scorsese, o principal objetivo do filme era retratar com perfeição o cotidiano das pessoas que viviam na Little Italy em Nova York, local esse onde o próprio diretor viveu boa parte de sua vida.


Harvey Keitel interpreta Charlie, um jovem que segue a trilha para se tornar um chefe da máfia local, contudo, ele tem grande influência religiosa e se vê na obrigação de praticar penitências a si mesmo. Sua penitência se chama Johnny Boy (DeNiro), um malandro que vive em dívidas e Charlie coloca na cabeça que pode ajudar Johnny a sair dessa vida sem responsabilidades.


Scorsese consegue retratar com perfeição o clima da Little Italy, deve ter ajudado bastante o fato de ele próprio ter morado por muito tempo naquela região e boa parte das confusões serem baseadas em algumas que ele e seus amigos se intrometeram. Além de começar o filme com imagens caseiras, dando mais uma pequena deixa da sensação familiar que o diretor tem sobre o filme.



Os caminhos perigosos referentes do título em português, deve-se mais ao fato da escolha de Charlie em seguir no caminho de tentar ajudar o irrecuperável Johnny e se envolver com a prima do amigo do que pelo próprio fato de querer ser um chefe da máfia. E o caminho passa a ficar mais perigoso quando Johnny começa a tentar mostrar para Charlie que ele não vai conseguir salvá-lo.


Não é o melhor trabalho de Martin Scorsese, mas pode ser visto com um interesse por ser um dos primeiros trabalhos do diretor e sua força em retratar com fidelidade as “mean streets” de Nova York. Não há lugar para bons samaritanos naquelas ruas...


Nota: 7,5


Rafael Sanzio

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Críticos, críticos e críticos

Para mim há três tipos de críticos de cinema. Àqueles que escrevem as críticas para outros críticos, aqueles que escrevem as críticas para os leitores em geral e aqueles que escrevem o que realmente acharam do filme. Desde a criação deste blog, eu tinha essa discussão na minha mente, pois me pergunto em qual dos três me encaixo.

O primeiro tipo de crítico é aquele que escreve com um pedantismo irritante e desnecessário a meu ver. É óbvio que ele não escreve uma crítica só para julgar um filme, mas escreve para demonstrar para outros críticos como foi capaz de encontrar erros num filme aparentemente bom ou se julga senhor da verdade, já que possui o poder de destruir um filme. Um exemplo estereotipado, mas não longe da realidade, de um crítico como esse é o personagem do filme Oito e Meio (1963) de Federico Fellini.

Devo dizer que realmente tenho medo de me tornar um crítico como esse, eu o julgo arrogante por usar termos técnicos demais, mas eu estou no começo do aprendizado para me tornar um crítico cinematográfico. Será que ao concluir minha formação poderei vir a ser essa criatura que tanto critico?

Admito que o segundo tipo era meu objetivo inicial. Acreditava que o verdadeiro crítico de cinema tinha como dever servir a população em indicar os filmes que ela gostaria de ver. Não importava se o crítico em si gostou ou não do filme, sua crítica deveria direcionar-se mais para o público, tentando extrair e analisar que tipos de pessoas iriam gostar do filme. Mas com o tempo vim a perceber que este não é o crítico ideal. Suas críticas não seriam “puras” não estaria expondo suas idéias, seu pensamento individual. Eu não quero trabalhar sempre usando expressões como “é um filme pipoca”, que tipo de profundidade tem isso? Deve existir mais respeito para as produções cinematográficas, a crítica deve ser muito mais que meia dúzia de frases de efeito.

É assim que chegamos ao terceiro tipo. Aquele crítico que diz o que achou do filme realmente. Não tenta ir como a maioria, mesmo que o filme tenha sido um sucesso de crítica, se ele não tiver gostado ele não esconde isso. O mesmo vale para filmes massacrados por críticos, se ele gostou então lá está ele elogiando o filme sem medo de arranhar sua reputação. A crítica para esse tipo não é um meio para ficar famoso entre seus pares ou não é um simples emprego que deve ser mantido. A crítica para ele vem do coração e da vontade de ser útil para as outras pessoas.

Portanto, há algo para ser captado nesse texto. Isso vale para todos os tipos de críticos, literários, cinematográficos, teatrais etc. Temos (me desculpem a falta de modéstia, mas já estou me incluindo na categoria) o poder de enaltecer ou destruir carreiras. É perigoso nas mãos daqueles que se deixam levar por tal poder. A crítica deve ser feita com naturalidade, sem pressões externas ou por motivações pessoais duvidosas. É preciso que entendamos que nossas críticas não são verdades absolutas, são nossas opiniões, cabe apenas ao povo decidir se concordam ou não. Cada um tem sua própria opinião. No final das contas somos apenas ferramentas para evitar que os outros percam tempo assistindo produções horríveis que aparecem no circuito cultural.

Rafael Sanzio