terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Curtas - Metragens de Jorge Furtado Parte Final

Após o longo período de festividades, estou de volta e decidido a terminar a análise dos Curtas de Jorge Furtado (Já estou com saudades de fazer uma boa crítica de um longa-metragem). Feliz ano novo para todos!


ESTRADA (1995)


Com Pedro Cardoso e Déborah Bloch no elenco, o curta Estrada (sem o artigo “a” ao menos no título do filme em si) acompanha dois casais nos preparativos e na própria viagem à um recanto onde todos vão ter seus ideais de felicidade e harmonia.


O início do filme é utilizado para que possamos nos identificar com os personagens, para termos um pouco de apreço por eles e ficarmos angustiados com as cenas posteriores.


É nítida também a diferença no arco de histórias destes felizes personagens com o outro arco solo do trabalhador mal humorado, nada feliz, que recheia suas falas com palavrões. A primeira passagem de um arco para o outro é bem interessante, enquanto a mulher coloca uma peça delicada no carro, corta a cena para o outro arco da história, uma enorme carga pesada sendo colocada no caminhão do personagem infeliz.


Depois disso, é construído toda uma seqüência para deduzirmos o final do curta. Coincidência ou destino? Sorte ou providência divina? Furtado apenas exagera na demora para que esses dois arcos de história se encontrem, chega um momento que não estamos mais angustiados e sim entediados.


Além dessa construção, o personagem de Pedro Cardoso reforça o desfecho trágico ao desdenhar do destino. No final das contas, o filme tenta conduzir o público ao erro. Uma prática que se repete no curta “O Sanduíche”. A manipulação do diretor sobre o que quer mostrar e o que pode nos levar a acreditar.



ÂNGELO ANDA SUMIDO (1997)


Ângelo anda sumido é um interessante curta-metragem, apesar da fraca atuação do protagonista. A história mostra o encontro e desencontros de dois amigos, mas isso serve apenas de pretexto para elucidar as problemáticas da sociedade e a falta de contato entre estas pessoas.


Uma das características marcantes do curta são as pessoas trancafiadas nas próprias casas, com medo da violência ou até mesmo de se comunicar com os outros. Há uma seqüência onde uma senhora joga o lixo ma rua pela janela de seu apartamento, tudo para não ter que sair de casa. Além disso, há a grande odisséia do protagonista para conseguir chegar ao apartamento do amigo, passando por várias grades, portas, cadeados. Ao caminhar por um corredor, é vigiado por olhares acusatórios de vários moradores, estes que o observam através de janelinhas nas portas.


O personagem principal analisa sua própria condição para escapar ou agradar as pessoas. Se auto analisando, ter todos os dentes, ser branco e boas roupas são pontos positivos para ter ao menos um julgamento decente de outras pessoas para com ele.


Tecnicamente Furtado acrescente imagens de mapas da cidade quando os personagens mencionam localidades ou buscam as mesmas.


Ao final, percebemos que as pessoas passam tempo demais em seus pequenos mundinhos, tanto que não reconhecem mais o mundo maior e real. Por isso Ângelo desaparece e por isso que o protagonista também se perde nesse mundo, que apenas é caótico e sombrio pelo próprio medo que sentimos de enfrentá-lo.



O SANDUÍCHE (2000)


Uma grande encenação. Encena-se uma história dentro de uma história dentro de outra história que não passava de um exercício para contar uma história.


Furtado brinca com a prática de enganar ou (para escolher uma palavra menos polêmica) “levar” o público a conclusões erradas. O curta é um grande jogo aonde você tenta adivinhar ou perceber qual a história real.


Não pude deixar de remeter essa temática ao fato da mídia manipuladora de fatos e histórias. Apesar de que aqui esse tema é mais suave. E não contente, Furtado ainda demonstra no desfecho que sobrou um pouco de encenação para mostrar que você não tinha descoberto tudo. Tudo é manipulação da verdade (como diriam os paranóicos).



OSCAR BOZ (2004)


Último curta da coletânea, Oscar Boz é um documentário sobre um senhor que fazia filmes em Caxias do Sul e no Litoral Gaúcho em 1951 e 57. A equipe de Furtado mostra para essa figura carismática como é fácil fazer os efeitos que na época Oscar produzia. Aumentar a velocidade de uma cena, fazer pessoas aparecerem e desaparecerem.


Mas uma das demonstrações (e que nos faz lembrar da briga entre o cinema mudo e a chegada do cinema falado) é o acréscimo de som e cor nas antigas filmagens de Oscar. Deixando-as mais emocionantes e atrativas.

O velho e o novo do cinema tendo a oportunidade de se encontrar. E a despeito da qualidade de um filme mudo com um falado, é inegável que em boas mãos o que era apenas imagens em preto e branco, podem torna-se em uma mensagem não apenas nostálgica, mas de vida e amor.



Rafael Sanzio

Um comentário:

Dra Fernanda Pina disse...

Oi Rafael..
assisti esses tempos um curta muito bom ,no estilo de Ilha das Flores.Ele fazia uma crítica às redes de comunicação e retomava "polegares opositores e telencéfalo altamente desenvolvido".Acredito que seja do Jorge furtado,mas não estou o encontrando na internet e tbm não lembro do título.Vc sabe qual curta estou me referindo?
Obrigadão!
Fernanda - Curitiba/PR