sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Curtas - Metragens de Jorge Furtado: Parte 1


Nascido em Porto Alegre em 9 de junho de 1959, Jorge Furtado foi diretor e roteirista de vários curtas-metragens premiados no Brasil e no exterior, como O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986), Barbosa (1988), Ilha das Flores (1989), Esta Não é a Sua Vida (1991), Ângelo Anda Sumido (1997) e O Sanduíche (2000). Roteirista e diretor do episódio Estrada do longa-metragem Felicidade É... (1995). Também os longas Houve uma Vez Dois Verões e O Homem que Copiava (ambos de 2002).

Para a TV Globo, Jorge Furtado foi roteirista de programas como Dóris para Maiores, Programa Legal, A Vida ao Vivo Show e Brava Gente. Para a série Brasil Especial, adaptou doze clássicos da literatura brasileira, entre eles O Alienista, O Coronel e o Lobisomen, Lisbela e o Prisioneiro, O Homem que Falava Javanês, Suburbano Coração e Memórias de um Sargento de Milícias. Escreveu as minisséries Agosto, Memorial de Maria Moura, A Invenção do Brasil e Luna Caliente, que inclusive dirigiu. Também foi um dos idealizadores da série A Comédia da Vida Privada, da qual dirigiu o episódio Anchietanos em 1997. (Fonte: Site Casa de Cinema)

Meu professor, Matheus Andrade, conseguiu para mim uma coletânea com os curtas feitos por Jorge Furtado. No DVD há os seguintes filmes: Temporal (1984); O dia em que Dorival encarou a guarda (1986); Barbosa (1988); Ilha das Flores (1989); Esta não é a sua vida (1991); A Matadeira (1994); Veja Bem (1994); Estrada (1995); Ângelo anda sumido (1997); O Sanduíche (2000); Oscar Boz (2004). Ao longo de três ou quatro postagens irei abordar as temáticas e evidenciar certas questões que os curtas criam.



TEMPORAL (1984)


O primeiro deles demonstra logo no início a influência que Jorge Furtado teve de Monty Python (Grupo de atores britânicos com um humor crítico e non-sense, fizeram pérolas como Em Busca do Cálice Sagrado e O Sentido da Vida) , com os créditos iniciais e finais com uma animação que mistura quadrinhos e imagens que tem seus significados críticos.


O curta é baseado em uma história de Luis Fernando Veríssimo, um pai de família é membro de uma igreja secreta, ele organiza uma reunião da igreja em sua casa, mas coincide com uma festa a fantasia que suas filhas organizaram. Para completar, um temporal começa durante a noite e inevitavelmente faz com que esses dois grupos se encontrem.


É interessante os dois grupos, de um lado os membros da igreja secreta que pregam ser os remanescentes da civilização, em contrapartida há os jovens da festa que muito oportunamente estão fantasiados de animais, a antítese da civilização. Mas a oposição não está apenas nas fantasias, nos ideais também, luxúria, drogas lícitas e ilícitas, homossexualismo, lesbianismo estão representados nos jovens da festa. Quando há o confronto dessas duas alas a violência são de ambos os lados, apesar de que os membros da igreja secreta não darem o primeiro passo. Podemos até pensar em fazer uma analogia, esse grupo secreto que é minoria na história tenta impor seus ideais a sociedade como um todo, mas essa sociedade representada pelos jovens da festa é incontrolável, tem uma variedade de ideais que finalmente se revoltam contra esses controladores. No final o temporal providencia o fim dessa luta. Não podemos achar que isso seria uma comparação com a ditadura? De um lado os militares e do outro a população?


Desde o começo de sua carreira, Jorge Furtado apresenta uma qualidade de direção que impressiona.




O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA (1986)


Um dos melhores curtas-metragens de Jorge Furtado. A interpretação do ator João Acaiabe imprimi uma força a Dorival que realmente era necessária para dar crédito a trama e aos feitos do personagem. Além de ser mais uma analogia a ditadura brasileira ou qualquer sistema militar.


A história se passa numa prisão militar onde Dorival está preso, o personagem está a dez dias sem tomar banho e pede a um praça (soldado mais raso que existe) para tomar banho. Ao escutar a primeira recusa, o protagonista do curta começa sua revolução oral que vai importunar toda camada hierárquica da prisão.


O primeiro ponto, um pouco de mau-gosto, mas era a visão do guarda, são as imagens colocadas de King Kong nos rompantes de fúria de Dorival. Essa mistura de ficção com realidade é mostrada também na seqüência do cabo que lê um gibi. A princípio, não entendemos o porquê de um cowboy no meio da história, depois mostra-se que estávamos dentro do ideal do cabo da prisão, que lia a história em quadrinhos de TEX, obviamente crendo ser o mocinho que está livrando a terra dos índios selvagens.


Durante a trama aproveita-se para criticar os soldados que só sabem receber ordens, sem ao menos saber exatamente quais são. Marionetes que não tem vontade própria para abrir qualquer exceção. Em um dos momentos, corta a imagem de Dorival e vai para outra cena com o povo com a bandeira com a palavra “revolução” e é isso que ele representa naquela cela. Ao final descobrimos que realmente os soldados são bonecos que seguem ordens mesmo que elas não existem, simplesmente pelo fato de terem medo de questionar as ordens.


E de um jeito ou de outro, Dorival consegue seu banho.



BARBOSA (1988)


Um curta que fala sobre a tão famosa derrota da seleção brasileira contra o Uruguai na copa de 50. Onde todos os brasileiros estavam confiantes na vitória e que marcou a vida de tantas pessoas.


O filme pode ser encarado como um documentário a princípio, mas somos apresentados ao personagem de Antonio Fagundes. O protagonista é obcecado pela derrota de 50, principalmente por causa do goleiro da seleção Barbosa. É então que levamos um soco ao ver que o curta é mais ficcional que imaginamos, o homem havia feito uma máquina do tempo e tentaria mudar o destino da seleção e do Brasil.


Barbosa mistura uma linguagem de ficção e documentário, apesar de que a proposta do filme era mesmo evidenciar o goleiro e como ele se sente e o que sofreu por causa daquele gol e derrota.


E como não poderia deixar de ser, o protagonista do filme aprende a dura lição dos viajantes do tempo: Não se pode mudar o passado, não aquele que você queria e que lhe motivou a criação da máquina, pois se não existir aquele evento nunca criaria a máquina e não estaria ali. Ou seja, de uma maneira ou de outra vai acontecer o que você não queria.


Essa história de linha do tempo e espaço é bem complicada, não?



Rafael Sanzio

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