quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Na Mira do Chefe


Quando Colin Farrell interpreta personagens sem escrúpulos ou valentões, logo perde-se o interesse pois não acrescenta-se nada de novo para nós. Mas quando escolhe interpretar um personagem cheio de angústias e dúvidas, Colin chama a atenção, como em O Sonho de Cassandra (2007) e neste filme.


Na Mira do Chefe (In Bruges, 2008) acompanha dois assassinos mandados para Bruges, na Bélgica, após um serviço em Londres. Presos naquela cidade desconhecida até a segunda ordem de seu chefe, Ken (Brendan Gleeson) vê a oportunidade de conhecer a cultura gótica e medieval do lugar, enquanto Ray (Colin Farrell) não vê a hora de sair daquele lugar tedioso e chato. Sem desconfiarem do terrível trabalho que deve ser feito em Bruges.


O diretor e roteirista Martin McDonagh (ganhador do Oscar pelo curta-metragem Six Shooter, 2006) criou o filme depois de uma visita a cidade de Bruges, o diretor ficou dividido, por um lado achava a cidade como um reduto da beleza medieval, mas por outro, depois de algumas horas, não agüentava o tédio que lhe acometeu. Dividiu essas duas perspectivas nos dois personagens centrais da trama. O relacionamento desses dois assassinos é o que dá algo especial ao filme, além dos diálogos de uma simplicidade admirável e convincente. Ken, assassino experiente, age como o pai da dupla, sempre ditando regras e tentando educar o companheiro. Já Ray, literalmente age como uma criança arredia, por vezes grosseiro, ou mesmo mimado em busca de atenção. A atuação segura de Brendan Gleeson e a forma como Colin Farrell transformou Ray num personagem digno de simpatia, mesmo agindo grosseiramente, cria uma cumplicidade verdadeira entre os dois parceiros, que com suas personalidades dificulta a definição de assassinos frios.



O filme pode ser considerado como a própria Bruges, existem momentos de reflexão e que nada acontece, apenas a introspecção dos personagens. Os amantes da ação realmente podem querer fugir desse filme rapidamente, mas o estilo suave de dirigir que a própria trama sugere por ser ambientada no momento de descanso após um trabalho, juntamente com os seus diálogos e rompantes de ação dão uma qualidade fora do comum para o longa. É bem melhor dosar a ação do que usá-la demasiadamente tornando-a corriqueira, é mais apreciável ser tomado de surpresa com uma ação inesperada ou autentica. E tecnicamente, quando McDonagh precisa demonstrar a crueza (ou brutalidade) das ações dos assassinos, os efeitos e as seqüências dirigidas por ele são muito bem elaboradas. A exemplo da seqüência da igreja, onde a câmera lentamente mostra a cruel conseqüência do ato de Ray.


Para aqueles que preferem um filme com muito mais ação, mas com o mesmo estilo de filme de criminosos, personagens cativantes e situações adversas bem humoradas, aconselho qualquer um do gênero com a direção de Guy Ritchie. Na Mira do Chefe, talvez rendendo-se aos apelos daqueles que não agüentam mais a cidade de Bruges, dá para suas cenas finais a ação esperada. Mas mesmo assim mantém a direção segura e delicada de McDonagh. Como a cidade, Na Mira do Chefe pode ser muito mais que apenas um passeio monótono, mas sim uma viagem recheada de diversões e surpresas.



Nota: 9



Rafael Sanzio

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