terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Curtas - Metragens de Jorge Furtado: Parte 2



ILHA DAS FLORES (1989)


O início do filme mostrando o planeta terra ao som da música do programa “Voz do Brasil”, indica que ele irá abordar o nosso país, contudo, “este documentário resumirá bem em 12 minutos a realidade do planeta”, como diria Matheus Andrade.


Ilha das Flores, a princípio, parece um documentário educacional bem humorado. Furtado mostra mais uma vez a influência obtida nos filmes do grupo Monty Python. O dinamismo na montagem, uso de sons (como gritos ao colocar bandeirolas no cérebro ou o som da moto ao falar o nome do japonês Suziki) e de animações de uma forma irreverente e não usual.


O filme revela-se como uma denúncia, tanto para a situação do local/título como também na seqüência aonde explica o que é um mamífero, ser humano e no final acaba mostrando fotos de judeus durante a 2º Guerra Mundial. Um lembrete do que são seres humanos.


Ao final Furtado mostra a realidade de várias famílias brasileiras (e do mundo por tabela) que comem os restos de comida que os porcos rejeitam. Com seu estilo de montar o documentário, não de forma linear, mas interligando todas as peças e fazendo comparações, o diretor faz com que o público sinta-se parte desse processo de degradação humana. O que não deixa de ser verdade, mas que tentamos ignorar.


Não posso finalizar sem deixar os parabéns para a narração de Paulo José e a montagem de Giba Assis Brasil.



ESTA NÃO É A SUA VIDA (1991)


Este curta-metragem faz uma crítica ao nosso interesse apenas pela televisão, não a vida comum. A seqüência da rua faz referências a notícias de televisão, que na época poderia ser de nosso interesse, mas mesmo que não fosse, nossa atenção estaria voltada para a TV. Enquanto isso mostra pessoas comuns nas ruas da cidade.


O filme fala ainda da segurança que nós temos com o anonimato, pesquisas feitas pela televisão, onde somos apenas números. Além disso, indica que a televisão nunca irá saber quem você é se for uma pessoa comum, sem histórias mirabolantes para contar. A miséria apresentada na TV nos faz crer que não é nossa vida, ao menos nos convencemos disso.


O documentário é sobre uma pessoa comum, escolhida “ao acaso”, conta-se a história de vida de Noeli. Uma história bastante comum, a ponto de não prender tanto a atenção por muito tempo. Mas a verdadeira questão está na ousadia de apresentar a vida de uma pessoa, dita pelos padrões midiáticos, comum.


Ao final do filme mostra a foto da protagonista junto com dezenas de outras fotos, de pessoas anônimas, comuns, com outras histórias de vida. Esta não é sua vida... ou é?



A MATADEIRA (1994)


Jorge Furtado provou que consegue prender nossa atenção, sempre com humor ou o jeito de contar uma história. Todos os episódios descritos em A Matadeira estão descritos em “Os Sertões” de Euclides da Cunha e no poema “A Grande Máquina” de Kurt Vonnegut Jr. O curta conta a história de Canudos, com uma excelente interpretação de Pedro Cardoso, que passeia por vários personagens e estar muito bem a vontade no filme.


As cenas em canudos parecem um grande palco. Furtado usa a luz vermelha para representar a violência da batalha, usa também imagens de crianças mortas na atualidade, fazendo referência ao estrago de outras matadeiras.


Associado a atuação de um jovem Pedro Cardoso, A Matadeira dá uma aula de história sem ser chata.



VEJA BEM (1994)


Veja bem, esse curta é um tanto quanto complicado de interpretar a primeira vista. São usados dois poemas, para o lado de fora: “Jornal de Serviço” de Carlos Drumond de Andrade e para o lado de dentro “Os três Mal-Amados” de João Cabral de Melo Neto.


O que eu consegui “ler” é que a primeira parte representa o mundo todo e suas várias camadas de significados e co-relações. Como os vários tipos de doenças de um ser humano, o que compõe uma cidade, os serviços que são oferecidos em um jornal.


Quando a 2ª parte, Lado de Dentro, representa o interior do ser humano. Pode-se perceber com o uso da imagem do relógio e as repetições de imagens que o diretor que passar a idéia de rotina. Agora, são três imagens de trabalhadores, o que pode representar a rotina em que são obrigados a ter para sobreviver, perdendo assim o direito a uma identidade ou todas aquelas coisas que o poema diz que o amor “comeu”.


Sinceramente não estou feliz com essa interpretação e espero que alguém tenha visto algo melhor que eu. Alguém se habilita a dar uma opinião?


Rafael Sanzio

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