terça-feira, 21 de outubro de 2008

Antes que o Diabo saiba que Você está Morto

“Que você esteja no paraíso por meia hora... antes que o diabo saiba que você está morto”. Esta é a frase completa que leva o título do novo filme de Sidney Lumet, o filme segue a risca e nos proporciona poucos minutos para nos sentirmos bem antes de expor uma série de acontecimentos desastrosos na vida dos personagens.

A trama envolve dois irmãos, Andy e Hank. Ambos estão passando por uma crise financeira e resolvem assaltar a joalheria dos pais. Um plano fácil e limpo. Acontece que o assalto não sai como planejado e daí segue uma sucessão de tragédias que leva cada personagem da trama ao seu limite.

É interessante como o diretor resolveu contar a história, de forma basicamente linear, porém alternando o ponto de vista de cada personagem e a cada seqüência é acrescentado um pouco mais a história, mais uma peça vai se encaixando. O som utilizado para mudar de um ponto de vista para o outro tanto remete ao som do vidro da joalheria sendo quebrado como também a vida dos protagonistas sendo cada vez mais estilhaçada pelo destino cruel reservado para eles.

Mas além de ser um suspense bem movimentado, Antes que o Diabo Saiba que você está Morto (Before the devil knows you're dead, 2007) é um filme que retrata as relações inter-pessoais dos personagens mediante esse declínio catastrófico que a trama impõe neles. É realmente oportuno o uso dos ângulos das cenas entre o irmão inseguro Hank com o irmão centrado Andy. Lumet mostra a relação de superioridade que Andy tem sobre o irmão quando nas seqüências de Hank (Ethan Hawke) e Andy usa-se, quase sempre, o ângulo da câmera em contra-plongée (A câmera filma o objeto de baixo para cima), não é tão evidente como em Cidadão Kane (1941), mas nota-se que Hank sempre se sente inferior ao irmão.


Irmão esse interpretado magistralmente por Phillip Seymour Hoffman, a densidade do personagem Andy é triplicada graças a atuação de Hoffman. Analisar esse personagem alongaria absurdamente essa crítica, mas devo comentar dois momentos na trama, um técnico e um interpretativo que ilustram um pouco a gama de poder emocional que esse personagem detém.

O primeiro, técnico, é o momento no qual Andy vai se drogar. É então mostrado o que é o paraíso para este personagem. A mudança drástica de visual, do ambiente da sala, para o quarto aonde ele vai se drogar é nítido. Um ambiente mais claro, aconchegante, branco. O paraíso de Andy aonde pode estar com o mundo desabando, mas ali ele tem sua meia hora de paz.

O segundo momento precisa de uma explicação sobre ele. Andy é um contador, ele gosta de cálculos e gosta de ter tudo organizado com resultados práticos e certos. Em uma seqüência que ele deveria explodir de raiva e destruir tudo em volta, ele faz isso, mas na maior calma, organizado, metódico. É incrível observar estarrecido o controle (ou a falta) emocional que Andy possui enquanto tem seu momento de “explosão” de raiva (ele perde o controle apenas na seqüência do carro, mas assim que percebe o descontrole emocional retoma a racionalidade quase que instantaneamente).

O final do filme deixa em aberto o desfecho de alguns personagens, mas o mais importante é a conclusão triste que tiramos ao terminar com um dos personagens caminhar por um corredor e sumir de vista sob a luz forte, caracterizando que ele agora estava no paraíso:

O paraíso de uns, significa o inferno de outros.

Nota: 9

Rafael Sanzio

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